Nas
primeiras décadas do século XIX, o Piauí se inseria no sistema colonial como
fornecedor de gado e insumos a várias regiões, sobretudo Pernambuco e Bahia. Até
o início da década de 1820, não havia nenhum desejo de ruptura com Portugal. A
partir de então, em meio às movimentações separatistas que se espalhavam pela
colônia, explicitaram-se interesses e contradições entre duas redes familiares
que desejavam ampliar sua influência sobre a administração provincial: uma
sediada no centro-sul, a família Sousa Martins; e outra ao norte, a família
Castelo Branco. O equilíbrio de poder entre essas duas redes familiares estava
preservado até a Revolução do Porto. Os eventos subsequentes acirraram a luta,
na qual o projeto de adesão à independência fez parte de ações internas para a
ampliação do controle político local.
As
primeiras manifestações contrárias às Cortes de Lisboa defendiam que houvesse
duas Constituições separadas: uma para Portugal, e outra para o Brasil. Porém,
não se questionava a monarquia portuguesa, nem se falava em independência. A
primeira manifestação a questionar o domínio português ocorreu em maio de 1821,
e buscou depor o governador Elias José Ribeiro de Carvalho e instalar uma Junta
de Governo. O governador, vendo a dificuldade em se manter no poder, pede
demissão e é convocada uma eleição para a Junta.
As
juntas eleitas em outubro de 1821 e abril de 1822, tiveram predomínio da rede
familiar do centro-sul. No decorrer do ano de 1822 as ideias de independência
ganham força, vindas do norte da província (Parnaíba e Campo Maior). A
propaganda era espalhada por meio de pasquins e eclodiam protestos contra
medidas decretadas por Lisboa. Com a chegada das notícias vindas do Rio de
Janeiro, abria-se o caminho para a rede familiar do norte de controlar a
província por meio da adesão ao projeto independentista. Em 19 de outubro, a
vila de Parnaíba reconhece a independência do Brasil, mas na condição de Reino
Unido a Portugal.
A
notícia chega à capital da província, a vila de Oeiras. A Junta de Governo da
Província ordena uma expedição militar, liderada por João José da Cunha Fidié,
para restabelecer a ordem. Em 18 de novembro, ele entra na vila, que se
encontrava deserta, e obriga a Câmara local a jurar obediência a Portugal. Na
capital, porém, começam a aparecer pasquins conspirando a derrubada da Junta de
Governo e o apoio à independência. No início de 1823, o clima era de apoio à
separação de Portugal. Em 24 de janeiro, aproveitando-se da ausência das
tropas, que seguiam em Parnaíba, um levante liderado por Manoel de Sousa
Martins depõe a Junta sem resistência e o Piauí adere ao Império do Brasil.
Fidié,
assim que sabe do movimento, tenta voltar a Oeiras. No dia 13 de março as
forças leais a Portugal e as defensoras da independência se encontram nas
proximidades da vila de Campo Maior. Ali, ocorre a Batalha do Jenipapo, o maior
conflito da independência brasileira. Dois mil sertanejos, liderados pelo
capitão cearense Luís Rodrigues Chaves, mal armados, resistem às forças
portuguesas bem treinadas e municiadas. Os portugueses vencem a batalha, porém
perdem a maioria da sua bagagem de guerra. Esse fato impediu novas ações
portuguesas. Fidié e suas tropas se retiram do Piauí e vão para a vila de
Caxias, no Maranhão, ainda leal a Portugal. Em seu encalço, vão as tropas
piauienses e cearenses. A independência estava consolidada no Piauí. Mas a um
preço alto: as fazendas de gado, base da economia provincial, estavam
arruinadas.
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