8.3.20

As conquistas dos plebeus


Somente depois de mais de dois séculos de luta entre plebeus insatisfeitos e patrícios poderosos, é que os plebeus conseguiram progressivamente obter direitos políticos iguais aos nobres. Por volta de 450 a.C., os plebeus conseguiram que as leis segundo as quais as pessoas seriam julgadas fossem registradas por escrito, numa tentativa de evitar injustiças do tempo em que as leis não eram escritas e os cônsules, sempre da nobreza de sangue, administravam a justiça como bem entendiam, conforme suas conveniências. O conjunto de normas finalmente redigidas foi chamado "A Lei das Doze Tábuas", que se tornou um dos textos fundamentais do Direito romano, uma das principais heranças romanas que chegaram até nós. [...] As Doze Tábuas não chegaram completas até nós, mas possuímos fragmentos como os seguintes: "quem tiver confessado uma dívida, terá trinta dias para pagá-la; quando um contrato é firmado, suas cláusulas são vinculantes, devendo ser cumpridas; se um patrão frauda um cliente, que seja amaldiçoado".
No processo de lutas sociais, os plebeus obtiveram outras conquistas importantes na República romana tais como a abolição da escravidão por dívidas, a criação do cargo de Tribuno da Plebe — magistrado que defenderia os plebeus com o poder de vetar medidas governamentais que prejudicassem a plebe —, reconhecimento e poderes da assembleia da plebe, possibilidade de casamentos entre nobres e plebeus, anteriormente proibidos.
As vitórias plebeias mais significativas ocorreram quando[...] vários plebeus começaram a prosperar exercendo atividades comerciais minando a hegemonia aristocrática. Uma nova distinção social estabeleceu-se lentamente, fundada principalmente na riqueza. Havia, de um lado, os romanos mais ricos, patrícios e plebeus enriquecidos e, de outro, a grande massa da plebe. As diferenças entre patrícios e plebeus ricos nunca foram totalmente abolidas, mas se formou uma nobreza monetária que englobava patrícios — nobres de sangue — e os plebeus enriquecidos, naquilo que se pode chamar de uma nobreza patrício-plebeia.

FUNARI, Pedro Paulo A. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002.

1.3.20

O fim do mundo grego

A Liga de Delos - Parte I (Gregos contra Persas)


"A Liga de Delos foi criada em 478 a.C., com o intuito [...] de expulsar os persas remanescentes em terras gregas e estruturar um organismo de defesa mútuo em caso de agressões externas [...] as cidades que dispusessem de riquezas suficientes contribuiriam com embarcações e suas respectivas equipes, que serviriam à Liga durante uma parte do ano. Já as cidades menores e mais fracas pagariam diretamente por meio de um tributo em dinheiro, o ​phoros​, que era armazenado no tesouro da Ilha de Delos. A passagem da relação de manutenção de certa hegemonia ateniense [...] para uma relação de dominação não tardou a acontecer.

MOERBECK, Guilherme. Entre a religião e a política: Eurípides e a Guerra do Peloponeso. Curitiba: Editora Prismas, 2017. p. 152-153.


A Liga de Delos - Parte II

“A primeira ação mais relevante do domínio de Atenas na Liga de Delos foi feita em 454 a.C. Alegando um possível ataque fenício a Delos, o tesouro localizado na ilha foi transferido para Atenas. Não deve ser por acaso que construções como o Partenon, os depósitos e arsenais no Pireu e as muralhas que ligavam a ásty ateniense ao porto tenham sido erigidas no período de Efialtes e, sobretudo, de Péricles”.

MOERBECK, Guilherme. Entre a religião e a política: Eurípides e a Guerra do Peloponeso. Curitiba: Editora Prismas, 2017. p. 157

Guerra do Peloponeso (Gregos contra Gregos)

“Em minha opinião, a explicação mais correta [...] era a que os atenienses, tornando-se grandes e instilando medo nos espartanos, compeliram-nos à guerra; mas os motivos abertamente expressos pelos quais os dois lados quebraram a trégua e declararam guerra são os seguintes.[...] Os espartanos votaram que o tratado fora quebrado e que a guerra deveria ser declarada, não tanto por eles terem sido influenciados pelos discursos de seus aliados como por temerem o novo crescimento do poder ateniense, percebendo, como o fizeram, que grande parte dos helenos estava sob o controle de Atena”.

