28.7.24

Imperialismo

O colonialismo exigia o máximo de coerção, tanto para recrutar a mão de obra local como para mantê-la nos locais de produção. Nos primeiros tempos da conquista europeia, por vezes o próprio capital privado encarregou-se da coerção e de fazer reinar a ordem, por meio das companhias coloniais dotadas de privilégios, cartas e concessões.


A obrigatoriedade do imposto per capita, a ser pago em dinheiro, fazia os africanos terem que, ou buscar trabalho remunerado, ou produzir culturas destinadas ao comércio. O não pagamento dos impostos trazia como punição a prestação de serviços públicos de forma forçada. Os salários eram mantidos em um nível extremamente baixo. Em geral, eram trabalhados por empreitadas ou por períodos sazonais. Em alguns lugares, a ausência de moedas fez com que esse imposto fosse pago em trabalho, nas minas, nas florestas e nas ferrovias.

A ação combinada de capital europeu e mão de obra africana trabalhando sob coação produziu consideráveis excedentes de produtos para o consumo europeu. Gêneros agrícolas e minerais foram exportados e os lucros enviados para a Europa.

A mão de obra era arranjada a expensas das economias aldeãs ou locais, outrora autônomas. Assim, desorganizou-se a economia agrícola tradicional, impondo um ritmo muito mais acelerado de trabalho, causando escassez de alimentos, fome e mortes. O caso mais assustador foi o do Congo Belga, atual República Democrática do Congo. Calcula-se uma população em 1885 de 25 milhões de habitantes. Em 1925, essa população era de 10 milhões.



Texto baseado no capítulo de: RODNEY, Walter. A economia colonial. In: UNESCO. História Geral da África. V. 7. São Paulo: Ática, 1991. (coordenador do volume: Albert Adu Boahen)

17.7.24

Imperialismo

Podemos elencar quatro justificativas ideológicas para o Imperialismo:

c) Racistas: existiam diferenças naturais entre as raças; era lógico que a superior (branca) dominasse a inferior (negra).

 

d) Social-darwinista: princípio da sobrevivência das espécies; dominação dos mais fracos (negros) pelos mais fortes (brancos) como uma lei da natureza; eliminação das sociedades mais fracas.

Imperialismo

Podemos elencar quatro justificativas ideológicas para o Imperialismo:

a) Filantropia: dominação para levar a civilização e eliminar os costumes bárbaros

 

O fardo do homem branco

b) Pragmático-utilitarista: dominação traria benefícios para a metrópole e para as populações sujeitas; necessidade de abertura de mercados e de conquista de fontes de matérias-primas;


“Assisti ontem a uma reunião de desempregados em Londres, e, depois de ter ouvido os discursos virulentos, que não eram nem mais nem menos do que um grito pedindo pão, voltei para casa, mais do que nunca convencido da importância do imperialismo [...] o que me preocupa, acima de tudo, é a solução do problema social. Quero dizer com isto que, se desejam salvar os 40 milhões de habitantes do Reino Unido de uma criminosa guerra civil, os responsáveis pela política colonial devem abrir novos territórios ao excedente da população e criar novos mercados para os produtos das minas e das fábricas. Sempre disse que o Império Britânico era uma questão de pão com manteiga. Se queremos evitar a guerra civil temos de ser imperialistas”. (Cecil Rhodes)

O fardo do homem branco

O poema “O fardo do Homem Branco” (The white man’s burden), do poeta britânico Rudyard Kipling, de 1899, é considerado um símbolo do imperialismo europeu do final do século XIX e mostra a visão que se tinha sobre o papel dos europeus e sobre os povos africanos. Leia alguns trechos do poema:

 

Tomai o fardo do Homem Branco

Envia teus melhores filhos

Vão, condenem teus filhos ao exílio

Para atender as necessidades de seus cativos;

Para servir, com pesados chicotes

O povo agitador e selvagem

Seus novos-cativos, povos agressivos,

Metade demônio, metade criança.

[...]  

Tomai o fardo do Homem Branco

As guerras selvagens pela paz –

Encha a boca dos famintos,

E proclama o fim das doenças

E quando seu objetivo estiver próximo

(O fim que todos procuram)

Olha a indolência e loucura pagã

Destruindo todas suas esperanças [...]


Imperialismo

A resistência ao invasor europeu se deu de duas formas:

 

Sei que os brancos querem me matar para tomar o meu país, e, ainda assim, você insiste em que eles me ajudarão a organizá-lo. Por mim, acho que meu país está muito bem como está. Não preciso deles. Sei o que falta e o que desejo: tenho meus próprios mercadores; considere-se feliz por não mandar cortar-lhe a cabeça. Parta agora mesmo e, principalmente, não volte nunca mais.

Declaração de Wogobo, o Moro Naba (rei dos Mossi) ao capitão Destenave, em 1895


Tal como em tempos anteriores, os soberanos puseram exércitos em campo para combater os invasores, que por acaso eram europeus e manter a paz por meios diplomáticos e comerciais. A isto chamou-se “resistência primária”. Foi bastante corrente em todas as regiões do continente ameaçado. A resistência primária era uma reação direta, face a face com os invasores.


