29.11.18

Mito tupi-guarani de criação do mundo

No começo de tudo, quando não havia tempo ainda, havia Yamandu, o ancestral de todos os ancestrais. Num determinado dia, Yamandu, dentro de sua própria luminosidade, quis conhecer a dimensão de si mesmo. Então, por três vezes, se transformou em coruja, para ver a noite; o colibri, para ver seu comprimento; e o gavião, para ver no alto, a totalidade de si. Após contemplar toda a maravilha, pensou: “Precisamos criar mundos”. 
Foi então que ele começou a cantar. De seu canto, nasceram as estrelas. Então, se recolheu dentro de si mesmo e se transformou no Grande Sol. E do ventre desse Grande Sol, nasceu Tupã. Tupã ajudou Yamandu na cantoria e na criação dos mundos. Mas um dia, Tupã sonhou com a Mãe Terra. Então, criou um cachimbo e nele a soprou. O espírito da Mãe Terra ficou vagando pelo espaço, se transformou em uma serpente luminosa e prateada. Até que ela escolheu um lugar e ali se estabeleceu, transformando-se em uma imensa tartaruga. 
Algum tempo depois, Tupã foi seguindo o rastro da Mãe Terra, até encontrar o lugar onde ela adormeceu. Tupã olhou e no casco da tartaruga desenhou as futuras montanhas, vales, cachoeiras, rios. E pensou: era necessário colocar alguém para continuar a Criação. 
Então, do próprio coração de Tupã, nasceu nosso primeiro ancestral: Nhandevorossu. Mas era só o espírito. Então, ele percorreu os quatro cantos da terra, em cada um deles havia alguém especial: uma palmeira, uma rocha, uma onça, que lhe ensinavam algo sobre viver na terra. Por último, era a vez de Nhandessi, a Mãe Terra. Então, ela criou um corpo de barro para que ele pudesse contemplar melhor aquela maravilha. E ele tinha um poder: o de criar coisas pelas suas palavras. Então, começou a falar vários nomes: assim, surgiram os pássaros, os peixes, os animais. Quando ele olhou para os lados, viu que estavam todos os seres criados. 
Ele seguiu por muito tempo cantando e criando coisas pelo mundo. Muitas vidas nasceram, foram fazendo amizade umas com as outras e com o próprio Nhandevorossu. Até que um dia ele disse: “Agora eu me vou”. Abriu um espaço numa clareira na floresta, colocou ali o corpo que a Mãe Terra havia feito para ele e ficou somente seu espírito. Ele voou e se transformou no Sol. Esse Sol que vemos hoje é Nhanderovossu, nosso primeiro ancestral.

Observação: esta é uma versão resumida do mito. Os tupi-guaranis, antes da chegada dos portugueses, ocupavam toda a costa do atual litoral brasileiro e os vales dos grandes rios. Constituíam-se em um grande número de grupos. Cada um deles tem versões diferentes dessa história. Não sabemos especificamente de qual grupo é essa história. 

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