30.6.22

Incas - Fonte 6


“A palavra ​quipu​ [...]é uma palavra quéchua, que significa nó [...]. Quipu é um dispositivo de gravação de informações, organizado por meio de cordões coloridos e nós, compostos de fios de algodão ou lã, ocasionalmente fibra de animais andinos como a lhama e a alpaca, ou, embora não muito comum, feito de cabelos humanos. As cordas dos ​quipus​ eram dispostas de tal modo que há uma corda principal [na horizontal], chamada de cordão primário, a partir do qual muitos cordões pingentes são pendurados [na vertical]”.

“Os resultados do estudo indicam que os quipus incaicos representaram os principais instrumentos de registro e reporte da gestão tributária adotados pelo Império inca, tendo na figura dos quipucamayocs a responsabilidade pela sua confecção”.


SCHMIDT, Paulo​ and ​SANTOS, José Luiz dos​. O uso dos quipus como ferramenta de controle tributário e de accountability dos incas. Rev. bras. gest. neg. [online]. 2017, vol. 19, n. 66, pp. 613-626. Disponível em ​http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-48922017000400613&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em: 18/2/2019.


Incas - Fonte 5

“Outro primor tiveram também os índios do Peru, que é o de ensinar-se a cada um desde moço nos ofícios necessários a um homem para a vida humana. Porque entre eles não havia oficiais especializados como entre nós, em alfaiates e sapateiros e tecelões, mas todos aprendiam a fazer tudo quanto em suas pessoas e casas precisavam, e proviam-se a si próprios... Outros ofícios, que não são para coisas comuns e ordinárias da vida humana, tinham seus próprios e especiais oficiais, como eram ourives e pintores e oleiros e barqueiros e contadores (contabilistas) e músicos; e mesmo nos ofícios de tecer e lavrar e edificar havia mestres para obras-primas, de que se serviam os senhores.
Mas o vulgo comum, como foi dito, cada um acudia ao que necessitava..., sem que pagasse a outro para tal..., para as coisas de casa e pessoa, como calçar e vestir e fazer uma casa e semear e colher e fazer as ferramentas e aparelhos necessários para isso. “

DE ACOSTA, Jose. História Natural e moral das Índias. ​In​: DE FREITAS, Gustavo. 900 textos e documentos de História. [​S. l.​]: Plátano, 2010

Incas - Fonte 4

INCAS: QUEM MANDA, QUEM OBEDECE

O caráter despótico da dominação está bastante claro nas seguintes palavras que o inca Atahualpa dirigiu ao conquistador Pizarro: "No meu reino, nenhum pássaro voa nem folha alguma se move, se esta não for minha vontade".
Nos postos mais elevados da hierarquia social e política, encontramos uma autocracia teocrática hereditária. O Inca, soberano supremo, é ao mesmo tempo uma divindade e transmite o poder a seus filhos. Na presença dele humilham-se até os mais altos e nobres dignatários, obrigados a apresentarem-se descalços, curvados e carregando um peso nas costas. Os direitos de vida e morte sobre seus súditos são absolutos, qualquer que seja o nível social deles.

POMER, Léon. Os Incas. In: História da América Hispano-Indígena. São Paulo, Global, 1983. pp. 32-34.

Observação: Note que a palavra inca se refere ao povo, e também era usada para denominar os diferentes soberanos desse povo, os Incas.

Incas - Fonte 3

 


Imagine um povoado nativo construído na serra andina a uma altitude de aproximadamente 3.000 metros, capaz de produzir basicamente milho e batata. Ora, esses alimentos, embora muito nutritivos, não eram suficientes para alimentar as famílias locais, que não dispunham de mais terras para outros cultivos. Assim, uma parte da comunidade deslocava-se de tempos em tempos para explorar os recursos de pastagens localizadas em outro “piso” das montanhas, a uma altitude de 4.000 metros. Outros membros da mesma comunidade da serra viajavam para as áreas mais baixas, aproveitando os recursos de um outro “piso”, localizado nas áreas mais quentes e úmidas, onde produziam a coca, o algodão e extraíam madeira. Movimentando-se pelos diferentes pisos ecológicos da região andina, os habitantes da montanha podiam compensar os rigores de viver em regiões tão altas e carentes de terras suficientes para que sobrevivessem. Assim, os andinos transformavam as limitações do clima e as restrições da terra em uma vantagem, deslocando-se para aproveitar recursos variados.

