A
historiografia defende o papel central de Minas Gerais na articulação e
sustentação do projeto político de um Império do Brasil. Era a província mais
populosa do Brasil, com aproximadamente 500 mil habitantes, sendo destes, cerca
de 175 mil escravizados. A sua economia era baseada na produção para o
abastecimento do Rio de Janeiro, capital da América Portuguesa.
As
notícias da Revolução do Porto rapidamente encontraram eco na província. Entre
1821 e 1822 ocorreram, em diferentes locais da província, como Minas Novas,
Vila do Príncipe e Paracatu, sublevações e movimentos protagonizados pelas
então chamadas “classes ínfimas”, inclusive os temidos “ajuntamentos de negros”
que defendiam vozes de liberdade.
O
período da independência também é marcado por uma série de tensões no seio das
elites, por conta das formas de representação e da construção dos novos espaços
de poder. Inicialmente, quando as notícias das Cortes de Lisboa chegam, o
governador Manoel de Portugal e Castro jura as bases da Constituição. Por isso,
acreditava que tinha legitimidade para permanecer no cargo, sem a eleição de
uma Junta. Porém, parte da elite defendia a eleição de uma Junta, tal como
acontecia em outras partes do Brasil.
No
final de setembro de 1821, é realizada a eleição para a Junta. A composição
dela demonstra a falta de unidade entre os diversos grupos políticos na
província. O próprio governador Manoel foi eleito presidente. Os enfrentamentos
que se seguiram à instalação da Junta, que envolveram acusações de espionagem e
tentativas de assassinato, resultaram no pedido de demissão de Manoel.
Um
novo ponto de tensão ocorreu com a chegada dos decretos vindos de Lisboa
tratando sobre a nova organização dos governos provinciais. A junta mineira
declarou-se incapaz de fazer cumprir estes decretos. Além disso, parte dos
deputados mineiros eleitos às Cortes, ao invés de embarcar para Lisboa,
permaneceu no Rio de Janeiro e declarou publicamente seu apoio a Dom Pedro. Foi
chave nessa declaração o vice-presidente da Junta mineira e deputado, José
Teixeira da Fonseca Vasconcellos. Dessa forma, se verifica o rompimento entre a
Junta de Governo, sediada em Vila Rica, e parte dos deputados eleitos.
Outro
foco de tensão se deu dentro das próprias Câmaras de Vereadores. Várias delas
apoiaram diretamente a permanência de Dom Pedro no Brasil, e algumas delas
inclusive adotaram posturas contrárias a da Junta de Governo, não reconhecendo
sua legitimidade pra falar em nome da população.
Foi
diante desse quadro de tensões que Dom Pedro realizou uma viagem pela província,
entre março e abril de 1822. Reafirmando seu amor à causa do Brasil, recebeu
festejos nas vilas ao sul da província pelas quais passou (Barbacena, São João
del Rei, São José del Rei e Queluz), mas tal acolhimento não aconteceu na
capital, Vila Rica. Ali, ele só adentrou apenas após negociações e uma ameaça
velada de uso da força armada. A seguir, a Junta de Governo foi dissolvida e
uma nova eleição foi convocada. A viagem de Dom Pedro teve sucesso ao construir
um relativo consenso em relação à adesão de Minas Gerais ao governo do Rio de
Janeiro e o rompimento com Portugal.
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