O
século que antecedeu à independência em São Paulo foi de grande crescimento
populacional e produtivo, relacionado ao fornecimento de gêneros de
subsistência para as Minas Gerais. Além disso, a lavoura de açúcar ocupou papel
importante na economia paulista. Esse processo foi acentuado com a chegada da
Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, e com o início da produção de café
no Vale do Paraíba.
A
Revolução do Porto instaurou Juntas de Governo nas províncias, com o objetivo
de limitar o poder do rei. A primeira Junta em São Paulo foi aclamada em 23 de
junho de 1821, sendo presidida pelo último governador, João Carlos Augusto de
Oyenhausen. Seu vice-presidente era José Bonifácio de Andrada e Silva; e o
secretário do Interior era Martim Francisco Ribeiro de Andrada, além de outros
cargos. Seus membros tinham destaque entre grupos de produtores e negociantes,
e a maioria se envolveu na política imperial após a independência. Seus membros
reunidos nunca se mostraram hostis ao governo de Dom Pedro, mas pretendiam agir
com autonomia, mantendo liberdades que tinham anteriormente e, inclusive,
discutir atos do príncipe.
Porém,
a Junta paulista nunca foi soberana na província. Em maio de 1822, ocorreu um
movimento que ficou conhecido como “Bernarda de Francisco Inácio”, que opôs o
grupo liderado por Martim Andrada e o grupo liderado por Francisco Inácio de
Sousa Queiros. Esses conflitos teriam ensejado a movimentação de parte da
tropa, culminando na expulsão de Martim da Junta em 23 de maio de 1822.
Constantes confrontos entre autoridades estabelecidas na cidade de São Paulo e
nas vilas de Santos e Itu, inclusive a insubordinação das tropas instaladas em
Santos em 1821 e a tentativa da Câmara de Itu de formar uma Junta de Governo
própria em 1822, indicam a dificuldade na manutenção da união entre grupos de
interesse das diversas localidades.
Durante
os meses que precederam o Grito do Ipiranga se estabeleceu um complexo processo
de acordos e alianças entre Dom Pedro e grupos de poder fluminenses, mineiros e
paulistas, para que estes reconhecessem o Rio de Janeiro como centro político e
administrativo. O apoio a Dom Pedro não era consensual e foi conquistado
gradativamente através de garantias dadas às redes familiares e de negócios
destas províncias para que pudessem continuar com suas operações mercantis e
influência política com segurança e lucratividade.
A
primeira Junta de Governo paulista atuou até agosto de 1822, quando foi
dissolvida pessoalmente por Dom Pedro. Em seu lugar, o príncipe instituiu uma
junta provisória, liderada pelo bispo Dom Mateus de Abreu Pereira, que atuou
até janeiro de 1823. É nesse contexto que Dom Pedro estava quando recebeu
notícias da Princesa Leopoldina, de que as Cortes ordenavam seu retorno a
Portugal. E é ali que proclama o Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822,
marco simbólico da independência brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário