A
cidade do Rio de Janeiro se transformou com a chegada da Corte, em 1808. Novos
prédios foram construídos, novas instituições foram criadas e um aumento
populacional muito grande aconteceu. No entorno da cidade, no que hoje chamamos
de Baixada Fluminense, os antigos canaviais se transformaram em fazendas de
produção de gêneros alimentícios, transportados pela Baía de Guanabara até a
cidade.
No
entanto, a província agregava um território muito maior. Na época
pré-independência, destacava-se a plantação de cana de açúcar na região de
Campos dos Goytacazes, e do café, no Vale do Paraíba, ambos com grande uso de
mão de obra escravizada.
Em
termos políticos, com exceção de Campos, cuja elite debateu em certo momento o
interesse em apoiar as Cortes de Lisboa, em 1821, não há pesquisas específicas
sobre as posições das Câmaras municipais sobre o apoio a Dom Pedro, mas tudo
indica que as elites locais recusaram as propostas das Cortes e festejaram a
permanência de Dom Pedro no Brasil e sua coroação.
Já
na capital, a chapa esquentou com as notícias da Revolução do Porto. Em 26 de
fevereiro de 1821, um levante da tropa provocou o juramento das bases da
Constituição. No dia 7 de março, Dom João anunciou seu retorno a Portugal e a
eleição dos deputados fluminenses às Cortes. A eleição, em 21 de abril, que
deveria ser para um público restrito, no prédio da Praça de Comércio, logo
tornou-se popular, com a presença de uma multidão. No meio da eleição,
irromperam gritos solicitando a adoção da Constituição Espanhola, vista como
uma referência, até que a portuguesa ficasse pronta. Um grupo de cinco pessoas
foi até o rei, no Palácio de São Cristóvão, entregar um abaixo-assinado com
quase 500 assinaturas, solicitando essa adoção, além da nomeação de um conselho
para assessorar Dom Pedro, que ficaria no Brasil como príncipe regente. O rei
aceitou a primeira exigência e prometeu pensar na segunda.
No
entanto, os ânimos se exaltaram na Praça do Comércio, com boatos de que tropas
iriam atacar o local e que o grupo de cinco pessoas teria sido detido. Apenas à
meia-noite o quinteto retornou do Palácio e o clima se acalmou. Contudo, os
manifestantes resolveram eleger uma Junta de Governo, além dos deputados às
Cortes, processo que terminou às 4 horas da manhã. Diante do prolongamento,
tropas lideradas pelo comandante português Jorge Avilez cercaram a Praça do
Comércio às 5 horas, e atacaram a tiros e baionetas quem estava por lá. O
número de mortos é incerto (de um a trinta), e o número de feridos, também.
Pela manhã, Dom João anulou a adoção da Constituição Espanhola e emitiu um
decreto estabelecendo os poderes do príncipe, sem o conselho.
Avilez,
nos meses seguintes, entraria em choque com Dom Pedro, pois acreditava que a
sua tropa deveria ser tutora do príncipe. Em julho, exigiu que ele jurasse as
bases da Constituição e nomeasse uma Junta de Governo. Em outubro, mobilizou
suas tropas para que fossem cumpridas as ordens vindas de Lisboa.
Em
9 de janeiro de 1822, Dom Pedro declara que permaneceria no Brasil, mesmo após
as Cortes solicitarem seu retorno (Dia do Fico). No dia 11, Avilez reúne dois
mil soldados no Morro do Castelo e organiza um movimento com o objetivo de
depor Dom Pedro, anular seus poderes e exigir sua fidelidade a Portugal. Houve
quebra-quebra e tumulto generalizado entre apoiadores dos lusitanos e da
independência. Durante as negociações, Avilez transfere a tropa para Niterói,
onde permaneceu buscando reforços. Porém, são cercados e depois de alguns dias,
se rendem e retornam a Portugal. Sem uma força militar no seu encalço, Dom
Pedro estava livre para se dedicar a costurar as alianças que selariam a
independência do Brasil, na qual o Rio de Janeiro teria um papel central, e,
posteriormente, capital do Império.
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