29.2.20

O trabalho infantil na Revolução Industrial - Depoimentos


Relato 1

Depoimento concedido por Elizabeth Benley, em 1831.

“Tenho vinte e três anos de idade e vivo em Leeds, cidade ao norte da Inglaterra. Comecei a trabalhar na fábrica de linho do Sr. Busk quando eu tinha seis anos de idade. Eu era uma pequena dopper [criança que tira as bobinas da máquina quando estão cheias]
Nessa época, eu trabalhava de cinco da manhã às nove da noite, quando havia muito o que fazer; mas em épocas normais, o tempo era de seis da manhã às sete da noite.
Trabalhei na fábrica do Sr. Busk três ou quatro anos. Depois, fui para a fábrica de Benyon. Eu tinha cerca de dez anos de idade. Trabalhava de cinco da manhã até às oito da noite. Quando estava bem, ia até às nove.
As crianças na fábrica de Benyon eram obrigadas a trabalhar sob a ameaça de uma cinta. As meninas sempre tinham marcas roxas em suas peles. Se os pais se queixavam dos excessivos maus tratos, a consequência provável era a perda do emprego da criança. E disso os pais tinham medo”.


Patrão castigando pequeno operário. Inglaterra. Gravura de 1853.

Relato 2

Depoimento concedido po John Wright, trabalhador em fábrica de seda, em 1833.

- Há quanto tempo você trabalha numa fábrica de tecidos?
- Há mais de trinta anos.
- Você começou a trabalhar quando era uma criança?
- Sim, entre 5 e 6 anos de idade.
- Quantas horas por dia você trabalhava naquela época?
- Trinta anos atrás trabalhava o mesmo que agora.
- E quantas horas isso significa?
- Onze horas regulares por dia e mais duas horas extras. As horas extras são feitas depois das 6 horas da tarde, até às 8 horas da noite. A jornada de trabalho vai das 6 horas da manhã às 6 horas da tarde, e as outras duas horas são horas extras. Cerca de cinquenta anos atrás, começou-se a trabalhar com horas extras.
- Qual é o intervalo para as refeições?
- Em nossa fábrica, temos 20 minutos para o café da manhã, às 8 horas da manhã. 1 hora para a refeição principal às 2 horas da tarde; e 20 minutos para o chá, às 5 horas da tarde.
- Quais são os efeitos do presente sistema de trabalho sobre os empregados?
- Do que me lembro, percebi que os efeitos são terrivelmente prejudiciais à saúde do operário. Eu tenho visto com frequência crianças sendo levadas para as fábricas incapazes de andar, e isso unicamente em decorrência do excesso de trabalho e confinamento nas fábricas. [...] por causa do excesso de trabalho e do confinamento, muitos perdem completamente o apetite, sendo tomados por um tipo de fraqueza e cansaço que derruba até as pessoas mais fortes e reduz as forças a pó.


Pequena carregadora de argila. Inglaterra. 1871.


Relato 3

Depoimento concedido por David Rowland, em 1832.

- Com que idade você começou a trabalhar em fábrica de algodão?
- Assim que completei seis anos.
- Que função você tinha quando entrou na fábrica?
- A de catador.
- Explique o que um catador tem que fazer.
- Um catador tem que pegar a escova e varrer debaixo das engrenagens. [...] Eu frequentemente tinha que estar debaixo das polias, e em consequência do movimento contínuo dos maquinários, eu ficava suscetível a acidentes constantemente. Muito frequentemente eu era obrigado a me deitar e me encolher, para evitar ser esmagado ou pego.
- Por quanto tempo ficou nessa função?
- Um ano e meio a dois anos.
- Foi para onde depois?
- Ser fiandeiro.
- Essa função exigia que você ficasse sempre em pé?
- Exigia.
- Quantas horas você trabalhava por dia?
- Quatorze; em alguns casos, quinze ou dezesseis horas por dia.
- Qual foi o efeito desse tipo de trabalho sobre sua saúde?
- Eu nunca tive boa saúde depois que entrei na fábrica. Aos seis anos, eu era corado e forte; em pouco tempo na fábrica a minha cor desapareceu, e minha aparência era de debilidade e fraqueza.