TUCÍDIDES. ​The Peloponnesian War​. 1,23,6 e 1,88. In: FERGUSON, John; CHISHOLM, Kitty. ​Political and social life in the great age of Athens​. London: The Open University, 1978. p. 62.  

Império Romano - Parte 6


Texto 1
“Tal processo de expansão não foi, no nosso entender, planejado. A ação imperialista romana manifestou-se através do estabelecimento de uma relação de poder obtida, inicialmente, por meio de alianças razoavelmente igualitárias, protetorados, formação de zonas de influência até a submissão total pela guerra do adversário e, anexação de seu território. Configurou-se, assim, um tipo de relacionamento entre o centro de poder decisório, as áreas integradas, semi-periferias e áreas mais longínquas, caracterizadas por diferentes níveis de submissão e exploração”.

Fonte: MENDES, Norma Musco. Império e romanização. Estratégias, dominação e colapso. UFRJ, 2007. Disponível em http://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/viewFile/549/477 Acesso em: 17/3/2019.

 Texto 2
“Depois da breve invasão comandada por César, em 55 e 54 a.C. [à Britânia, atual Inglaterra], e apesar das renovadas ameaças de invasões, a Britânia permaneceu fora das fronteiras do Império ainda durante quase um século, até ser conquistada pelo imperador Cláudio, em 43. Pensando em termos de organização espacial, a conquista de Roma provocou um impacto muito profundo. [...] No processo de mudança da lógica do território, Roma investiu no controle e na modulação da mobilidade, isto é, da circulação de pessoas, bens e dinheiro. Para atingir este objetivo, limites, caminhos e cidades revelaram-se como peças-chave. O Império Romano não podia crescer e consolidar-se sem olhar constantemente para além de suas fronteiras, isto é, o exterior lhe era fundamental, já que a incorporação de terras e a expansão demográfica constituíam os motores que conduziram Roma ao seu lugar de proeminência no mundo mediterrâneo.

Fonte: MENDES, Norma Musco; CUNHA, Maria da; DAVIDSON, Jorge. A experiência imperialista romana: teorias e práticas, Tempo vol.9 nº 18 Niterói Jan./June 2005. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-77042005000100002 Acesso em: 17/3/2019.

Questões norteadoras
1. De que forma se deu a expansão romana?
2. Quais as estratégias empregadas por Roma na expansão?
3. Por que o exterior era fundamental para o Império?

Império Romano - Parte 5


Texto

“À expansão do poderio político seguiu-se uma penetração cultural decisiva. Os povos subjugados aceitaram, em sua grande maioria, rápida e passivamente, a língua latina. Mesmo nas cidades do norte da África, onde atualmente ficam a Argélia e o Marrocos, prevalecia, no século III, a língua latina.
Somente poucos, como, por exemplo, os bascos, conseguiram resguardar sua língua, frente à onda de romanização. Mas as línguas pré-românicas extintas não deixaram de influenciar o latim falado nas províncias romanas. Assim pode-se, ainda hoje, constatar, por exemplo no francês, vestígios da língua gaulesa extinta, língua esta falada pelos habitantes primitivos da Gália, atualmente França, antes da conquista romana”.

Fonte: FRITSCH, Theodor. O latim vulgar, esboço histórico e linguístico. Revista da USP, disponível em  http://www.revistas.usp.br/linguaeliteratura/article/view/115694/113222 
Acesso em: 18/3/2019.

Questões norteadoras

1. Como a língua latina penetrou em diversas regiões da Europa?
2. O que aconteceu com as línguas que se falavam antes do latim?

Império Romano - Parte 4


Texto

“Roma foi uma cidade que expandiu seu poder ao ponto de se tornar um grande Império, com sua territorialidade presente por séculos em boa parte da Europa Ocidental, além do norte da África e parte da Ásia. Suas táticas de territorialização iam desde o inicial domínio militar até a utilização das políticas de romanização, onde incluímos a introdução dos costumes romanos como a religião, as tradições, numa clara tentativa de transformação dos povos sob o domínio de Roma em romanos. Entre essas táticas existentes destacamos em nossos estudos a padronização da arquitetura e o planejamento urbanístico das cidades construídas ou reconstruídas por Roma”.

Fonte: FREITAS, João Carlos de Mattos. Território e territorialidade no Império Romano: a utilização do padrão urbanístico das cidades construídas enquanto tática de romanização. Revista Tamoios, v. 5, n. 2 (2009) . Disponível em https://www.e-publicacoes.uerj.br/ojs/index.php/tamoios/article/view/1004 Acesso em: 17/3/2019.




