16.8.22

Incendiar Borba Gato não é terrorismo

Porque homenagens à escravocratas como Borba Gato devem sumir do mapa – por Guilherme Soares Dias 

    Cerca de 50 pessoas colocaram fogo na estátua de Borba Gato, localizada na Praça Augusto Tortorelo de Araújo, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, neste sábado (24). Uma bandeira com os dizeres “Revolução Periférica” foi estendida em frente ao monumento inaugurado em 1963. A estátua de Borba Gato, do escultor Júlio Guerra, homenageia é um dos foi um líder bandeirantes responsável por ações violentas e escravização de indígenas e negros. 

    A retirada da homenagem à racistas e escravocratas veio à tona em várias cidades do mundo após a morte de George Floyd em maio de 2020. Em países como Bélgica, Inglaterra, Colômbia e Martinica estátuas de escravocratas já caíram. Aqui no Brasil, a debate sobre a retirada é endossado por especialistas e faz reparação histórica. “Quem não contou essas histórias? Por que não as fez, nem as faz? Quais mecanismos do saber atuam para apagar essas memórias? A retirada (de estátuas) também joga luz sobre as práticas de racismo hoje, nos convida a refletir sobre a quem pertence o espaço público, que figuras devem lá figurar (se é que alguma deve), que demais opiniões importam nesse debate antes reservado aos ‘especialistas’”, arma o curador de arte e antropólogo Hélio Menezes. 

    “Ao se retirar o monumento racista, se retira a autoridade discursiva dos que se dizem dele especialistas. Retira-se também a máscara de quem os defende – não nos enganemos – porque estão querendo defender é a si mesmos. E a seus próprios pedestais”, conclui Hélio Menezes. 

    Monumento é a memória que tem que ser preservada para o futuro, ressaltou o doutor em Filosofia e teoria do direito pela USP Silvio Almeida em sua participação no programa Roda Viva, da TV Cultura “Algumas estátuas marcam derrotas (do povo negro) e são continuidades da escravidão. O espaço público tem que ser reconfigurado. Retirar estátua é ato político. Revisionismo histórico é não querer que o fluxo da história siga seu rumo. Tem gente que chora por estatua, mas não chora quando morre um negro”, pontuou.

    No caso de São Paulo, uma das estátuas mais emblemáticas de homenagem aos bandeirantes: a de Borba Gato, que fica em Santo Amaro, na região sul, carrega ainda um outro problema. “Fato: a estátua de Borba Gato é mais feia do que Satanás chupando uma fruta-do-conde. Poucas coisas diminuiriam mais a FIB (Feiura Interna Bruta) de Santo Amaro do que uma discreta remoção da estátua e sua substituição por, sei lá, uma muda de ipê-amarelo”, como lembra o jornalista Reinaldo Jose Lopes.

    Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, e ex-vereador de SP ressalta que há “dificuldade de romper com a história oficial de São Paulo, construída sobre uma farsa, solidamente fincada no ideário dominante paulista”. “A exaltação dos bandeirantes é profunda e está presente em um variado espectro de elementos”, escreve. 

    O chamado “racismo urbano”, homenagem à figuras escravocratas e ou racistas, e o apagamento de heróis negros é presente na maior parte das cidades brasileiras. Um debate que a sociedade ainda precisa fazer e o poder público se rever. O Guia Negro, site que fundei, criou um abaixo assinado para retirar os monumentos racistas de São Paulo. A intenção é apoiar o projeto de lei / da deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL/SP). A intenção é proibir honrarias para escravocratas e para qualquer pessoa que tenha sido condenada por prática de crimes contra a humanidade, exploração do trabalho escravo e racismo. 

    Os monumentos são materiais da história. Eles são utilizados para documentar o passado das sociedades e dos povos, em contextos atravessados por disputas políticas em torno dos temas, personagens e abordagens que são incluídos na memória coletiva. Assim foi elaborada a história oficial do Estado brasileiro, que está baseada em narrativas excludentes em relação às experiências dos povos negros e indígenas. 

    Substituir estátuas, nomes de ruas, rodovias, praças e aeroportos é urgente. São Paulo, por exemplo, tem apenas uma estátua que homenageia uma mulher negra: a mãe preta, no Largo Paissandu, esculpida pelo mesmo Júlio Guerra. Ela não coloca as mulheres negras em lugar de heroísmo ou potência, mas de subserviência, reforçando um dos estereótipos dados a pessoas negras. 

