22.10.24

Ceará

 

No início do século XIX, o Ceará era economica e politicamente periférico se comparado a outras regiões da América Portuguesa. Politicamente, recém tinha conquistado sua autonomia, separando-se de Pernambuco em 1799. Economicamente, a sua base era na lavoura de mandioca e de algodão.

Os conflitos políticos na província começaram com as notícias que chegaram de Lisboa, no começo de 1821. É nesse contexto que cresce o antilusitanismo, tanto entre as elites quanto entre os grupos populares. A notícia de que diversas províncias estavam criando Juntas de Governo leva as autoridades políticas e militares do Ceará a pressionarem o então governador Francisco Alberto Rubim a jurar as bases da Constituição. A pressão também tinha um fundo de insatisfação com medidas tomadas por Rubim que limitavam o acesso à mão de obra indígena e outras que limitavam o poder das elites econômicas locais. Em 14 de abril, Rubim jura a Constituição, mas não ordena a eleição de uma Junta.

Em 31 de julho formou-se a primeira Junta de Governo, mas que teve vida curta, por conta de tumultos no interior da província. Figuras como o capitão José Pereira Filgueiras e o coronel Leandro Bezerra Monteiro, apoiados por grandes contingentes de cabras e mulatos, se posicionavam contra a Constituição e a Junta. No vale do Cariri, grupos armados interrompiam missas falando que a Constituição era “lei do diabo”.

Em 3 de novembro, Rubim é deposto e é eleita uma nova Junta, a qual é sucedida por outra, em fevereiro, composta por portugueses simpáticos ao liberalismo de Lisboa. O ano de 1822 é marcado por motins defensores do rei no interior e contra as Cortes: no Cariri, em Aracati, em Russas, em Ibiapina, em Maranguape, as quais são violentamente reprimidas pelo governo de Fortaleza. Em 16 de outubro, a Câmara de Icó estabelece um Governo Temporário, separado de Fortaleza, e liderado por Filgueiras. Temendo consequências da atitude de Icó, a Junta de Governo adere à independência do Brasil em 24 de novembro. A adesão das lideranças do Ceará ao projeto de separação vindo do Rio de Janeiro foi muito mais um resultado de conflitos pessoais e entre as famílias das diferentes regiões da província do que associações espontâneas a agentes externos ou manifestações de fidelidade ideológica ou identitária.

Mesmo com a adesão a independência, a Junta de Governo não aguentou a pressão vinda do interior, e Filgueiras, com cerca de dois mil homens, entrou em Fortaleza em 23 de janeiro de 1823. Era a vitória do sertão da província sobre os comerciantes do litoral, que eram mais ligados a Lisboa que ao Rio de Janeiro. Em seguida, o governo da província organiza o envio de tropas para o Piauí, para defender os adeptos da independência. Elas participam da importante Batalha do Jenipapo e de batalhas no Piauí e no Maranhão, contribuindo para a adesão dessas duas províncias ao nascente Império do Brasil.

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