17.6.19

Histórias da Arábia - Trecho 9


Supondo que o cadáver do intruso continuava a putrefazer-se na caverna, os quarenta ladrões abstiveram-se de frequentar o esconderijo durante um mês inteiro. Quando voltaram à gruta e não encontraram o cadáver, preocuparam-se e reuniram-se para avaliar o perigo. "O homem que matamos tinha um cúmplice", disse o chefe. "Enquanto não o identificarmos e liquidarmos, nossas vidas e essas riquezas que nossos antepassados e nós temos feito tantos sacrifícios para juntar estarão correndo perigo. Após discutir longamente o assunto, concordaram no seguinte plano: enviariam um voluntário deles à cidade para tentar identificar o intruso. Se conseguisse, seria coberto de louvores. Se falhasse, teria a cabeça cortada.

Um deles ofereceu-se para a tarefa. Disfarçando-se em mercador, foi à cidade e, por sorte sua, a única loja que encontrou aberta era a do remendão que costurara o corpo de Kassem. Entrou, fez-se amigo do homem e felicitou-o pela habilidade com que estava confeccionando uns chinelos de luxo. Lisonjeado, o remendão replicou: "O que terias dito se me tivesses visto coser os seis pedaços de um morto e restituir-lhe a forma?" O falso mercador ficou encantado com a coincidência, e disse estar curioso por visitar a casa onde essa operação fora feita. Após pagamento de duas moedas de ouro, o remendão disse onde era a casa. Estavam, de fato, diante da casa de Ali-Baba. O ladrão marcou a porta com um pedaço de giz que trouxera. Não sabia que assinava assim o decreto de sua morte.

Pois, ao voltar para casa, a astuta escrava Manara reparou no sinal e pensou: "Esta marca não se fez por si mesma. A mão que a traçou só pode ser a de um inimigo. Precisamos despistá-lo e desviar o golpe que prepara." Com um giz, foi repetir a marca em todas as portas da rua. Quando os ladrões entraram na cidade para assaltar a casa marcada, viram que todas as casas exibiam a mesma marca. O infeliz voluntário teve a cabeça cortada. Outro voluntário ofereceu-se e, aproveitando as informações do primeiro, foi ao remendão e convenceu-o a levá-lo àquela casa. Desta vez, o ladrão marcou a porta com um sinal vermelho. Mas Manara percebeu o sinal e repetiu a façanha. E a quadrilha perdeu mais um de seus componentes.

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