    A estátua que homenageia Zumbi, por exemplo, é minúscula e passa quase despercebida na Praça Antônio Prado. Por isso, tirar a estátua de Borba Gato, que tem dez metros de altura, e homenagear heróis que representem a maioria da população brasileira, negra e indígena, é tarefa importante que deve ser assumida por governantes, empresas e sociedade. 

Guilherme Soares Dias é jornalista, consultor, organizador da Caminhada São Paulo Negra e fundador do Guia Negro. 

4.8.22

Escravidão na África

Revista Pambazuka - Em seu livro e em outras obras, o senhor desconstrói o mito de um sistema escravista africano que justificaria e legitimaria as formas de escravidão que deram origem aos tráficos. Qual era o conceito de "escravo" na África antes dos tráficos liderados por europeus e árabes?

Kabengele Munanga - Em primeiro lugar, a existência do chamado "escravo" não é razão para aceitar a escravidão. Em qualquer circunstância, a escravidão é uma instituição desumanizante e deve ser condenada. O homem nasce livre até que alguém o escravize. Portanto, o próprio conceito está errado. O correto é "escravizado", não "escravo". Não há uma categoria de escravo natural. Porém, esse conceito já está enraizado na literatura.

Em segundo lugar, o conceito de "escravo" vem de outra visão de mundo, diferente da africana. Como em outras sociedades, na África existia a categoria de cativos, que eram prisioneiros de guerra ou pessoas que cometiam algum delito na sociedade e eram levadas por outros grupos étnicos. Os homens trabalhavam como serventes dos reis, príncipes e guerreiros, enquanto as mulheres se tornavam esposas e reprodutoras das famílias reais. Todos os filhos dos cativos eram livres. Em outros casos, famílias penhoravam algum parente quando havia grandes calamidades. Esses parentes poderiam trabalhar em outras famílias temporariamente ou para sempre, caso sua família original não tivesse condições de adquiri-lo de volta. [...]

Essa categoria de cativo africano foi traduzida como escravo. Mas não o é, pois o sistema escravista pressupõe que os escravizados sejam bem mais numerosos que os senhores. [...] Muitos reis e príncipes colaboraram com o tráfico negreiro para outros continentes, capturando negros de outros grupos étnicos para vendê-los como escravizados. Mas este fato também não justifica a escravidão.

USP ONLINE. Nova legislação e política de cotas desencadeariam ascensão acadêmica e inclusão dos negros, diz professor. Pambazuka News, 2010. Disponível em: https://www.pambazuka.org/pt/security-icts/nova-legisla%C3%A7%C3%A3o-e-pol%C3%ADtica-de-cotas-desencadeariam-ascens%C3%A3o-econ%C3%B4mica-e-inclus%C3%A3o-dos Acesso em 04-08-2022

 

Responda:

1. Para Kabengele Munanga, por que o conceito de escravo é equivocado e deveria se utilizar o conceito de escravizado?

2. Como era a escravidão na África?

3. O que caracteriza um sistema escravista?


30.6.22

Incas - Fonte 6


“A palavra ​quipu​ [...]é uma palavra quéchua, que significa nó [...]. Quipu é um dispositivo de gravação de informações, organizado por meio de cordões coloridos e nós, compostos de fios de algodão ou lã, ocasionalmente fibra de animais andinos como a lhama e a alpaca, ou, embora não muito comum, feito de cabelos humanos. As cordas dos ​quipus​ eram dispostas de tal modo que há uma corda principal [na horizontal], chamada de cordão primário, a partir do qual muitos cordões pingentes são pendurados [na vertical]”.

“Os resultados do estudo indicam que os quipus incaicos representaram os principais instrumentos de registro e reporte da gestão tributária adotados pelo Império inca, tendo na figura dos quipucamayocs a responsabilidade pela sua confecção”.


SCHMIDT, Paulo​ and ​SANTOS, José Luiz dos​. O uso dos quipus como ferramenta de controle tributário e de accountability dos incas. Rev. bras. gest. neg. [online]. 2017, vol. 19, n. 66, pp. 613-626. Disponível em ​http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-48922017000400613&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em: 18/2/2019.