Os inimigos vêm agora se apoderar de nosso país e mudar nossa religião [...] Nossos inimigos começaram a avançar abrindo caminho na terra como toupeiras. Com a ajuda de Deus, não lhes entregarei meu país [...] Hoje, que os fortes me emprestem sua força e os fracos me ajudem com suas orações

Menelik da Etiópia, ordem de mobilização contra a campanha dos italianos contra seu país em 1895.

 

Depois, podemos elencar formas de resistência secundária. Em alguns Estados, houve movimentos de preservação das tradições e de restauração do passado, como foram os casos da Etiópia e dos maji maji, no Quênia.

 

“Estou vendo como os brancos penetram cada vez mais na África; em todas as partes do meu país as companhias estão em ação (...) É preciso que meu país também adote estas reformas, e estou plenamente disposto a propiciá-las (...) Também gostaria de ver boas estradas e boas ferrovias (...). Mas meus antepassados eram makombe e makombe quero continuar a ser”

Makombe Hanga, chefe dos Barué (Moçambique central), em 1895.


Outra forma de resistência secundária foi que, alguns dos soberanos, percebendo a força dos europeus, decidem que, para resistir, era necessário adotar muito do que o invasor trazia. Podemos qualifica-los como movimentos de tendência ocidentalizante.

Imperialismo

 

Colônia propriamente dita – Nas colônias propriamente ditas, que também se podem classificar de colônias de administração direta, a soberania da Metrópole encontra-se estabelecida dum modo direto e sem restrições algumas. Estas colônias foram, em regra, anexadas por meio de conquistas e fez-se nelas um estabelecimento completo de administração, com todas as consequências de direito e de fato da soberania do país ocupante. Nestas colônias, as autoridades locais são privadas de todas as suas atribuições. [...]

Protetorados – até os tempos modernos, o protetorado era uma combinação política em que um Estado fraco se colocava sob a defesa de um Estado mais poderoso, dando-lhe em compensação certas vantagens, contudo, sem se privar do seu governo. [...] Tem, porém, elementos constitutivos essenciais. Esses elementos são os seguintes:

a) Continuação do funcionamento das autoridades indígenas [locais] e conservação das instituições e dos costumes locais.

b) O Estado protetor fica encarregado das relações internacionais referentes ao Estado protegido.

c) Existência de um residente político representante do Estado protetor, junto ao Estado protegido;

d) O Estado protetor defende e garante o Estado protegido relativamente às nações estrangeiras.

 

MELLO, Martinho Nobre de. Administração Colonial. Lisboa: Tipografia Universal, 1917, p.34-38.

Imperialismo


Os representantes europeus reunidos em Berlim definiram as regras de legitimação para as futuras anexações nas costas do continente africano. A partir daquele momento, para que novas possessões ou protetorados fossem considerados efetivos, seria necessário o envio de notificação aos demais países signatários da ata, para viabilizar possíveis reivindicações.


Ponto que vale ser destacado sobre as futuras anexações é a delimitação espacial feita pelos representantes europeus. O artigo da ata referente a elas trata apenas das regiões costeiras do continente africano. Isso indica que as deliberações sobre futuras ocupações não teriam validade para todo o continente, deixando de fora as regiões do interior. Esse fato não só refuta as interpretações que atribuem à Conferência de Berlim o papel de partilhar o continente africano, mas também põe em perspectiva as análises segundo as quais esse encontro teria criado as bases para sua futura divisão, pois os critérios de tomada de posse definidos em Berlim não valeriam para todo o continente.

Retirado de: https://cienciahoje.org.br/artigo/conferencia-de-berlim-e-o-mito-da-partilha-da-africa/ Acesso em 16-07-2024.




Imperialismo

O fator que definitivamente fez pender o equilíbrio de forças na África, nos anos 1870, foi a qualidade e a quantidade das armas de fogo. Quem controlasse as armas e as munições, tinha vantagem.

A situação em relação ao continente tenderia a permanecer incerta até que os europeus buscassem separadamente satisfazer os seus interesses nacionais, e os chefes de Estado africanos pudessem jogar as potências umas contra as outras. Portanto, era essencial submeter a partilha da África a certas regras baseadas em acordos internacionais e, muito especialmente, limitar o fornecimento de armas e munições aos africanos.

Assim, o primeiro-ministro alemão, Otto von Bismarck, aproveitando-se das rivalidades intra-europeias, sobretudo entre britânicos e franceses, e buscando aumentar a presença alemã no continente, convocou uma Conferência Internacional em Berlim, no final de 1884 e início de 1885.

Alemanha e França, de forma conjunta, decidiram quais seriam os três objetivos dos debates na Conferência: que iriam nortear os debates em Berlim: a liberdade de comércio na bacia e no estuário do rio Congo; a liberdade de navegação nos rios Congo e Níger; e as formalidades que deveriam ser cumpridas para que novas ocupações na costa da África fossem consideradas efetivas.


Baseado em: SILVÉRIO, Válter Roberto. Síntese da Coleção História Geral da África. V.2. Brasília: MEC/Unesco/UFSCar, 2013, p.336-337.