22.10.24

Piauí

 

Nas primeiras décadas do século XIX, o Piauí se inseria no sistema colonial como fornecedor de gado e insumos a várias regiões, sobretudo Pernambuco e Bahia. Até o início da década de 1820, não havia nenhum desejo de ruptura com Portugal. A partir de então, em meio às movimentações separatistas que se espalhavam pela colônia, explicitaram-se interesses e contradições entre duas redes familiares que desejavam ampliar sua influência sobre a administração provincial: uma sediada no centro-sul, a família Sousa Martins; e outra ao norte, a família Castelo Branco. O equilíbrio de poder entre essas duas redes familiares estava preservado até a Revolução do Porto. Os eventos subsequentes acirraram a luta, na qual o projeto de adesão à independência fez parte de ações internas para a ampliação do controle político local.

As primeiras manifestações contrárias às Cortes de Lisboa defendiam que houvesse duas Constituições separadas: uma para Portugal, e outra para o Brasil. Porém, não se questionava a monarquia portuguesa, nem se falava em independência. A primeira manifestação a questionar o domínio português ocorreu em maio de 1821, e buscou depor o governador Elias José Ribeiro de Carvalho e instalar uma Junta de Governo. O governador, vendo a dificuldade em se manter no poder, pede demissão e é convocada uma eleição para a Junta.

As juntas eleitas em outubro de 1821 e abril de 1822, tiveram predomínio da rede familiar do centro-sul. No decorrer do ano de 1822 as ideias de independência ganham força, vindas do norte da província (Parnaíba e Campo Maior). A propaganda era espalhada por meio de pasquins e eclodiam protestos contra medidas decretadas por Lisboa. Com a chegada das notícias vindas do Rio de Janeiro, abria-se o caminho para a rede familiar do norte de controlar a província por meio da adesão ao projeto independentista. Em 19 de outubro, a vila de Parnaíba reconhece a independência do Brasil, mas na condição de Reino Unido a Portugal.

A notícia chega à capital da província, a vila de Oeiras. A Junta de Governo da Província ordena uma expedição militar, liderada por João José da Cunha Fidié, para restabelecer a ordem. Em 18 de novembro, ele entra na vila, que se encontrava deserta, e obriga a Câmara local a jurar obediência a Portugal. Na capital, porém, começam a aparecer pasquins conspirando a derrubada da Junta de Governo e o apoio à independência. No início de 1823, o clima era de apoio à separação de Portugal. Em 24 de janeiro, aproveitando-se da ausência das tropas, que seguiam em Parnaíba, um levante liderado por Manoel de Sousa Martins depõe a Junta sem resistência e o Piauí adere ao Império do Brasil.

Fidié, assim que sabe do movimento, tenta voltar a Oeiras. No dia 13 de março as forças leais a Portugal e as defensoras da independência se encontram nas proximidades da vila de Campo Maior. Ali, ocorre a Batalha do Jenipapo, o maior conflito da independência brasileira. Dois mil sertanejos, liderados pelo capitão cearense Luís Rodrigues Chaves, mal armados, resistem às forças portuguesas bem treinadas e municiadas. Os portugueses vencem a batalha, porém perdem a maioria da sua bagagem de guerra. Esse fato impediu novas ações portuguesas. Fidié e suas tropas se retiram do Piauí e vão para a vila de Caxias, no Maranhão, ainda leal a Portugal. Em seu encalço, vão as tropas piauienses e cearenses. A independência estava consolidada no Piauí. Mas a um preço alto: as fazendas de gado, base da economia provincial, estavam arruinadas.

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