O trabalho infantil na Revolução Industrial - Evidências históricas


“Embora o trabalho infantil seja constante na história da humanidade, ganhou evidência a partir da Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX.
Segundo o historiador inglês Edward Thompson, na Inglaterra, por exemplo, houve uma intensificação drástica da exploração do trabalho de crianças entre 1780 e 1840, período em que as transformações na produção estavam em curso com a introdução do sistema de fábrica. Crianças trabalhavam nas minas de carvão e nas fábricas [...] quase todas doentias, franzinas, além de andarem descalças e malvestidas. Muitas não aparentavam ter mais de 7 anos, escreveu um médico, sobre as que trabalhavam em uma fábrica em Manchester.
As jornadas eram longas, tanto quanto as dos adultos, variando de 12 a 15 horas diárias. Os salários eram muito baixos, apenas um complemento para a pequena renda familiar, e as fábricas, sujas, escuras, mal ventiladas.
Embora o trabalho infantil não fosse novidade já nessa época, segundo Thompson, a diferença entre o que antes era realizado no âmbito familiar e no sistema fabril é que este último herdou as piores feições do sistema doméstico numa situação em que não existiam as compensações do lar, utilizando o trabalho de crianças pobres, explorando-as com brutalidade tenaz.
Os anos de 1830 a 1840 foram de intensa agitação operária pela melhoria das condições de trabalho e redução da jornada, tanto dos adultos quanto das crianças. Comitês pela redução da jornada foram criados, e o movimento de apoio às crianças operárias cresceu e ganhou adeptos em outros setores da sociedade”.

Organização Internacional do Trabalho. Combatendo o trabalho infantil: guia para educadores. Brasília: IPEC, 2001.


   Lewis Hine. Criança trabalhando em fábrica de algodão da Carolina (EUA) , 1908.     


Crianças na fábrica

Inicialmente só as crianças abandonadas em orfanatos eram entregues aos patrões para trabalharem como aprendizes nas fábricas ou nas minas. Com o tempo, crianças que tinham família seguiram o mesmo caminho.
As crianças começavam a trabalhar com 6 anos de idade. O trabalho era monótono e muito cansativo, e o salário correspondia, em média, à quinta parte do que era pago aos adultos.
O turno de trabalho normalmente se estendia das 5 horas da manhã até às 7 horas da noite, ou seja, as crianças trabalhavam 14 horas por dia. Acidentes de trabalho e doenças decorrentes das condições insalubres das fábricas ocorriam com frequência. Muitas crianças perderam dedos, mãos ou braços nas fábricas inglesas.
O longo e extenuante trabalho nas fábricas têxteis inglesas deixava as crianças muito cansadas e sonolentas. Quando diminuíam a velocidade de suas tarefas, as crianças recebiam socos e outros tipos de castigo para se manterem acordadas e produtivas. Aquelas que fugiam das fábricas eram presas e fichadas pela polícia.

Os jovens e a política - Texto III


Texto III
O debate político está presente o tempo todo nos grupos de jovens, dentro ou fora da escola. Nas conversas de corredores das escolas, nos espaços das igrejas, nos bares, a todo instante os jovens estão partilhando suas vidas, comentando sobre problemas que atravessam seus cotidianos. Tais partilhas são pouco valorizadas em sala de aula e em outros grupos. Nossa vida é composta por questões privadas e públicas. As questões públicas que atravessam nossas vidas como o desemprego, a qualidade na educação, o acesso a bens culturais, a circulação pela cidade estão latentes na vida da maioria da juventude. É necessário colocar a vida, os gostos, as práticas dos jovens na cena pública. É preciso fazer o jovem sacar que uma questão pesada pra ele e que diz respeito à maioria dos jovens é algo público. E para isso não basta uma ação privada, individual, mas uma ação pública, ou seja, uma ação política. Enquanto não percebermos que falar de política é tratar da nossa vida, o debate político sempre será entendido como algo distante.

Figura 1. Comparação entre número de jovens e número de eleitores com 16 e 17 anos.


