Na
primeira metade do século XVIII, a região do vale do rio Amazonas sofreu com
uma epidemia de varíola que devastou a população indígena escravizada que
estava em missões religiosas. Diante da perda gradativa de indígenas como mão
de obra, os colonos luso-brasileiros decidiram realizar campanhas de captura em
tribos do vale do Amazonas.
Durante a campanha de 1723, os colonos se encontraram com a tribo dos Manaus ou
Manáos, liderados pelo guerreiro Ajuricaba. Esta tribo impedia o acesso dos
luso-brasileiros aos indígenas dos rios acima do Amazonas. No encontro, a tropa
de colonos teria assassinado o filho do líder indígena, precipitando a revolta
da tribo, que em represália mataram um soldado e um índio aliado dos luso-brasileiros.
Este seria só o primeiro ato de revolta que seguiria com a invasão e destruição
de aldeias aliadas aos portugueses e a recusa de comercializar com estes.
Diante
da campanha frustrada o governador do Grão-Pará à época (atualmente Pará e
Amazonas), João da Maia da Gama enviou Belchior Mendes de Moraes para levantar
uma investigação. Belchior apurou que a tribo indígena praticava canibalismo,
mantinham relações incestuosas e eram aliados dos holandeses. Nada disso foi
comprovado em fontes, mas tudo foi utilizado como justificativas para uma
guerra. Após o inquérito, o governador concluiu que era preciso combater os
Manaus, pois se assim continuasse certamente influenciariam outros povos
indígenas e dessa forma, poderiam se aliar aos holandeses possibilitando uma
invasão estrangeira ao território português na Amazônia.
Como
argumento jurídico para a declaração de guerra foi evocada a lei de 28 de abril
de 1688 que permitia a prática da “guerra justa”. Diante da demora nas
autorizações do rei D. João V, o governador Maia da Gama resolveu localmente
travar a guerra em 1723 contra os Manaus. Depois de quatro anos de conflitos,
Ajuricaba foi preso e enviado a Belém. Durante a viagem, teria tentado se
rebelar novamente, provocando um motim na canoa em que seguiam os índios
presos. Este motim conseguiu ser sufocado, mas Ajuricaba, que estava preso em
ferros, mostrou que não se entregaria, dessa vez, atirando-se na água para
escapar de uma punição mais pesada, ato que o tornaria um herói e mito, já que
o corpo nunca foi encontrado.
Entretanto,
a campanha contra os Manaus não se encerrou após o suicídio de Ajuricaba,
ocorrido em 1727. Os colonos só conseguiram reduzir às mortes e escravizações
essa tribo definitivamente após 1730. Com a eliminação desse obstáculo,
regularizou-se o fornecimento de mão de obra escravizada indígena, sobretudo
destinada a trabalhar nas lavouras locais.
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