VIANA, Larissa. História da América. vol.1. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. p. 38


Incas - Fonte 2

Os incas eram extremamente religiosos. Decisões importantes eram precedidas de súplicas aos deuses, fossem para pedir sua bênção para as campanhas militares ou para a próxima colheita. O Sol e a Lua eram deuses cuja ajuda era humildemente solicitada. O Sol, como fornecedor de calor, era visto como amigo e, assim, a vida após a morte era vivida sob seu calor. Ao contrário, o inferno dos incas era um lugar gelado. O Sol era o deus masculino e dele o rei clamava sua descendência e, assim, governava por direito divino. O Sol regulava o calendário e, a cada ano, o dia de dezembro em que o Sol estivesse mais ao sul do Equador marcava o início do calendário inca. Portanto, seu ano começava sob clima quente, quase na mesma época em que o ano começava na Europa, sob clima frio.
(...) De todas as sociedades conhecidas do mundo anteriores aos últimos cem anos, os incas provavelmente vinham em primeiro lugar em sua atitude para com as mulheres. Elas não só tinham o direito de ter propriedades, mas também tinham o próprio deus poderoso: das duas principais divindades incas, a Lua era a deusa das mulheres, que lhe serviam como sacerdotisas. A Lua presidia a fertilidade das mulheres e as protegia durante o nascimento das crianças.
O sacrifício de animais, principalmente do porquinho-da-Índia e da valiosa lhama, era uma parte fundamental dos rituais religiosos. Para grandes acontecimentos como uma coroação ou a perigosa decisão de ir à guerra, exigia-se o sacrifício humano. Crianças de 10 a 15 anos, por serem consideradas mais puras que os adultos, geralmente eram as escolhidas. Para os pais, a escolha de seu filho era vista como uma honra.

BLAINEY, Geofrey. ​Uma breve história do mundo. 2. ed. São Paulo: Fundamento Educacional, 2008. pp.98-99.

Incas - Fonte 1

 
Nas montanhas dos Andes, instalou-se uma dominação próxima daquilo que geralmente denominamos de império. Quando os espanhóis se aproximaram da região andina, na década de 1530, os incas reinavam há algumas gerações sobre uma vasta área, chamada de “Império das Quatro Direções”, cujos domínios estendiam-se do atual Equador, ao Norte, até o Chile, ao Sul. (...) Os incas instalaram-se inicialmente no Vale de Cuzco, por volta do século XIII d.C., mas apenas no século XV (por volta de 1470 d.C.) começaram a estender seus domínios sobre outros territórios e povos da região andina, incorporando e cobrando tributos de centenas de grupos étnicos caracterizados por grande diversidade cultural e linguística.

VIANA, Larissa. ​História da América. vol.1. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. p. 36.

Documento - Administração Inca sobre outros povos indígenas:
(...) um senhor inca que governava dez mil famílias, e que vinha inspecioná-las uma vez por ano (...)se achasse que o senhor local ou uma autoridade menor era culpada de cinco faltas muito sérias como a de não ter obedecido ao que o representante real havia ordenado
ou a de ter querido rebelar-se
ou a de ter sido negligente no recolhimento e remessa do que era devido
ou a de não ter realizado os sacrifícios exigidos três vezes ao ano
ou a de ter ocupado as pessoas na tecelagem a seu próprio serviço
ou a de ter feito outras coisas que interferiam com o que deviam fazer e
por outras coisas semelhantes. 
Se cometesse cinco faltas, eles lhe tiravam seu cargo a davam-no a seu filho, se tivesse um capaz, e, se não, davam-no a seu irmão ou parente mais próximo (...)

ZÚÑINGA, Ortiz. La província de León. In: ​VIANA, Larissa. ​História da Américavol.1. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. p.41.

3.6.22

Revolta dos Malês


Porém, isso não adiantou muito. Em menos de 24 horas, a nossa revolta foi debelada, com cerca de 70 dos nossos mortos. Quatro de nossos líderes foram enforcados, outros foram açoitados em praça pública, e muitos de nós se converteram ao catolicismo com medo de perseguições futuras. Houve um aumento da repressão aos escravizados e negros em geral em Salvador, especialmente com o controle da circulação.