A arena de El Jem, na Tunísia, norte da África. Os romanos reproduziam a arquitetura romana nos locais conquistados, como arenas, banheiros públicos e banhos públicos. Além disso, os romanos levavam seu produtos, modo de vida, língua e cultura aos povos conquistados.


Questão norteadora
1. Quais as estratégias utilizadas pelos romanos no processo de romanização?

Império Romano - Parte 3


Moeda da segunda metade do século III a.C., caracterizando a proa [frente] de uma galera [navio de guerra romano], provavelmente um quinquereme.Fonte: Wiki Commons, disponível em 
https://en.wikipedia.org/wiki/Roman_navy#/media/File:As_Publius_Cornelius_Lentulus_Marcellinus.jpg​ Acesso em: 17/3/2019.  


Texto

“Em 256 a.C., os romanos tomaram uma decisão inédita: como sua frota marítima tinha obtido vitórias, e seguros de que haviam melhorado as técnicas de navegação, resolveram atacar a costa africana pelo norte. Reuniram uma frota de cerca de 300 navios e, segundo Políbio nos informa, o conjunto total da tropa de marinheiros era de 140 mil homens. [...]
Segundo Políbio e outros autores antigos, as batalhas foram duríssimas, mas a técnica romana de invadir os navios inimigos com os “corvus” prevaleceu. Essa guerra, considerada uma das maiores batalhas da História, terminou com clara vitória romana”.
[As Guerras Púnicas foram conflitos entre Roma e Cartago pelo controle do comércio no Mar Mediterrâneo. O conflito foi vencido por Roma, sua marinha foi fundamental nesta vitória]

Fonte: MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras, Editora Contexto. 4ª edição, 2008.

Questões norteadoras:
1. Qual foi o motivo da guerra na qual se utilizou a marinha?
2. Qual o papel da Marinha na Guerra da qual o texto fala?



Império Romano - Parte 2



Mapa das estradas romanas no ano 125 d.C. As estradas aparecem em vermelho.

Fonte: Wiki Commons, disponível em 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrada_romana#/media/File:Roman_Empire_125.svg
Acesso em: 17/3/2019.


Texto
“A construção de estradas foi indubitavelmente uma das grandes preocupações da civilização romana e talvez um dos seus maiores legados. A edificação destes eixos, que numa fase incipiente assentava em fins estratégico-militares, foi um fator manifestamente determinante para a romanização e desenvolvimento de redes comerciais no território que dominavam”.

Fonte: RODRIGUES, Sandra. As estradas romanas do Algarve. Universidade do Algarve, disponível
em
https://sapientia.ualg.pt/handle/10400.1/5908 Acesso em: 17/3/2019.

Questões norteadoras:
1. Qual o objetivo inicial da construção de estradas?
2. Qual foi a consequência da abertura das estradas?

Império Romano - Parte 1


Texto 1
"A história de Roma é, em muitos aspectos, a história de seus exércitos altamente bem-sucedidos. Entre o século II aC e o século I dC, Roma expandiu-se de uma cidade-estado para um império que controlava toda a bacia do Mediterrâneo. Essa conquista foi o trabalho de suas legiões".

Fonte: HistoryWorld.Org, texto do professor Gary Edward Forsythe: Professor Assistente de Línguas e Literaturas Clássicas da Universidade de Chicago. Disponível em http://history-world.org/roman_army.htm Acesso em: 17/3/2019.

Texto 2
O exército foi a instituição central do Império Romano. Foi durante a Era Augusta que o exército romano foi transformado de agente de conquista e instrumento na luta pelo domínio político para uma instituição cujo principal papel militar era a defesa contra ameaças externas e a dissuasão da agitação doméstica; seu principal papel político era garantir o status quo de um estado ordenado - um papel que ele encheu amplamente até os anos caóticos do século III d.C. quando o exército mais uma vez se tornou uma ferramenta nas mãos de dinastias aspirantes.

Fonte: Site da Universidade de Oxford, disponível em http://www.oxfordbibliographies.com/view/document/obo-9780199791279/obo9780199791279 -0123.xml Acesso em: 17/3/2019.