Incas - Fonte 5

“Outro primor tiveram também os índios do Peru, que é o de ensinar-se a cada um desde moço nos ofícios necessários a um homem para a vida humana. Porque entre eles não havia oficiais especializados como entre nós, em alfaiates e sapateiros e tecelões, mas todos aprendiam a fazer tudo quanto em suas pessoas e casas precisavam, e proviam-se a si próprios... Outros ofícios, que não são para coisas comuns e ordinárias da vida humana, tinham seus próprios e especiais oficiais, como eram ourives e pintores e oleiros e barqueiros e contadores (contabilistas) e músicos; e mesmo nos ofícios de tecer e lavrar e edificar havia mestres para obras-primas, de que se serviam os senhores.
Mas o vulgo comum, como foi dito, cada um acudia ao que necessitava..., sem que pagasse a outro para tal..., para as coisas de casa e pessoa, como calçar e vestir e fazer uma casa e semear e colher e fazer as ferramentas e aparelhos necessários para isso. “

DE ACOSTA, Jose. História Natural e moral das Índias. ​In​: DE FREITAS, Gustavo. 900 textos e documentos de História. [​S. l.​]: Plátano, 2010

Incas - Fonte 4

INCAS: QUEM MANDA, QUEM OBEDECE

O caráter despótico da dominação está bastante claro nas seguintes palavras que o inca Atahualpa dirigiu ao conquistador Pizarro: "No meu reino, nenhum pássaro voa nem folha alguma se move, se esta não for minha vontade".
Nos postos mais elevados da hierarquia social e política, encontramos uma autocracia teocrática hereditária. O Inca, soberano supremo, é ao mesmo tempo uma divindade e transmite o poder a seus filhos. Na presença dele humilham-se até os mais altos e nobres dignatários, obrigados a apresentarem-se descalços, curvados e carregando um peso nas costas. Os direitos de vida e morte sobre seus súditos são absolutos, qualquer que seja o nível social deles.

POMER, Léon. Os Incas. In: História da América Hispano-Indígena. São Paulo, Global, 1983. pp. 32-34.

Observação: Note que a palavra inca se refere ao povo, e também era usada para denominar os diferentes soberanos desse povo, os Incas.

Incas - Fonte 3

 


Imagine um povoado nativo construído na serra andina a uma altitude de aproximadamente 3.000 metros, capaz de produzir basicamente milho e batata. Ora, esses alimentos, embora muito nutritivos, não eram suficientes para alimentar as famílias locais, que não dispunham de mais terras para outros cultivos. Assim, uma parte da comunidade deslocava-se de tempos em tempos para explorar os recursos de pastagens localizadas em outro “piso” das montanhas, a uma altitude de 4.000 metros. Outros membros da mesma comunidade da serra viajavam para as áreas mais baixas, aproveitando os recursos de um outro “piso”, localizado nas áreas mais quentes e úmidas, onde produziam a coca, o algodão e extraíam madeira. Movimentando-se pelos diferentes pisos ecológicos da região andina, os habitantes da montanha podiam compensar os rigores de viver em regiões tão altas e carentes de terras suficientes para que sobrevivessem. Assim, os andinos transformavam as limitações do clima e as restrições da terra em uma vantagem, deslocando-se para aproveitar recursos variados.

VIANA, Larissa. História da América. vol.1. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. p. 38


Incas - Fonte 2

Os incas eram extremamente religiosos. Decisões importantes eram precedidas de súplicas aos deuses, fossem para pedir sua bênção para as campanhas militares ou para a próxima colheita. O Sol e a Lua eram deuses cuja ajuda era humildemente solicitada. O Sol, como fornecedor de calor, era visto como amigo e, assim, a vida após a morte era vivida sob seu calor. Ao contrário, o inferno dos incas era um lugar gelado. O Sol era o deus masculino e dele o rei clamava sua descendência e, assim, governava por direito divino. O Sol regulava o calendário e, a cada ano, o dia de dezembro em que o Sol estivesse mais ao sul do Equador marcava o início do calendário inca. Portanto, seu ano começava sob clima quente, quase na mesma época em que o ano começava na Europa, sob clima frio.
(...) De todas as sociedades conhecidas do mundo anteriores aos últimos cem anos, os incas provavelmente vinham em primeiro lugar em sua atitude para com as mulheres. Elas não só tinham o direito de ter propriedades, mas também tinham o próprio deus poderoso: das duas principais divindades incas, a Lua era a deusa das mulheres, que lhe serviam como sacerdotisas. A Lua presidia a fertilidade das mulheres e as protegia durante o nascimento das crianças.
O sacrifício de animais, principalmente do porquinho-da-Índia e da valiosa lhama, era uma parte fundamental dos rituais religiosos. Para grandes acontecimentos como uma coroação ou a perigosa decisão de ir à guerra, exigia-se o sacrifício humano. Crianças de 10 a 15 anos, por serem consideradas mais puras que os adultos, geralmente eram as escolhidas. Para os pais, a escolha de seu filho era vista como uma honra.