Revolta dos Malês

 

Durante meses nos reunimos secretamente em casas de Salvador, juntando armamento e organizando a revolta. Nesses meses, se destacaram três líderes: Pacífico Licutã, Manuel Calafate e Luis Samin. Quando pretendíamos nos revoltar, no final do mês sagrado do Ramadã, com o objetivo de acabar com a escravidão, o prefeito de Salvador recebeu a denúncia de um delator. Daí a polícia passou a fazer rondas e em uma casa, no dia 24 de janeiro de 1835, encontrou cerca de 60 pessoas. A partir daí houve uma luta entre os escravizados e a polícia, com armas de fogo e corpo a corpo. Alguns de nós conseguimos fugir e avisar outros companheiros de que haviam sido descobertos.

Revolta dos Malês

 

Em 1835, Salvador, capital da Bahia, tinha cerca de 65 mil habitantes. Destes, cerca de 26 mil eram escravizados, ou seja, cerca de 40% da população. Trabalhávamos em todas as atividades, das mais leves às mais pesadas, nas casas ou no campo. Muitos de nós não éramos nascidos no Brasil: viemos, a contragosto, da África Ocidental, região que hoje é Nigéria, Benin e Gana, escrevíamos e líamos em árabe e éramos muçulmanos. Não compactuávamos com o que acontecia nessas terras, e com as estratégias que eram utilizados pelos escravizados nascidos no Brasil para conseguir a liberdade. E por isso decidimos nos revoltar.

Revolta dos Malês

 

Olá. Meu nome é Luiza Mahin. Fiquei conhecida na posteridade sendo a mãe de um importante líder da campanha pela abolição da escravidão, chamado Luiz Gama. Porém, muito antes de meu filho ser um grande personagem de nossa história, participei de um movimento contra a escravidão, que passou à história com o nome de Revolta dos Malês. Malês significa muçulmano no idioma iorubá. Esta revolta ocorreu em 24 de janeiro de 1835, em Salvador.

Balaiada

 

Após iniciarmos a revolta, rapidamente tomamos conta de outras cidades. Tomamos a segunda principal cidade da província, Caxias, que se tornou nossa capital. A partir daí, o governo provincial viu que não estávamos para brincadeira e solicitou ajuda do Exército. Este enviou um jovem oficial para comandar as tropas, Luís Alves de Lima e Silva, que iniciou a repressão. Por conta disso, ganhou o título de Barão de Caxias. No nosso auge, chegamos a ter 12 mil soldados. A luta foi muito dura e durou quatro anos. Porém, como eram vários grupos e cada um tinha interesses diferentes, acabamos nos desunindo.

Ao final, os bem-te-vis tiveram em parte suas demandas atendidas, pois a nomeação dos prefeitos por parte do presidente da província foi revertida. Já os balaios receberam a anistia, mas precisaram combater ao final seus antigos aliados, os escravizados. Estes foram totalmente reprimidos. Assim, em 1841, se “pacificou a província”. Em 1842, o Negro Cosme foi executado, como exemplo para que ninguém mais ousasse se revoltar.

Balaiada

Eu, Raimundo Gomes, também conhecido como Cara Preta, não liderei esta revolta sozinho. Foram vários grupos que participaram do movimento, e cada um tinha o seu líder.

Eu e Manoel dos Anjos Ferreira, vulgo Balaio, fomos os líderes do grupo dos balaios. Balaio era o cesto típico existente na nossa província. Éramos sertanejos, uma população pobre que sofria com a pobreza e a expropriação de suas terras. Muitas vezes éramos recrutados de forma forçada para o exército, o que motivou o início da revolta.

Já o jornalista Lívio Castelo Branco era o líder do grupo dos bem-te-vis, que sofreu com as medidas centralizadoras do final do Período Regencial, em especial a nomeação dos prefeitos pelo presidente da província, que era cabano.

Já os escravos, é claro, buscavam sua liberdade. Eram liderados por Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme. 

Balaiada

 

A situação da província do Maranhão no final da década de 1830 era bem complicada. Passávamos por uma grave crise econômica, decorrente da queda dos preços do algodão, que sofria com a concorrência dos Estados Unidos. A pobreza era sentida pela população mais pobre. Na província havia uma luta política muito pesada, entre os conservadores (chamados de cabanos) e os liberais (chamados de bem-te-vis), que volta e meia provocava atritos e confusões armadas. Além disso, tínhamos uma presença marcante da escravidão, sobretudo nos latifúndios.