Texto 3
“Soldo regular, donativos ocasionais e uma recompensa fixa após o devido tempo de serviço aliviavam as durezas da vida militar, ao passo que, de outro lado, era impossível escapar às naus severa das punições por covardia ou desobediência. Os centuriões estavam autorizados a castigar com espancamento, os generais tinham o direito de punir com a morte; era uma máxima inflexível da disciplina romana que um bom soldado tinha muito mais a temer dos seus oficiais que do inimigo. Por via de tais louváveis recursos, o valor das tropas imperiais alcançou um grau de firmeza e docilidade que as paixões impetuosas e irregulares dos bárbaros jamais poderiam alcançar”.

Fonte: PIOTROWSKI, Helton Augusto; VENTURINI, Renata Lopes Biazotto. ROMA VICTOR! UM ESTUDO SOBRE O EXÉRCITO ROMANO REPUBLICANO E IMPERIAL, Universidade Estadual de Maringá, disponível em http://www.ppe.uem.br/jeam/anais/2008/pdf/c018.pdf Acesso em: 17/3/2019

Questões norteadoras
1.       Qual foi o papel do Exército na construção/consolidação do Império Romano?
2.      Qual o papel político do Exército no Império?
3.      Quais as estratégias empregadas pelo Exército para conseguir seus objetivos?

29.2.20

O trabalho infantil na Revolução Industrial - Depoimentos


Relato 1

Depoimento concedido por Elizabeth Benley, em 1831.

“Tenho vinte e três anos de idade e vivo em Leeds, cidade ao norte da Inglaterra. Comecei a trabalhar na fábrica de linho do Sr. Busk quando eu tinha seis anos de idade. Eu era uma pequena dopper [criança que tira as bobinas da máquina quando estão cheias]
Nessa época, eu trabalhava de cinco da manhã às nove da noite, quando havia muito o que fazer; mas em épocas normais, o tempo era de seis da manhã às sete da noite.
Trabalhei na fábrica do Sr. Busk três ou quatro anos. Depois, fui para a fábrica de Benyon. Eu tinha cerca de dez anos de idade. Trabalhava de cinco da manhã até às oito da noite. Quando estava bem, ia até às nove.
As crianças na fábrica de Benyon eram obrigadas a trabalhar sob a ameaça de uma cinta. As meninas sempre tinham marcas roxas em suas peles. Se os pais se queixavam dos excessivos maus tratos, a consequência provável era a perda do emprego da criança. E disso os pais tinham medo”.


Patrão castigando pequeno operário. Inglaterra. Gravura de 1853.

Relato 2

Depoimento concedido po John Wright, trabalhador em fábrica de seda, em 1833.

- Há quanto tempo você trabalha numa fábrica de tecidos?
- Há mais de trinta anos.
- Você começou a trabalhar quando era uma criança?
- Sim, entre 5 e 6 anos de idade.
- Quantas horas por dia você trabalhava naquela época?
- Trinta anos atrás trabalhava o mesmo que agora.
- E quantas horas isso significa?
- Onze horas regulares por dia e mais duas horas extras. As horas extras são feitas depois das 6 horas da tarde, até às 8 horas da noite. A jornada de trabalho vai das 6 horas da manhã às 6 horas da tarde, e as outras duas horas são horas extras. Cerca de cinquenta anos atrás, começou-se a trabalhar com horas extras.
- Qual é o intervalo para as refeições?
- Em nossa fábrica, temos 20 minutos para o café da manhã, às 8 horas da manhã. 1 hora para a refeição principal às 2 horas da tarde; e 20 minutos para o chá, às 5 horas da tarde.
- Quais são os efeitos do presente sistema de trabalho sobre os empregados?
- Do que me lembro, percebi que os efeitos são terrivelmente prejudiciais à saúde do operário. Eu tenho visto com frequência crianças sendo levadas para as fábricas incapazes de andar, e isso unicamente em decorrência do excesso de trabalho e confinamento nas fábricas. [...] por causa do excesso de trabalho e do confinamento, muitos perdem completamente o apetite, sendo tomados por um tipo de fraqueza e cansaço que derruba até as pessoas mais fortes e reduz as forças a pó.


Pequena carregadora de argila. Inglaterra. 1871.


Relato 3

Depoimento concedido por David Rowland, em 1832.

