Supondo
que o cadáver do intruso continuava a putrefazer-se
na caverna, os quarenta ladrões abstiveram-se de frequentar o esconderijo durante um mês inteiro. Quando voltaram
à gruta e não encontraram o cadáver, preocuparam-se
e reuniram-se para avaliar o perigo. "O homem que matamos tinha um cúmplice", disse o
chefe. "Enquanto não o identificarmos e liquidarmos, nossas vidas e essas riquezas que nossos
antepassados e nós temos feito tantos sacrifícios
para juntar estarão correndo perigo. Após discutir longamente o assunto,
concordaram no seguinte plano: enviariam um voluntário
deles à cidade para tentar identificar o
intruso. Se conseguisse, seria coberto de louvores. Se falhasse, teria a cabeça
cortada.
Um
deles ofereceu-se para a tarefa. Disfarçando-se em mercador, foi à cidade
e, por sorte sua, a única loja que encontrou aberta era a do remendão que
costurara o corpo de Kassem. Entrou,
fez-se amigo do homem e felicitou-o pela habilidade com que estava confeccionando uns chinelos de luxo.
Lisonjeado, o remendão replicou: "O que terias dito se me tivesses visto coser os seis pedaços de um
morto e restituir-lhe a forma?" O falso mercador ficou encantado com a coincidência, e disse
estar curioso por visitar a casa onde essa operação fora feita. Após pagamento de duas moedas de
ouro, o remendão disse onde era a casa. Estavam, de fato, diante da casa de
Ali-Baba. O ladrão marcou a porta com um pedaço de giz que trouxera. Não sabia que assinava assim o decreto
de sua morte.
Pois,
ao voltar para casa, a astuta escrava Manara reparou no
sinal e pensou: "Esta marca não se fez por si mesma. A mão que a
traçou só pode ser a de um inimigo. Precisamos
despistá-lo e desviar o golpe que prepara." Com um giz, foi repetir a marca em todas as portas da
rua. Quando os ladrões entraram na cidade
para assaltar a casa marcada, viram que todas as casas exibiam a mesma marca. O
infeliz voluntário teve a cabeça cortada. Outro
voluntário ofereceu-se e, aproveitando as informações do primeiro, foi ao remendão e convenceu-o
a levá-lo àquela casa. Desta vez, o ladrão
marcou a porta com um sinal vermelho. Mas Manara percebeu o sinal e repetiu a
façanha. E a
quadrilha perdeu mais um de seus componentes.
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