No
início do século XIX, o Ceará era economica e politicamente periférico se
comparado a outras regiões da América Portuguesa. Politicamente, recém tinha
conquistado sua autonomia, separando-se de Pernambuco em 1799. Economicamente,
a sua base era na lavoura de mandioca e de algodão.
Os
conflitos políticos na província começaram com as notícias que chegaram de
Lisboa, no começo de 1821. É nesse contexto que cresce o antilusitanismo, tanto
entre as elites quanto entre os grupos populares. A notícia de que diversas
províncias estavam criando Juntas de Governo leva as autoridades políticas e
militares do Ceará a pressionarem o então governador Francisco Alberto Rubim a
jurar as bases da Constituição. A pressão também tinha um fundo de insatisfação
com medidas tomadas por Rubim que limitavam o acesso à mão de obra indígena e
outras que limitavam o poder das elites econômicas locais. Em 14 de abril,
Rubim jura a Constituição, mas não ordena a eleição de uma Junta.
Em
31 de julho formou-se a primeira Junta de Governo, mas que teve vida curta, por
conta de tumultos no interior da província. Figuras como o capitão José Pereira
Filgueiras e o coronel Leandro Bezerra Monteiro, apoiados por grandes
contingentes de cabras e mulatos, se posicionavam contra a Constituição e a
Junta. No vale do Cariri, grupos armados interrompiam missas falando que a
Constituição era “lei do diabo”.
Em
3 de novembro, Rubim é deposto e é eleita uma nova Junta, a qual é sucedida por
outra, em fevereiro, composta por portugueses simpáticos ao liberalismo de
Lisboa. O ano de 1822 é marcado por motins defensores do rei no interior e
contra as Cortes: no Cariri, em Aracati, em Russas, em Ibiapina, em Maranguape,
as quais são violentamente reprimidas pelo governo de Fortaleza. Em 16 de
outubro, a Câmara de Icó estabelece um Governo Temporário, separado de
Fortaleza, e liderado por Filgueiras. Temendo consequências da atitude de Icó,
a Junta de Governo adere à independência do Brasil em 24 de novembro. A adesão
das lideranças do Ceará ao projeto de separação vindo do Rio de Janeiro foi
muito mais um resultado de conflitos pessoais e entre as famílias das diferentes
regiões da província do que associações espontâneas a agentes externos ou
manifestações de fidelidade ideológica ou identitária.
Mesmo
com a adesão a independência, a Junta de Governo não aguentou a pressão vinda
do interior, e Filgueiras, com cerca de dois mil homens, entrou em Fortaleza em
23 de janeiro de 1823. Era a vitória do sertão da província sobre os
comerciantes do litoral, que eram mais ligados a Lisboa que ao Rio de Janeiro.
Em seguida, o governo da província organiza o envio de tropas para o Piauí,
para defender os adeptos da independência. Elas participam da importante
Batalha do Jenipapo e de batalhas no Piauí e no Maranhão, contribuindo para a
adesão dessas duas províncias ao nascente Império do Brasil.
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