22.10.24

Goiás

 

Na época da independência, calcula-se que a província de Goiás tinha cerca de 63 mil habitantes, sendo pelo menos 26 mil escravizados. Vivia em constantes dificuldades financeiras desde o fim do ciclo do ouro, na metade do século XVIII. Tinha como capital a cidade de Goiás, anteriormente chamada de Vila Boa. Era dividida em duas comarcas: a comarca de Goiás e a comarca do Norte (ou de São João de Duas Barras), que, grosso modo, seria o atual estado do Tocantins. Essa divisão traz a particularidade da independência brasileira nesta região do país.

Mesmo sendo um dos territórios de mais difícil acesso da América Portuguesa as notícias da Revolução do Porto e das Cortes ali chegaram. Em 26 de abril de 1821, foram juradas as bases da Constituição. Em agosto, foram eleitos os dois deputados que a província tinha direito às Cortes. Uma semana após a eleição, em 14 de agosto, houve a tentativa de depor o capitão-general Manoel Inácio de Sampaio. Essa tentativa foi controlada, e seus envolvidos foram expulsos da capital da província.

Dias depois, em 14 de setembro, instalou-se um governo provisório em Cavalcante, que redundou no Movimento Autonomista da Comarca do Norte. Este defendia a separação da Comarca do Norte do restante da província de Goiás. Os insurgentes estimulavam o ressentimento dos habitantes do norte contra os do sul goiano, devido a razões fiscais, prometiam abolição dos tributos sobre mercadorias, e acenavam com o aumento do salário dos militares. Porém, o movimento não era unido, e os conflitos internos logo apareceram. Houve um pedido por parte do deputado Teotonio Segurado, líder do movimento autonomista, às Cortes de Lisboa, para a separação das duas comarcas e a criação de uma nova província, mas que não chegou a ser analisado

Enquanto isso, na cidade de Goiás, a chapa estava quente. Se constituiu uma Junta de Governo, conforme previam as Cortes de Lisboa, mas ninguém parava no cargo de presidente. No dia 1º de abril de 1822, a Junta manifestou apoio à decisão de Dom Pedro de permanecer no Brasil (Dia do Fico) e saudava a união do Reino Unido Português. Com o tempo, as dissensões foram sendo solucionadas e a câmara de vereadores de Goiás passou a defender a causa da independência brasileira.

Em 15 de novembro de 1822, a Junta de Governo de Goiás envia Luiz Gonzaga de Camargo Fleury para a Comarca do Norte, para promover a adesão à independência e reunificar a província. Os conflitos internos entre os insurgentes, sobretudo no que tange à escolha da capital, facilitaram o trabalho de Fleury. Em abril de 1823, ele informa que seu trabalho havia sido concluído e que a província estava reunificada.

No mesmo período, Dom Pedro envia Raimundo José da Cunha Mattos, para garantir a adesão de Goiás à independência. Havia um temor do governo imperial de que o norte goiano se unisse com suas províncias vizinhas, como Pará, Maranhão, Piauí e Bahia, que se mantinham fieis à Lisboa. Porém, os líderes do governo do norte já haviam declarado apoio ao Brasil. No entanto, queriam que Dom Pedro separasse o Norte do Sul.

Mas o imperador não atendeu a esse desejo. Em 21 de junho de 1823, ele desautoriza o governo provisório do norte goiano. Dessa forma, Goiás fica unido, mas os ressentimentos seguiram por muitos anos. O sonho dos nortistas só se concretizou em 1988, com a criação do estado de Tocantins.

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