- Com que idade você começou a trabalhar em fábrica de algodão?
- Assim que completei seis anos.
- Que função você tinha quando entrou na fábrica?
- A de catador.
- Explique o que um catador tem que fazer.
- Um catador tem que pegar a escova e varrer debaixo das engrenagens. [...] Eu frequentemente tinha que estar debaixo das polias, e em consequência do movimento contínuo dos maquinários, eu ficava suscetível a acidentes constantemente. Muito frequentemente eu era obrigado a me deitar e me encolher, para evitar ser esmagado ou pego.
- Por quanto tempo ficou nessa função?
- Um ano e meio a dois anos.
- Foi para onde depois?
- Ser fiandeiro.
- Essa função exigia que você ficasse sempre em pé?
- Exigia.
- Quantas horas você trabalhava por dia?
- Quatorze; em alguns casos, quinze ou dezesseis horas por dia.
- Qual foi o efeito desse tipo de trabalho sobre sua saúde?
- Eu nunca tive boa saúde depois que entrei na fábrica. Aos seis anos, eu era corado e forte; em pouco tempo na fábrica a minha cor desapareceu, e minha aparência era de debilidade e fraqueza.

O trabalho infantil na Revolução Industrial - Evidências históricas


“Embora o trabalho infantil seja constante na história da humanidade, ganhou evidência a partir da Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX.
Segundo o historiador inglês Edward Thompson, na Inglaterra, por exemplo, houve uma intensificação drástica da exploração do trabalho de crianças entre 1780 e 1840, período em que as transformações na produção estavam em curso com a introdução do sistema de fábrica. Crianças trabalhavam nas minas de carvão e nas fábricas [...] quase todas doentias, franzinas, além de andarem descalças e malvestidas. Muitas não aparentavam ter mais de 7 anos, escreveu um médico, sobre as que trabalhavam em uma fábrica em Manchester.
As jornadas eram longas, tanto quanto as dos adultos, variando de 12 a 15 horas diárias. Os salários eram muito baixos, apenas um complemento para a pequena renda familiar, e as fábricas, sujas, escuras, mal ventiladas.
Embora o trabalho infantil não fosse novidade já nessa época, segundo Thompson, a diferença entre o que antes era realizado no âmbito familiar e no sistema fabril é que este último herdou as piores feições do sistema doméstico numa situação em que não existiam as compensações do lar, utilizando o trabalho de crianças pobres, explorando-as com brutalidade tenaz.
Os anos de 1830 a 1840 foram de intensa agitação operária pela melhoria das condições de trabalho e redução da jornada, tanto dos adultos quanto das crianças. Comitês pela redução da jornada foram criados, e o movimento de apoio às crianças operárias cresceu e ganhou adeptos em outros setores da sociedade”.

Organização Internacional do Trabalho. Combatendo o trabalho infantil: guia para educadores. Brasília: IPEC, 2001.


   Lewis Hine. Criança trabalhando em fábrica de algodão da Carolina (EUA) , 1908.     


Crianças na fábrica

Inicialmente só as crianças abandonadas em orfanatos eram entregues aos patrões para trabalharem como aprendizes nas fábricas ou nas minas. Com o tempo, crianças que tinham família seguiram o mesmo caminho.
As crianças começavam a trabalhar com 6 anos de idade. O trabalho era monótono e muito cansativo, e o salário correspondia, em média, à quinta parte do que era pago aos adultos.
O turno de trabalho normalmente se estendia das 5 horas da manhã até às 7 horas da noite, ou seja, as crianças trabalhavam 14 horas por dia. Acidentes de trabalho e doenças decorrentes das condições insalubres das fábricas ocorriam com frequência. Muitas crianças perderam dedos, mãos ou braços nas fábricas inglesas.
O longo e extenuante trabalho nas fábricas têxteis inglesas deixava as crianças muito cansadas e sonolentas. Quando diminuíam a velocidade de suas tarefas, as crianças recebiam socos e outros tipos de castigo para se manterem acordadas e produtivas. Aquelas que fugiam das fábricas eram presas e fichadas pela polícia.

Os jovens e a política - Texto III


Texto III
O debate político está presente o tempo todo nos grupos de jovens, dentro ou fora da escola. Nas conversas de corredores das escolas, nos espaços das igrejas, nos bares, a todo instante os jovens estão partilhando suas vidas, comentando sobre problemas que atravessam seus cotidianos. Tais partilhas são pouco valorizadas em sala de aula e em outros grupos. Nossa vida é composta por questões privadas e públicas. As questões públicas que atravessam nossas vidas como o desemprego, a qualidade na educação, o acesso a bens culturais, a circulação pela cidade estão latentes na vida da maioria da juventude. É necessário colocar a vida, os gostos, as práticas dos jovens na cena pública. É preciso fazer o jovem sacar que uma questão pesada pra ele e que diz respeito à maioria dos jovens é algo público. E para isso não basta uma ação privada, individual, mas uma ação pública, ou seja, uma ação política. Enquanto não percebermos que falar de política é tratar da nossa vida, o debate político sempre será entendido como algo distante.

