A Revolução Farroupilha (1835-1845), revolta de caráter
republicano contra o governo imperial do Brasil, centralizador e escravocrata,
é marcada por controvérsias; tanto à época, entre os líderes farrapos, quanto
agora, entre historiadores. Uma das questões menos estudadas e conhecidas da
Revolução Farroupilha, que ainda hoje se constitui em um tabu na historiografia
do Rio Grande do Sul, é a enorme contribuição dos negros nessa luta e o
destacado papel que nela tiveram os célebres Lanceiros Negros, grupamento
militar formado por escravos que lutavam em troca da liberdade.
Apesar de os revoltosos compartilharem um mesmo ideal
principal - um modelo de Estado com maior autonomia às províncias - os líderes
divergiam em vários pontos. Entre os mais polêmicos estava a sua posição frente
à escravidão. A resposta à pergunta “os farrapos eram ou não abolicionistas?”
não pode ser respondida com um simples “sim” ou “não”. Ainda que boa parte de
seus líderes fosse favorável à abolição da escravidão, as premências da guerra
não permitiram a sua aprovação. As lideranças farroupilhas tiveram posições
conflitantes frente à questão servil. De um lado, a chamada “maioria” – formada
por Bento Gonçalves, Domingos José de Almeida, Mariano de Mattos, Antônio Souza
Neto e outros – assumiu uma postura claramente abolicionista. De outro, a
“minoria” – Vicente da Fontoura, David Canabarro e outros chefes farrapos –
aceitou a libertação dos escravos que se engajassem na luta contra o império,
mas opôs-se tenazmente a qualquer tentativa de libertação geral dos escravos. A
resultante dessa contradição foi a não inclusão no projeto de Constituição da
República Rio-Grandense da liberdade para os escravos e a Batalha de Porongos,
em 14 de novembro de 1844, quando os Lanceiros Negros foram massacrados em um
episódio muito controvertido, envolvendo suspeitas de traição e cartas cuja
autenticidade ainda é questionada, que mudaria os rumos da revolução.
JUSTINO, Guilherme. Os escravos que lutaram em troca da liberdade. Jornal da UFRGS, abril de 2008. Disponível em: https://www.ufrgs.br/ensinodareportagem/cidades/lanceirosnegros.html Acesso em 21-04-2024
Adendo 1: Bento Gonçalves jamais libertou os seus
escravizados; em seu testamento, feito após a guerra, transferia seus
escravizados a seus herdeiros, não os libertando.
Adendo 2: Escravizados dos
imperiais ou eram colocados nas tropas farroupilhas ou eram destinados ao
Tesouro da República, para serem alugados.
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