22.10.24

Rio de Janeiro

 

A cidade do Rio de Janeiro se transformou com a chegada da Corte, em 1808. Novos prédios foram construídos, novas instituições foram criadas e um aumento populacional muito grande aconteceu. No entorno da cidade, no que hoje chamamos de Baixada Fluminense, os antigos canaviais se transformaram em fazendas de produção de gêneros alimentícios, transportados pela Baía de Guanabara até a cidade.

No entanto, a província agregava um território muito maior. Na época pré-independência, destacava-se a plantação de cana de açúcar na região de Campos dos Goytacazes, e do café, no Vale do Paraíba, ambos com grande uso de mão de obra escravizada.

Em termos políticos, com exceção de Campos, cuja elite debateu em certo momento o interesse em apoiar as Cortes de Lisboa, em 1821, não há pesquisas específicas sobre as posições das Câmaras municipais sobre o apoio a Dom Pedro, mas tudo indica que as elites locais recusaram as propostas das Cortes e festejaram a permanência de Dom Pedro no Brasil e sua coroação.

Já na capital, a chapa esquentou com as notícias da Revolução do Porto. Em 26 de fevereiro de 1821, um levante da tropa provocou o juramento das bases da Constituição. No dia 7 de março, Dom João anunciou seu retorno a Portugal e a eleição dos deputados fluminenses às Cortes. A eleição, em 21 de abril, que deveria ser para um público restrito, no prédio da Praça de Comércio, logo tornou-se popular, com a presença de uma multidão. No meio da eleição, irromperam gritos solicitando a adoção da Constituição Espanhola, vista como uma referência, até que a portuguesa ficasse pronta. Um grupo de cinco pessoas foi até o rei, no Palácio de São Cristóvão, entregar um abaixo-assinado com quase 500 assinaturas, solicitando essa adoção, além da nomeação de um conselho para assessorar Dom Pedro, que ficaria no Brasil como príncipe regente. O rei aceitou a primeira exigência e prometeu pensar na segunda.

No entanto, os ânimos se exaltaram na Praça do Comércio, com boatos de que tropas iriam atacar o local e que o grupo de cinco pessoas teria sido detido. Apenas à meia-noite o quinteto retornou do Palácio e o clima se acalmou. Contudo, os manifestantes resolveram eleger uma Junta de Governo, além dos deputados às Cortes, processo que terminou às 4 horas da manhã. Diante do prolongamento, tropas lideradas pelo comandante português Jorge Avilez cercaram a Praça do Comércio às 5 horas, e atacaram a tiros e baionetas quem estava por lá. O número de mortos é incerto (de um a trinta), e o número de feridos, também. Pela manhã, Dom João anulou a adoção da Constituição Espanhola e emitiu um decreto estabelecendo os poderes do príncipe, sem o conselho.

Avilez, nos meses seguintes, entraria em choque com Dom Pedro, pois acreditava que a sua tropa deveria ser tutora do príncipe. Em julho, exigiu que ele jurasse as bases da Constituição e nomeasse uma Junta de Governo. Em outubro, mobilizou suas tropas para que fossem cumpridas as ordens vindas de Lisboa.

Em 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro declara que permaneceria no Brasil, mesmo após as Cortes solicitarem seu retorno (Dia do Fico). No dia 11, Avilez reúne dois mil soldados no Morro do Castelo e organiza um movimento com o objetivo de depor Dom Pedro, anular seus poderes e exigir sua fidelidade a Portugal. Houve quebra-quebra e tumulto generalizado entre apoiadores dos lusitanos e da independência. Durante as negociações, Avilez transfere a tropa para Niterói, onde permaneceu buscando reforços. Porém, são cercados e depois de alguns dias, se rendem e retornam a Portugal. Sem uma força militar no seu encalço, Dom Pedro estava livre para se dedicar a costurar as alianças que selariam a independência do Brasil, na qual o Rio de Janeiro teria um papel central, e, posteriormente, capital do Império.

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