Figura 1. Comparação entre número de jovens e número de eleitores com 16 e 17 anos.


Figura 2. Pesquisa sobre a participação política de jovens da rede estadual do Paraná.


Os jovens e a política - Texto II


Texto II
Os jovens, ao contrário do que insinua o senso comum, não são desinteressados da participação na vida pública. O que é fato, contudo, diagnosticado por diferentes investigações no Brasil e em outros países, são as mutações nas formas e conteúdos da participação motivadas pelas novas configurações sociais que interferem nas motivações e condições objetivas que favorecem ou inibem processos de participação.
Os jovens, evidentemente não todos, mantêm a motivação para a participação, porém, é um número reduzido que se encontra disposto a fazê-lo em espaços tradicionais e institucionalizados e também em torno de propostas cujos significados não dialogam com as contemporâneas condições de vivência do tempo da juventude. Um dos traços característicos da vida juvenil, hoje, vem a ser o maior campo de autonomia que os jovens possuem frente aos adultos e às instituições, e a capacidade que diferentes coletivos de jovens têm demonstrado na invenção de novos espaços-tempos de participação.
Pesquisas recentes apontam que a participação dos jovens em entidades, associações e agremiações é de baixa intensidade e acompanha tendência participativa do conjunto da população brasileira. O Perfil da Juventude Brasileira (2003) aponta que, dos jovens entrevistados, apenas 15% participa de algum tipo de grupo juvenil. Quase metade desses jovens participa de grupos culturais, 4% deles de grupos religiosos e a participação em partidos políticos não chegou a ser diferenciada em números relativos, ficando agregada à categoria “outros”.
Em 2003, pesquisa de opinião encomendada pelo Observatório da Educação da ONG Ação Educativa procurou conhecer a participação dos cidadãos brasileiros nas instâncias e mecanismos de elaboração, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Chamou atenção o fato da maioria dos entrevistados (56%) não desejar participar das práticas capazes de influenciar nas políticas públicas. Daqueles que desejam participar, destacam-se os jovens mais escolarizados e as pessoas de maior renda. Um número expressivo de pessoas revelou desmotivação em participar por falta de informação (35%); neste grupo a maior incidência é dos mais jovens, entre 16 e 24 anos, os menos escolarizados e os de menor renda.

Os jovens e a política - Texto I


Texto I

Sem os jovens, futuro da política é sombrio

Marcos da Costa, presidente da OAB-SP.
06/06/2018

A juventude brasileira está inconformada com o país em que vive. Afastada dos partidos e da política, pouco quer saber dos fundamentos da economia e do desenvolvimento, de modo geral, bem como não lhe interessa comparar o passado com o presente, pois seu olho se dirige ao futuro. Já fez protestos em 2013, participando de passeatas contra o aumento das passagens de ônibus e a falta de serviços públicos de qualidade. Foram as maiores manifestações públicas da história do Brasil desde a campanha das Diretas Já e dos caras pintadas que levaram à renúncia do presidente Fernando Collor.
Um terço do eleitorado brasileiro é formado por jovens entre 16 e 33 anos, ou seja, são mais de 45 milhões de pessoas em um universo de 144 milhões aptas a votar em outubro. Portanto, esses jovens têm o poder de decidir as eleições deste ano, enquanto os políticos precisam descer do pedestal e propor um diálogo franco e honesto se pretendem atrair o seu voto. Este é o problema: estabelecer um diálogo com quem está desiludido com a corrupção e com os velhos e pérfidos costumes políticos.
Uma pesquisa do Instituto Data Popular mostra bem o perfil do jovem brasileiro e seu interesse pela política.
O levantamento traz recados importantes à classe política, pois os jovens, a par da crença (92%) na própria capacidade de mudar o mundo, botam fé (70%) no voto como instrumento de transformação da nação e ainda reconhecem (80%) o papel determinante da política no cotidiano brasileiro. Porém, fatia expressiva dos jovens do Brasil (quase 60%) acredita que o país estaria melhor se não houvesse partido político.
Um petardo na democracia. Para eles, as agremiações partidárias e os governantes não falam sua linguagem. Interessante a observação do estudo: os políticos são analógicos, mas a juventude é digital. [...] E o discurso carrega um viés oposicionista. Como a maioria da população brasileira, o desejo de mudança se faz presente em 63% deles, que acreditam que o Brasil está no rumo errado. Apesar disso, 72% consideram ter melhorado de vida. Querem mais: serviços públicos de qualidade, maior conectividade, acessos livres à banda larga e à tecnologia de ponta, não abrindo mão da manutenção do poder de compra, nas palavras do autor do estudo, Renato Meirelles, do Instituto de Pesquisa Locomotiva.
[...] O fato é que a juventude deseja um Estado forte, com eficiência no setor privado e serviços públicos gratuitos e de qualidade. Trata-se de uma geração que se vale de métodos mais críticos para medir a qualidade do serviço público. [...] Encastelados em Brasília, os políticos pouco respiram o clima do tempo, as necessidades das ruas, o cotidiano das pessoas, o jeito de pensar da nova geração. [...] Sem sua participação, o Brasil não pegará o bonde da história. Vamos incentivar os jovens a participar ativamente do processo eleitoral deste ano.


