“Os
chefes republicanos dos Farrapos, saídos da classe de estancieiros da
fronteira, queriam reforçar as instituições da tradicional sociedade
rio-grandense. Seu republicanismo não pode ser confundido com radicalismo. A
autonomia só seria aplicada à elite existente, como ficou evidenciado na
Constituição que propuseram. Os efeitos de algumas reformas mais liberais que
tinham sido propostas e estavam sendo votadas no Rio de Janeiro em 1830, os
amedrontavam. Os chefes Farrapos não eram revolucionários sociais empenhados em
reestruturar as relações de classe. Na melhor das hipóteses, eram o produto do
tempo, incapazes de ultrapassar as atitudes sociais tradicionais. Qualquer
colapso nas relações tradicionais entre senhor e escravo, estancieiro e gaúcho,
poderia desorganizar o sistema político e social vigente”.
LEITMAN, Spencer. Raízes
socioeconômicas da Guerra dos Farrapos. Rio de Janeiro: Graal, 1979, p.23.
"Os farroupilhas buscaram o apoio do povo, mas
não lhe deram o direito de escolher seus representantes porque não reconheciam
nos homens comuns condições de selecionar seus representantes, só a classe
ilustrada tinha a felicidade de eleger bons administradores.
A República Rio-Grandense manteve-se dentro
deste espírito liberal, considerando que a soberania residia no povo, mas o
cidadão, isto é, todo o homem livre nascido no território da república, não
podia exercer as atribuições da soberania imediatamente por si mesmo, mas sim
por meio do voto, pelo modo que a lei determinava. Ficavam sem gozos de
direitos políticos os menores de 21 anos, os filhos que viviam com o pai, os
criados de servir, os religiosos de comunidade claustral, os soldados,
anspeçadas e cabos, os analfabetos, os de renda anual inferior a cem mil réis
por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego. [...]
Portanto, a maior regalia do cidadão era o
direito de voto e a classe inferior, os escravos e grande parte da população,
por ser analfabeta, não participavam politicamente do Estado, mas pagavam seus
impostos [...]
Os liberais rio-grandenses, partidários de
Locke, defendiam a ideia de que o governo deveria pertencer a uma elite que
escolheria os representantes do povo, massa bruta que não tinha condições de
participar nem de eleições. Nas circunstancias em que vivia, o povo não
conhecia doutrina, a qual não estava orientada para ele e que se discutia nos
círculos fechados nas lojas maçônicas e nas polemicas jornalísticas. O povo
participou da revolução de 20 de setembro de 1835 como peleador, sem entender
seu conteúdo ideológico. Lutou, acompanhando seu comandante militar, seu
patrão, o dono da estância, a quem estava ligado por laços de dependência
econômica”.
FLORES, Moacyr. Modelo político dos farrapos. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1978, p.34; 35; 39-40.
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