“A população foi passada ao
fio da espada e os francos massacraram
os sarracenos da cidade por uma
semana. [...] Na mesquita de Al-aqsa, pelo contrário, os francos massacraram
mais de 70.000 pessoas, entre as quais grande multidão de imãs e de doutores sarracenos, devotos e ascetas que tinham deixado suas terras para viver vida piedosa
retirados nesse lugar santo”.
Ibn al-Athir. In: Gabriel,
F. Croniques árabes des croisades.
Paris: Sinbad, 1977, p.62.
“Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso, seu olhar se esfria
como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros,
protegidos de armaduras, que espalham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado,
degolando homens, mulheres e crianças, saqueando as mesquitas.
O destino dos judeus de Jerusalém
foi igualmente atroz. Nas primeiras horas da batalha, vários deles participaram
da defesa de seu bairro, a Judiaria, situada ao norte da cidade [...] A
comunidade inteira, reproduzindo um gesto
ancestral, reuniu-se na sinagoga principal para rezar. Os francos então
bloquearam todos os acessos. Depois, empilhando feixes de lenha em torno,
atearam fogo. Os que tentavam sair eram mortos nos becos vizinhos, os outros
eram queimados vivos”.
MAALOUF, Amin. As cruzadas vistas pelos árabes. São
Paulo: Brasiliense, 1988, p.12.
Glossário
Francos: nome pelo qual os muçulmanos chamavam os
cristãos.
Sarracenos: nome pelo qual os muçulmanos eram
conhecidos na Idade Média.
Imãs: ministros da religião islâmica
Ascetas: pessoas virtuosas e piedosas
Exilados: referência aos que conseguiram fugir de
Jerusalém.
Gesto
ancestral: gesto repetido
já muito tempo.
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