8.8.25

Nazifascismos

 

No cerne desse aparente mistério existia uma visão de mundo (Weltanschaug) milenar, segundo a qual os judeus eram a fonte de todos os males – especialmente o internacionalismo, o pacifismo, a democracia e o marxismo – e ainda responsáveis pelo advento do cristianismo, do iluminismo e da maçonaria. Foram taxados de “agentes de decomposição” e “degeneração racial”. Foram identificados com a fragmentação da civilização urbana, com o ácido solvente do racionalismo crítico e com o relaxamento da moralidade. Estariam por trás do “cosmopolitismo desenraizado”, característico do capital internacional e da ameaça de uma revolução mundial. Em suma, os judeus eram o Weltfeind – “o inimigo do mundo”, contra o qual o nacional socialismo definia sua grandiosa utopia social, um Reich de mil anos.

Robert Wistrich. Hitler e o holocausto. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.13-14.

Nazifascismos

 

O holocausto constituiu um crime sem precedente contra a humanidade, visando o extermínio de toda a população judaica da europa, até o ultimo homem, até a última mulher, a última criança. Tratava-se de uma política definida, arquitetada, por parte de um Estado poderoso, o Reich nazista, que, com o proposito de destruir um povo, mobilizou todos os recursos disponíveis. Os judeus não foram condenados à morte por causa de crenças religiosas, nem de inclinações políticas. Tampouco configuravam uma ameaça econômica ou militar ao Estado nazista. Não foram mortos pelo que fizeram, mas pelo simples fato de existirem.

Nascer judeu, aos olhos de Adolf Hitler e do regime nazista significava, a priori, não pertencer ao gênero humano e, portanto, não ter direito a vida.

Robert Wistrich. Hitler e o holocausto. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.13-14.

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O Jovem Hitlerista Quex, de Hans Steinhoff, fez muito sucesso e conta a história de um jovem convertido ao nazismo, assassinado pelos comunistas quando panfleteava em bairros pobres de Berlim. O roteiro é bastante sugestivo: Quex é levado a um piquenique comunista, mas se assusta com a libertinagem [sexo livre, homossexualismo, bebida em excesso, drogas, sujeira e bagunça] do ambiente. O som da marcha militar, ao longe, o fascina. Em casa, ao repetir a música para a mãe, é surpreendido pelo pai, comunista, alcoólatra e mau caráter, que o obriga a cantar A Internacional [hino comunista], sob pancadas. Em dificuldade, Quex recebe a solidariedade dos companheiros nazistas que o protegem. Enquanto agoniza, Quex tem a visão de milhares de jovens hitleristas uniformizados.

O Eterno Judeu foi apresentado como um documentário educacional. Neste filme, os judeus raramente trabalham. Os judeus constituem uma raça de parasitas que se espalham pela face da Terra; como o judeu, o rato marrom, que também se espalhou pela Europa, aparece na tela um mapa e um fervilhante exército de ratos. Comentário em off do locutor: “São repelentes, covardes e se movimentam aos bandos”.

LENHARO, Alcir. Nazismo, o triunfo da vontade. São Paulo: Ática, 1986, p.56-58.

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O historiador alemão Gotz Aly afirma que Hitler conseguiu cooptar a população alemã não com seus discursos manipuladores ou com a defesa do ódio racial, mas oferecendo benefícios sem precedentes aos seus súditos mais pobres. Implacável contra os inimigos, mas grande benfeitor para seus seguidores – a versão do Hitler “boa praça” é o novo quadro que se tenta desenhar do ditador que comandou o III Reich.

Gotz Aly resume assim o objetivo de seu livro: Quero fazer uma pergunta simples que nunca foi realmente respondida: como pôde ter acontecido? Como os alemães permitiram e cometeram crimes de massa sem precedentes, particularmente o genocídio dos judeus europeus? Sua resposta é que isso aconteceu porque a grande maioria do povo alemão foi beneficiada pela matança e, por essa razão, permaneceu omissa aos crescentes horrores do regime de Hitler.

Arthur Felipe Artero. Hitler boa-praça. Aventuras na História. São Paulo: Abril, n.5, maio 2006.

Nazifascismos

 

O fascismo não crê, nem na possibilidade, nem na utilidade de uma paz perpétua. Só a guerra leva ao máximo de tensão todas as energias humanas e marca com um sinal de nobreza os povos que tem a coragem de afrontá-la.

Para nós, fascistas, a vida é um combate contínuo e incessante. O fascismo não é apenas legislador e fundador de instituições: é também educador. Deseja refazer o homem, o caráter, a fé. E, para atingir esse fim, exige uma autoridade e uma disciplina que penetrem nos espíritos e aí reinem completamente.

O princípio essencial da doutrina fascista é a concepção de Estado. Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado. O indivíduo está subordinado às necessidades do Estado e, à medida que a civilização assume formas cada vez mais complexas, a liberdade do individuo se restringe cada vez mais. Nós representamos um princípio novo no mundo, representamos a antítese nítida, categórica, definitiva da democracia, da plutocracia, da monarquia, em suma, de todo o mundo dos imortais princípios de 1789

(Benito Mussolini. O fascismo)

Nazifascismos

 

A ascensão da direita radical [fascismo italiano e nazismo alemão] após a Primeira Guerra Mundial foi sem dúvida uma resposta ao perigo, na verdade à realidade, da revolução social e do poder operário em geral, e à Revolução de Outubro e ao leninismo em particular. Sem esses não teria havido fascismo algum

Teria o fascismo se tornado muito significativo na História não fosse a Grande Depressão? É provável que não. Após a recuperação econômica de 1924, o Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialistas foi reduzido de 2,5 a 3,5% do eleitorado. Contudo, em 1928, havia subido para mais de 18% do eleitorado. Quatro anos depois, em 1932, era de longe o mais forte, com mais de 37% dos votos. Está claro que foi a Grande Depressão que transformou Hitler de um fenômeno da periferia politica no senhor potencial, e finalmente real, do país”.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.127, 132-133.