8.2.20

Reflexão sobre a independência dos Estados Unidos

Leia as fontes históricas a seguir e responda a seguinte pergunta:

Por que o “sol da liberdade” não raiou para todos no dia 4 de julho de 1776?

Fonte 1

“Para os indígenas, a independência foi negativa, pois, a partir dela, aumentou-se a pressão expansionista dos brancos sobre os territórios ocupados [pelos indígenas]. Para os negros [na condição de] escravos, foi um ato que em si nada representou. Temos notícias de fugas durante a Guerra da Independência. No entanto, nem à Inglaterra (que dependia do trabalho escravo em áreas como a Jamaica) nem aos colonos – os sulinos em particular – interessava que a Guerra de Independência se transformasse numa guerra social entre escravos e latifundiários, o que de fato não ocorreu. [...] Surgia um novo país que, apesar de graves limitações aos olhos atuais (permanência da escravidão, falta de voto dos pobres e das mulheres), causava admiração por ser uma das mais avançadas democracias do planeta naquela ocasião”.

KARNAL, Leandro. Estados Unidos: a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2001, p.94-96.

Questões para reflexão:
O autor considera que, para os indígenas, a independência foi negativa. Por quê?
   Por que o autor afirma que a independência, para os negros escravos, foi um ato que nada em si representou?

Fonte 2

“Companheiros e cidadãos! Por que fui convidado para falar hoje a vocês? O que os negros dos Estados Unidos têm a ver com a independência dos Estados Unidos? Será que os grandes princípios da liberdade política e da justiça natural, presentes na Declaração de Independência, aplicam-se também a nós? [...]
A rica herança de justiça, liberdade, prosperidade e independência, transmitida por seus pais, pertence somente a vocês, e não a mim. Da mesma forma, o dia que para vocês representa a luz e a esperança, significa para os negros, significa para os negros o grilhão e a morte. Este 4 de Julho é de vocês, não meu. [...]
Mais do que todos os outros dias do ano, o 4 de julho significa a injustiça e a crueldade de que o escravo tem sido a vítima constante. Para eles, o que vocês comemoram não passa de uma fraude.”
DOUGLASS, Fredrik. In: Jornal Movimento, São Paulo, 5 jul. 1976.


Questão para reflexão:
Fredrik Douglas, pseudônimo de Fredrik Bailey (1818-1895) é considerado um dos principais autores afro-americanos do século XIX. Por que Douglass afirma que “a rica herança de justiça, liberdade, prosperidade e independência, transmitida por seus pais, pertence somente a vocês e não a mim”?

Fonte 3


Frank e Ernest. 2009.

Questão para reflexão:
Qual é a ironia contida na charge?

Fonte 4

“Consideramos as seguintes verdades evidentes por si mesmas, a saber, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais figuram a vida, a liberdade e a busca da felicidade”.

Declaração de Independência dos Estados Unidos, 4 jul. 1776.

Em sua opinião, é possível dizer que o que se assistiu na prática em 1776 estava em contradição com os ideais apresentados neste trecho?