Em
1737 foi criado o forte Jesus-Maria-José, no que é hoje a cidade de Rio Grande,
com a finalidade de solidificar o domínio português no sul da América. Foi
estabelecido um grupo militar, denominado Regimento dos Dragões, para guarnecer
o forte. As condições de vida, entretanto, foram extremamente difíceis para os
primeiros habitantes desse local.
As
promessas da Coroa Portuguesa aos soldados e povoadores, de que teriam toda a
infraestrutura e mantimentos necessários, mostraram-se ilusórias. O cotidiano
dos soldados era caracterizado por extrema precariedade. Em suas rações,
careciam de mantimentos básicos e já não recebiam itens como carne ou farinha,
base da alimentação militar. Eram proibidos de caçar ou de pescar. Ademais,
havia muitas outras restrições impostas ao Corpo dos Dragões. Não podiam ter
cavalos, estavam proibidos de transitar livremente, sofriam três inspeções
diárias, que muitas vezes terminavam em “prisões e pancadas”.
No
dia 5 de janeiro de 1742, a infantaria, a artilharia e os soldados do Regimento
dos Dragões iniciaram um motim contra as precárias condições de vida. De acordo
com os próprios militares, seus protestos eram contra o governador da capitania
Diogo Osório Cardoso (1740 - 1752) e as dificuldades que eles enfrentavam sob
sua administração, e não tinham o objetivo de “usurpar, nem perturbar a
jurisdição real, nem fazer sublevações contra a fé pública e serviço de S.
Majestade e suas ordens reais”. Esses militares se encontravam com o pagamento de seus
soldos atrasados há mais de 20 meses.
As
reivindicações dos revoltosos incluíam: direito de pesca, o fim das várias
inspeções diárias, melhores tratamentos médicos, o fim das punições por
suspeita de deserção, o encerramento das torturas e castigos e o afastamento do
capitão Tomás Luís Osório. Os militares também contaram com o apoio ativo dos
moradores. Afinal, a precariedade da estrutura e dos alimentos não era uma
dificuldade somente dos soldados, mas de todos os habitantes. Dessa forma, eles
não somente apoiaram como também participaram do movimento. Ocuparam a praça de
guerra, elegeram oficiais e ameaçaram passar para o domínio espanhol.
Em
29 de março de 1742, o motim terminou. Embora pagando apenas um terço dos
soldos atrasados, os revoltosos tiveram grande parte de suas demandas atendidas
por Gomes Freire de Andrade, governador do Rio de Janeiro, ao qual a
administração de Rio Grande era subordinada. Foi permitido que os soldados,
dentro de alguns limites, obtivessem canoas e cavalos, os oficiais que
cometeram excessos foram punidos e aqueles que sofreram maus tratos puderam
sair daquele povoado. Além disso, em 15 de fevereiro de 1742, o governador do
Rio de Janeiro assinou um termo de notificação que perdoou os revoltosos.
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