Figura 2. Pesquisa sobre a participação política de jovens da rede estadual do Paraná.


Os jovens e a política - Texto II


Texto II
Os jovens, ao contrário do que insinua o senso comum, não são desinteressados da participação na vida pública. O que é fato, contudo, diagnosticado por diferentes investigações no Brasil e em outros países, são as mutações nas formas e conteúdos da participação motivadas pelas novas configurações sociais que interferem nas motivações e condições objetivas que favorecem ou inibem processos de participação.
Os jovens, evidentemente não todos, mantêm a motivação para a participação, porém, é um número reduzido que se encontra disposto a fazê-lo em espaços tradicionais e institucionalizados e também em torno de propostas cujos significados não dialogam com as contemporâneas condições de vivência do tempo da juventude. Um dos traços característicos da vida juvenil, hoje, vem a ser o maior campo de autonomia que os jovens possuem frente aos adultos e às instituições, e a capacidade que diferentes coletivos de jovens têm demonstrado na invenção de novos espaços-tempos de participação.
Pesquisas recentes apontam que a participação dos jovens em entidades, associações e agremiações é de baixa intensidade e acompanha tendência participativa do conjunto da população brasileira. O Perfil da Juventude Brasileira (2003) aponta que, dos jovens entrevistados, apenas 15% participa de algum tipo de grupo juvenil. Quase metade desses jovens participa de grupos culturais, 4% deles de grupos religiosos e a participação em partidos políticos não chegou a ser diferenciada em números relativos, ficando agregada à categoria “outros”.
Em 2003, pesquisa de opinião encomendada pelo Observatório da Educação da ONG Ação Educativa procurou conhecer a participação dos cidadãos brasileiros nas instâncias e mecanismos de elaboração, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Chamou atenção o fato da maioria dos entrevistados (56%) não desejar participar das práticas capazes de influenciar nas políticas públicas. Daqueles que desejam participar, destacam-se os jovens mais escolarizados e as pessoas de maior renda. Um número expressivo de pessoas revelou desmotivação em participar por falta de informação (35%); neste grupo a maior incidência é dos mais jovens, entre 16 e 24 anos, os menos escolarizados e os de menor renda.

Os jovens e a política - Texto I


Texto I

Sem os jovens, futuro da política é sombrio

Marcos da Costa, presidente da OAB-SP.
06/06/2018

A juventude brasileira está inconformada com o país em que vive. Afastada dos partidos e da política, pouco quer saber dos fundamentos da economia e do desenvolvimento, de modo geral, bem como não lhe interessa comparar o passado com o presente, pois seu olho se dirige ao futuro. Já fez protestos em 2013, participando de passeatas contra o aumento das passagens de ônibus e a falta de serviços públicos de qualidade. Foram as maiores manifestações públicas da história do Brasil desde a campanha das Diretas Já e dos caras pintadas que levaram à renúncia do presidente Fernando Collor.
Um terço do eleitorado brasileiro é formado por jovens entre 16 e 33 anos, ou seja, são mais de 45 milhões de pessoas em um universo de 144 milhões aptas a votar em outubro. Portanto, esses jovens têm o poder de decidir as eleições deste ano, enquanto os políticos precisam descer do pedestal e propor um diálogo franco e honesto se pretendem atrair o seu voto. Este é o problema: estabelecer um diálogo com quem está desiludido com a corrupção e com os velhos e pérfidos costumes políticos.
Uma pesquisa do Instituto Data Popular mostra bem o perfil do jovem brasileiro e seu interesse pela política.
O levantamento traz recados importantes à classe política, pois os jovens, a par da crença (92%) na própria capacidade de mudar o mundo, botam fé (70%) no voto como instrumento de transformação da nação e ainda reconhecem (80%) o papel determinante da política no cotidiano brasileiro. Porém, fatia expressiva dos jovens do Brasil (quase 60%) acredita que o país estaria melhor se não houvesse partido político.
Um petardo na democracia. Para eles, as agremiações partidárias e os governantes não falam sua linguagem. Interessante a observação do estudo: os políticos são analógicos, mas a juventude é digital. [...] E o discurso carrega um viés oposicionista. Como a maioria da população brasileira, o desejo de mudança se faz presente em 63% deles, que acreditam que o Brasil está no rumo errado. Apesar disso, 72% consideram ter melhorado de vida. Querem mais: serviços públicos de qualidade, maior conectividade, acessos livres à banda larga e à tecnologia de ponta, não abrindo mão da manutenção do poder de compra, nas palavras do autor do estudo, Renato Meirelles, do Instituto de Pesquisa Locomotiva.
[...] O fato é que a juventude deseja um Estado forte, com eficiência no setor privado e serviços públicos gratuitos e de qualidade. Trata-se de uma geração que se vale de métodos mais críticos para medir a qualidade do serviço público. [...] Encastelados em Brasília, os políticos pouco respiram o clima do tempo, as necessidades das ruas, o cotidiano das pessoas, o jeito de pensar da nova geração. [...] Sem sua participação, o Brasil não pegará o bonde da história. Vamos incentivar os jovens a participar ativamente do processo eleitoral deste ano.


