2.5.23

Líderes abolicionistas

Na década de 1880 ocorreu o que ficou denominado como movimento abolicionista, que almejava o final da escravidão, o que ocorreu com a Lei Áurea, de 1888. Este movimento, que foi o primeiro movimento de massas da história brasileira, se espalhou por diversos grupos sociais e se materializou por meio da fundação de associações, clubes, jornais que defendiam a causa, além, é claro, do protagonismo dos escravizados por meio de fugas, revoltas e formação de quilombos. Neste processo, destacaram-se alguns líderes negros e este texto é para apresentar três deles. 

Luís Gama (1830-82), nascido livre na Bahia, era o filho de um fidalgo português e da africana Luísa Mahin. Foi vendido como escravo pelo próprio pai, tendo sido embarcado primeiro para o Rio de Janeiro, em seguida para São Paulo. Depois de ter conseguido se alfabetizar, Gama reconquistou sua liberdade e, além de se tornar literato e jornalista brilhante, se fez rábula (atuava sem formação jurídica) para defender judicialmente escravizados que a ele recorriam com as mais diferentes contendas, inclusive aqueles interessados em reivindicar carta de alforria para si ou para os seus. 

Ele sustentava publicamente que a escravidão era um roubo, por estar assentada numa transação ilegal, já que o tráfico atlântico havia sido proibido em 1831. Sua ousada atuação nos tribunais e na imprensa, bem como a participação em sociedades abolicionistas, interferiu nos encaminhamentos da chamada “questão servil”. Gama foi incisivo, como poucos, na exposição do quanto escravidão e racismo se entrelaçavam na cultura brasileira. 

No decisivo ano de 1880 foi criada, na corte, a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, inspirada na British and Foreign Society for the Abolition of Slavery. Ali estiveram reunidos dois importantes abolicionistas negros: José Carlos do Patrocínio (1854-1905) e André Rebouças (1838-98). 

Mais conhecido como Zé do Pato, Patrocínio, filho da quitandeira Justina Maria do Espírito Santo e do padre João Carlos Monteiro, foi jornalista. Formado em farmácia, ele conquistou popularidade por conta de seus discursos inflamados tanto nas tribunas quanto nas praças. Por considerar a abolição imediata e sem pagamento de indenização a principal questão nacional, defendia que a população deveria deixar de se comportar como “cordeiro submisso” da classe política e realizar tais intentos a qualquer custo. Na opinião dele, para extinguir a escravidão, todos os meios seriam “lícitos e bons”, mesmo que escapassem dos limites da legalidade. 

André Rebouças era filho de Antônio Pereira Rebouças, homem negro que se tornou conselheiro do Império, e de Carolina Pinto Rebouças. Formado em engenharia, André defendia que a abolição deveria ser parte de uma grande reforma nacional capaz de assegurar melhores condições de vida para os libertos, o que incluiria a concessão de terras e educação para crianças e adultos. Na perspectiva dele, as feridas abertas pelo crime que era a escravidão só poderiam cicatrizar com a garantia de certos direitos aos egressos do cativeiro. 

Porém, o sonho de Rebouças não foi cumprido. A Lei Áurea largou os ex-escravizados à sua própria sorte, e a população negra buscou alternativas de se incluir nos novos tempos. 

Fonte: SCHWARCZ, Lília e GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e liberdade. Sao Paulo: Companhia das Letras, 2018.