Balaiada

 

Olá. Meu nome é Raimundo Gomes. Eu era vaqueiro do padre Inácio Mendes de Morais Silva. Em 13 de dezembro de 1838, invadi a cadeia da cidade de Vila da Manga, no Maranhão, para libertar alguns recrutados para o exército. Mal sabia eu que estava iniciando mais uma revolta na conturbada década de 1830. Esta revolta ficou conhecida como Balaiada. Ocorreu nas províncias do Maranhão e do Piauí, durando pouco mais de três anos, entre 1838 e 1841. É esta história que venho aqui contar.

Sabinada

 

Eu sou Francisco Sabino. Era um médico muito renomado à época em Salvador. Eu tinha um grande amigo, que era advogado, que se chamava João Carneiro da Silva. Lideramos o movimento, que ficou conhecido como Sabinada. Em 7 de novembro de 1837, tomamos o forte de São Pedro e proclamamos a República Bahiense. Esta deveria durar até Dom Pedro II completar 18 anos. Porém, não estávamos muito unidos. Achávamos que íamos conseguir diversos apoios, como os dos senhores de engenho, mas todos falharam. Em março de 1838, as tropas imperiais retomaram Salvador. Os líderes foram presos e condenados à prisão perpétua.

Sabinada

 

Na Bahia da metade da década de 1830 a situação era bem complicada. Em 1835, já havia acontecido a Revolta dos Malês. As dificuldades econômicas da província eram muito grandes: era uma fase em que o açúcar perdia valor no mercado mundial, e o governo passara a incentivar o café como principal produto brasileiro. E os impostos cobrados sobre o açúcar iam quase todos para o governo central. Assim, acreditávamos que deveríamos ter maior autonomia política. Também estávamos revoltados contra o recrutamento de soldados para lutarem na Guerra dos Farrapos.

Sabinada

 

Olá. Meu nome é Francisco Sabino. Liderei uma revolta regencial que, curiosamente, acabou passando à história com o meu sobrenome: a Sabinada. Esta revolta ocorreu na província da Bahia, que tinha a capital em Salvador, e ocorreu entre os anos de 1837 e 1838. Eu vou contar para você um pouquinho do que tentamos fazer contra o governo central.

Cabanagem

 

Em janeiro de 1835, tomamos Belém e tiramos do poder o presidente da província, Lobo de Souza. Félix Malcher foi proclamado como presidente e criamos uma república separada do Brasil. Ainda tivemos os governos de Francisco Vinagre e Eduardo Angelim. Porém, estávamos desunidos, o que facilitou a repressão das tropas imperiais. Em abril de 1836, Belém é retomada para o Brasil. Porém, seguimos lutando no interior da província por mais quatro anos. Os cabanos, habitantes das margens dos rios e que deram nome à revolta, foram muito bravos. Calcula-se que cerca de 30 a 40% da população da província faleceu. Nenhum dos nossos sonhos foi realizado. Porém, entramos para a história.

Cabanagem

 

Eram muitas pessoas insatisfeitas com o que acontecia na província. Eu estava presente, mas não era o único. Tinha grandes amigos que estavam comigo, como os irmãos Vinagre (Antônio e Francisco) e o Cônego Batista Campos, que foram muito importantes no movimento. Porém, o grosso do movimento era de indígenas, mestiços, negros e brancos pobres. Reivindicávamos o fim da hegemonia política e econômica dos portugueses, maior autonomia para a província, a melhoria da condição de vida do povo e o fim da escravidão. Porém, a forma de se alcançar isso nos dividia. Não tínhamos um projeto de como tomar o poder e se manter nele.

Cabanagem

 

A situação no Grão-Pará era insustentável por volta de 1835. A província ocupava uma condição periférica no Império. Sentíamos que precisávamos de uma maior autonomia política. Muitos tinham um sentimento anti-português, pois mesmo após a independência muitos portugueses permaneceram por aqui e eram a maioria da elite local. Boa parte deles era comerciante e abusava nos preços dos produtos, o que deixava ainda mais pobre quem já era pobre. Já os indígenas viviam sob uma escravidão disfarçada, sob o mandonismo da elite local.

Cabanagem

 

Olá. Meu nome é Eduardo Angelim. Fui o líder de uma revolta regencial que ficou conhecida como Cabanagem. Esta revolta aconteceu na província do Grão-Pará, que atualmente é praticamente toda a região Norte do Brasil, cuja capital era Belém. Pegamos em armas contra o governo central entre 1835 e 1840. E eu vou contar um pouquinho para vocês de como foi esse movimento.