8.2.20

Reflexão sobre a independência dos Estados Unidos

Leia as fontes históricas a seguir e responda a seguinte pergunta:

Por que o “sol da liberdade” não raiou para todos no dia 4 de julho de 1776?

Fonte 1

“Para os indígenas, a independência foi negativa, pois, a partir dela, aumentou-se a pressão expansionista dos brancos sobre os territórios ocupados [pelos indígenas]. Para os negros [na condição de] escravos, foi um ato que em si nada representou. Temos notícias de fugas durante a Guerra da Independência. No entanto, nem à Inglaterra (que dependia do trabalho escravo em áreas como a Jamaica) nem aos colonos – os sulinos em particular – interessava que a Guerra de Independência se transformasse numa guerra social entre escravos e latifundiários, o que de fato não ocorreu. [...] Surgia um novo país que, apesar de graves limitações aos olhos atuais (permanência da escravidão, falta de voto dos pobres e das mulheres), causava admiração por ser uma das mais avançadas democracias do planeta naquela ocasião”.

KARNAL, Leandro. Estados Unidos: a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2001, p.94-96.

Questões para reflexão:
O autor considera que, para os indígenas, a independência foi negativa. Por quê?
   Por que o autor afirma que a independência, para os negros escravos, foi um ato que nada em si representou?

Fonte 2

“Companheiros e cidadãos! Por que fui convidado para falar hoje a vocês? O que os negros dos Estados Unidos têm a ver com a independência dos Estados Unidos? Será que os grandes princípios da liberdade política e da justiça natural, presentes na Declaração de Independência, aplicam-se também a nós? [...]
A rica herança de justiça, liberdade, prosperidade e independência, transmitida por seus pais, pertence somente a vocês, e não a mim. Da mesma forma, o dia que para vocês representa a luz e a esperança, significa para os negros, significa para os negros o grilhão e a morte. Este 4 de Julho é de vocês, não meu. [...]
Mais do que todos os outros dias do ano, o 4 de julho significa a injustiça e a crueldade de que o escravo tem sido a vítima constante. Para eles, o que vocês comemoram não passa de uma fraude.”
DOUGLASS, Fredrik. In: Jornal Movimento, São Paulo, 5 jul. 1976.


Questão para reflexão:
Fredrik Douglas, pseudônimo de Fredrik Bailey (1818-1895) é considerado um dos principais autores afro-americanos do século XIX. Por que Douglass afirma que “a rica herança de justiça, liberdade, prosperidade e independência, transmitida por seus pais, pertence somente a vocês e não a mim”?

Fonte 3


Frank e Ernest. 2009.

Questão para reflexão:
Qual é a ironia contida na charge?

Fonte 4

“Consideramos as seguintes verdades evidentes por si mesmas, a saber, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais figuram a vida, a liberdade e a busca da felicidade”.

Declaração de Independência dos Estados Unidos, 4 jul. 1776.

Em sua opinião, é possível dizer que o que se assistiu na prática em 1776 estava em contradição com os ideais apresentados neste trecho?