22.10.24

Minas Gerais

 

A historiografia defende o papel central de Minas Gerais na articulação e sustentação do projeto político de um Império do Brasil. Era a província mais populosa do Brasil, com aproximadamente 500 mil habitantes, sendo destes, cerca de 175 mil escravizados. A sua economia era baseada na produção para o abastecimento do Rio de Janeiro, capital da América Portuguesa.

As notícias da Revolução do Porto rapidamente encontraram eco na província. Entre 1821 e 1822 ocorreram, em diferentes locais da província, como Minas Novas, Vila do Príncipe e Paracatu, sublevações e movimentos protagonizados pelas então chamadas “classes ínfimas”, inclusive os temidos “ajuntamentos de negros” que defendiam vozes de liberdade.

O período da independência também é marcado por uma série de tensões no seio das elites, por conta das formas de representação e da construção dos novos espaços de poder. Inicialmente, quando as notícias das Cortes de Lisboa chegam, o governador Manoel de Portugal e Castro jura as bases da Constituição. Por isso, acreditava que tinha legitimidade para permanecer no cargo, sem a eleição de uma Junta. Porém, parte da elite defendia a eleição de uma Junta, tal como acontecia em outras partes do Brasil.

No final de setembro de 1821, é realizada a eleição para a Junta. A composição dela demonstra a falta de unidade entre os diversos grupos políticos na província. O próprio governador Manoel foi eleito presidente. Os enfrentamentos que se seguiram à instalação da Junta, que envolveram acusações de espionagem e tentativas de assassinato, resultaram no pedido de demissão de Manoel.

Um novo ponto de tensão ocorreu com a chegada dos decretos vindos de Lisboa tratando sobre a nova organização dos governos provinciais. A junta mineira declarou-se incapaz de fazer cumprir estes decretos. Além disso, parte dos deputados mineiros eleitos às Cortes, ao invés de embarcar para Lisboa, permaneceu no Rio de Janeiro e declarou publicamente seu apoio a Dom Pedro. Foi chave nessa declaração o vice-presidente da Junta mineira e deputado, José Teixeira da Fonseca Vasconcellos. Dessa forma, se verifica o rompimento entre a Junta de Governo, sediada em Vila Rica, e parte dos deputados eleitos.

Outro foco de tensão se deu dentro das próprias Câmaras de Vereadores. Várias delas apoiaram diretamente a permanência de Dom Pedro no Brasil, e algumas delas inclusive adotaram posturas contrárias a da Junta de Governo, não reconhecendo sua legitimidade pra falar em nome da população.

Foi diante desse quadro de tensões que Dom Pedro realizou uma viagem pela província, entre março e abril de 1822. Reafirmando seu amor à causa do Brasil, recebeu festejos nas vilas ao sul da província pelas quais passou (Barbacena, São João del Rei, São José del Rei e Queluz), mas tal acolhimento não aconteceu na capital, Vila Rica. Ali, ele só adentrou apenas após negociações e uma ameaça velada de uso da força armada. A seguir, a Junta de Governo foi dissolvida e uma nova eleição foi convocada. A viagem de Dom Pedro teve sucesso ao construir um relativo consenso em relação à adesão de Minas Gerais ao governo do Rio de Janeiro e o rompimento com Portugal.

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