21.4.24

Guerra dos Farrapos

 

 “Os chefes republicanos dos Farrapos, saídos da classe de estancieiros da fronteira, queriam reforçar as instituições da tradicional sociedade rio-grandense. Seu republicanismo não pode ser confundido com radicalismo. A autonomia só seria aplicada à elite existente, como ficou evidenciado na Constituição que propuseram. Os efeitos de algumas reformas mais liberais que tinham sido propostas e estavam sendo votadas no Rio de Janeiro em 1830, os amedrontavam. Os chefes Farrapos não eram revolucionários sociais empenhados em reestruturar as relações de classe. Na melhor das hipóteses, eram o produto do tempo, incapazes de ultrapassar as atitudes sociais tradicionais. Qualquer colapso nas relações tradicionais entre senhor e escravo, estancieiro e gaúcho, poderia desorganizar o sistema político e social vigente”.

 

LEITMAN, Spencer. Raízes socioeconômicas da Guerra dos Farrapos. Rio de Janeiro: Graal, 1979, p.23.


"Os farroupilhas buscaram o apoio do povo, mas não lhe deram o direito de escolher seus representantes porque não reconheciam nos homens comuns condições de selecionar seus representantes, só a classe ilustrada tinha a felicidade de eleger bons administradores.

A República Rio-Grandense manteve-se dentro deste espírito liberal, considerando que a soberania residia no povo, mas o cidadão, isto é, todo o homem livre nascido no território da república, não podia exercer as atribuições da soberania imediatamente por si mesmo, mas sim por meio do voto, pelo modo que a lei determinava. Ficavam sem gozos de direitos políticos os menores de 21 anos, os filhos que viviam com o pai, os criados de servir, os religiosos de comunidade claustral, os soldados, anspeçadas e cabos, os analfabetos, os de renda anual inferior a cem mil réis por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego. [...]

Portanto, a maior regalia do cidadão era o direito de voto e a classe inferior, os escravos e grande parte da população, por ser analfabeta, não participavam politicamente do Estado, mas pagavam seus impostos [...]

Os liberais rio-grandenses, partidários de Locke, defendiam a ideia de que o governo deveria pertencer a uma elite que escolheria os representantes do povo, massa bruta que não tinha condições de participar nem de eleições. Nas circunstancias em que vivia, o povo não conhecia doutrina, a qual não estava orientada para ele e que se discutia nos círculos fechados nas lojas maçônicas e nas polemicas jornalísticas. O povo participou da revolução de 20 de setembro de 1835 como peleador, sem entender seu conteúdo ideológico. Lutou, acompanhando seu comandante militar, seu patrão, o dono da estância, a quem estava ligado por laços de dependência econômica”.

 

FLORES, Moacyr. Modelo político dos farrapos. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1978, p.34; 35; 39-40.

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