Salvador,
Bahia, 12 de agosto de 1798. São encontrados afixados em vários pontos da
cidade dez pasquins, que exortavam o povo à revolução.
A
Salvador do final do século XVIII é uma cidade comercial com um mercado
efervescente, mas que escondia uma depressão econômica que esmagava o povo. A
situação de depressão econômica, adicionada às restrições comerciais
decorrentes do pacto colonial, a geral insatisfação em relação aos tributos, as
preterições às pessoas de cor aos cargos mais elevados, forneciam um terreno
fértil para as ideias iluministas, propagadas pelos recentes movimentos
políticos (Revolução Francesa, Americana e Haitiana). Reuniões em círculos
restritos já ocorriam desde 1793, manifestando repúdio à exploração colonial e
manifestando simpatias à França revolucionária, e se acentuaram no ano de 1798.
Apesar
da realidade de Salvador ter sido composta de “extremos” (um pequeno grupo de
muitos ricos e outro, grande, de muitos pobres), a Conjuração foi composta,
basicamente, de categorias médias e baixas da sociedade, dentre brancos,
mestiços, soldados, comerciantes, artesãos, clérigos e funcionários régios. Os
escravos não participaram deste movimento. Entre os principais contestadores
estão Cipriano Barata, médico, Moniz Barreto, professor, Manuel Faustino,
alfaiate, Lucas Dantas, soldado, e Luís Gonzaga das Virgens, também soldado. A
participação de diversos alfaiates fez o movimento ser conhecido também como
Conjuração dos Alfaiates.
As
reivindicações, apesar dos desentendimentos, consistiam na propagação da
liberdade econômica (abertura dos portos) e no reconhecimento do papel do
indivíduo na sociedade e o fim da discriminação conforme a etnia ou função
social (igualdade de direitos). No universo político, buscando o fim do domínio
europeu, pregavam um governo republicano “democrático, livre e independente.” A
abolição da escravidão é algo que é incerto nas análises sobre o movimento.
Com
a publicação de pasquins aumenta a popularização do movimento. O governador Dom
Fernando José de Portugal intervém ao tomar conhecimento da situação. O governador,
apesar de querer minimizar a participação da elite local no movimento (que à
esta altura haviam debandado), instaurou uma Devassa para descobrir os autores
dos pasquins e seus líderes. Ao final, quatro réus foram condenados à morte e
seis ao degredo.