Na
época da independência, calcula-se que a província de Goiás tinha cerca de 63
mil habitantes, sendo pelo menos 26 mil escravizados. Vivia em constantes
dificuldades financeiras desde o fim do ciclo do ouro, na metade do século
XVIII. Tinha como capital a cidade de Goiás, anteriormente chamada de Vila Boa.
Era dividida em duas comarcas: a comarca de Goiás e a comarca do Norte (ou de
São João de Duas Barras), que, grosso modo, seria o atual estado do Tocantins.
Essa divisão traz a particularidade da independência brasileira nesta região do
país.
Mesmo
sendo um dos territórios de mais difícil acesso da América Portuguesa as
notícias da Revolução do Porto e das Cortes ali chegaram. Em 26 de abril de
1821, foram juradas as bases da Constituição. Em agosto, foram eleitos os dois
deputados que a província tinha direito às Cortes. Uma semana após a eleição,
em 14 de agosto, houve a tentativa de depor o capitão-general Manoel Inácio de
Sampaio. Essa tentativa foi controlada, e seus envolvidos foram expulsos da
capital da província.
Dias
depois, em 14 de setembro, instalou-se um governo provisório em Cavalcante, que
redundou no Movimento Autonomista da Comarca do Norte. Este defendia a
separação da Comarca do Norte do restante da província de Goiás. Os insurgentes
estimulavam o ressentimento dos habitantes do norte contra os do sul goiano,
devido a razões fiscais, prometiam abolição dos tributos sobre mercadorias, e
acenavam com o aumento do salário dos militares. Porém, o movimento não era
unido, e os conflitos internos logo apareceram. Houve um pedido por parte do
deputado Teotonio Segurado, líder do movimento autonomista, às Cortes de
Lisboa, para a separação das duas comarcas e a criação de uma nova província,
mas que não chegou a ser analisado
Enquanto
isso, na cidade de Goiás, a chapa estava quente. Se constituiu uma Junta de
Governo, conforme previam as Cortes de Lisboa, mas ninguém parava no cargo de
presidente. No dia 1º de abril de 1822, a Junta manifestou apoio à decisão de
Dom Pedro de permanecer no Brasil (Dia do Fico) e saudava a união do Reino
Unido Português. Com o tempo, as dissensões foram sendo solucionadas e a câmara
de vereadores de Goiás passou a defender a causa da independência brasileira.
Em
15 de novembro de 1822, a Junta de Governo de Goiás envia Luiz Gonzaga de
Camargo Fleury para a Comarca do Norte, para promover a adesão à independência
e reunificar a província. Os conflitos internos entre os insurgentes, sobretudo
no que tange à escolha da capital, facilitaram o trabalho de Fleury. Em abril
de 1823, ele informa que seu trabalho havia sido concluído e que a província
estava reunificada.
No
mesmo período, Dom Pedro envia Raimundo José da Cunha Mattos, para garantir a
adesão de Goiás à independência. Havia um temor do governo imperial de que o
norte goiano se unisse com suas províncias vizinhas, como Pará, Maranhão, Piauí
e Bahia, que se mantinham fieis à Lisboa. Porém, os líderes do governo do norte
já haviam declarado apoio ao Brasil. No entanto, queriam que Dom Pedro
separasse o Norte do Sul.
Mas
o imperador não atendeu a esse desejo. Em 21 de junho de 1823, ele desautoriza
o governo provisório do norte goiano. Dessa forma, Goiás fica unido, mas os
ressentimentos seguiram por muitos anos. O sonho dos nortistas só se
concretizou em 1988, com a criação do estado de Tocantins.
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