No
alvorecer da segunda década do século XVIII, eclode em Pernambuco um conflito
explosivo entre as cidades de Olinda e Recife. A primeira, dominada em grande
parte por uma elite latifundiária, tinha sua principal atividade baseada na
produção e venda de açúcar. O declínio desse produto resultou na crescente
dependência, por parte dessa elite, em relação aos comerciantes do Recife que,
em sua maioria portugueses, estavam engajados em atividades mercantis
realizando empréstimos com juros altos.
Os
recifenses eram mais ricos, mas não tinham poder nenhum na administração da
vila de Olinda, controlada pelos senhores de engenho. Dado o desenvolvimento econômico do Recife,
os comerciantes, que também eram intitulados "mascates" (termo
pejorativo que designava pequenos mercadores ambulantes), recorreram à Coroa Portuguesa
solicitando sua emancipação e o título de Vila.
A
Coroa concedeu o pedido, autorizando a criação da Câmara de Vereadores no
Recife em 1710, oficializando a separação de Olinda. A situação não foi bem
recebida pelos senhores de engenho olindenses que, revoltados com a elevação do
Recife e temendo a perda de sua condição de superioridade política em
Pernambuco, invadiram a localidade, depredando tanto a Câmara quanto o
Pelourinho. A elite de Olinda lembrava a Coroa de supostos direitos adquiridos
nos tempos da expulsão dos holandeses do Nordeste (1645-1654).
Esses
episódios ocorreram em 1710. O contra-ataque dos recifenses aconteceria no ano
seguinte, em 1711, com a invasão da cidade de Olinda e destruição de algumas
Vilas, plantações e engenhos da região. Diante desses conflitos, a Coroa
começou a temer por uma desestabilização de seu poder e enviou um novo
responsável para a ocupação do cargo de governador, Félix José de Mendonça,
além de tropas para contenção da revolta.
O
resultado foi a prisão dos líderes olindenses e a consolidação da autonomia de
Recife em relação à Olinda. Em 1712, Recife foi elevada à capital de
Pernambuco, sua Câmara e Pelouro foram reconstruídos e os sediciosos da nobreza
de Olinda receberam perdão concedido pelo bispo. No ano de 1714, D. João V
concedeu anistia a todos os envolvidos na sublevação. Além disso, concedeu aos
senhores de engenho de Olinda o privilégio da manutenção de suas plantações e
perdão de suas dívidas, em troca de paz.
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