BLAINEY, Geofrey. ​Uma breve história do mundo. 2. ed. São Paulo: Fundamento Educacional, 2008. pp.98-99.

Incas - Fonte 1

 
Nas montanhas dos Andes, instalou-se uma dominação próxima daquilo que geralmente denominamos de império. Quando os espanhóis se aproximaram da região andina, na década de 1530, os incas reinavam há algumas gerações sobre uma vasta área, chamada de “Império das Quatro Direções”, cujos domínios estendiam-se do atual Equador, ao Norte, até o Chile, ao Sul. (...) Os incas instalaram-se inicialmente no Vale de Cuzco, por volta do século XIII d.C., mas apenas no século XV (por volta de 1470 d.C.) começaram a estender seus domínios sobre outros territórios e povos da região andina, incorporando e cobrando tributos de centenas de grupos étnicos caracterizados por grande diversidade cultural e linguística.

VIANA, Larissa. ​História da América. vol.1. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. p. 36.

Documento - Administração Inca sobre outros povos indígenas:
(...) um senhor inca que governava dez mil famílias, e que vinha inspecioná-las uma vez por ano (...)se achasse que o senhor local ou uma autoridade menor era culpada de cinco faltas muito sérias como a de não ter obedecido ao que o representante real havia ordenado
ou a de ter querido rebelar-se
ou a de ter sido negligente no recolhimento e remessa do que era devido
ou a de não ter realizado os sacrifícios exigidos três vezes ao ano
ou a de ter ocupado as pessoas na tecelagem a seu próprio serviço
ou a de ter feito outras coisas que interferiam com o que deviam fazer e
por outras coisas semelhantes. 
Se cometesse cinco faltas, eles lhe tiravam seu cargo a davam-no a seu filho, se tivesse um capaz, e, se não, davam-no a seu irmão ou parente mais próximo (...)

ZÚÑINGA, Ortiz. La província de León. In: ​VIANA, Larissa. ​História da Américavol.1. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. p.41.

3.6.22

Revolta dos Malês


Porém, isso não adiantou muito. Em menos de 24 horas, a nossa revolta foi debelada, com cerca de 70 dos nossos mortos. Quatro de nossos líderes foram enforcados, outros foram açoitados em praça pública, e muitos de nós se converteram ao catolicismo com medo de perseguições futuras. Houve um aumento da repressão aos escravizados e negros em geral em Salvador, especialmente com o controle da circulação.

Revolta dos Malês

 

Durante meses nos reunimos secretamente em casas de Salvador, juntando armamento e organizando a revolta. Nesses meses, se destacaram três líderes: Pacífico Licutã, Manuel Calafate e Luis Samin. Quando pretendíamos nos revoltar, no final do mês sagrado do Ramadã, com o objetivo de acabar com a escravidão, o prefeito de Salvador recebeu a denúncia de um delator. Daí a polícia passou a fazer rondas e em uma casa, no dia 24 de janeiro de 1835, encontrou cerca de 60 pessoas. A partir daí houve uma luta entre os escravizados e a polícia, com armas de fogo e corpo a corpo. Alguns de nós conseguimos fugir e avisar outros companheiros de que haviam sido descobertos.

Revolta dos Malês

 

Em 1835, Salvador, capital da Bahia, tinha cerca de 65 mil habitantes. Destes, cerca de 26 mil eram escravizados, ou seja, cerca de 40% da população. Trabalhávamos em todas as atividades, das mais leves às mais pesadas, nas casas ou no campo. Muitos de nós não éramos nascidos no Brasil: viemos, a contragosto, da África Ocidental, região que hoje é Nigéria, Benin e Gana, escrevíamos e líamos em árabe e éramos muçulmanos. Não compactuávamos com o que acontecia nessas terras, e com as estratégias que eram utilizados pelos escravizados nascidos no Brasil para conseguir a liberdade. E por isso decidimos nos revoltar.

Revolta dos Malês

 

Olá. Meu nome é Luiza Mahin. Fiquei conhecida na posteridade sendo a mãe de um importante líder da campanha pela abolição da escravidão, chamado Luiz Gama. Porém, muito antes de meu filho ser um grande personagem de nossa história, participei de um movimento contra a escravidão, que passou à história com o nome de Revolta dos Malês. Malês significa muçulmano no idioma iorubá. Esta revolta ocorreu em 24 de janeiro de 1835, em Salvador.

Balaiada

 

Após iniciarmos a revolta, rapidamente tomamos conta de outras cidades. Tomamos a segunda principal cidade da província, Caxias, que se tornou nossa capital. A partir daí, o governo provincial viu que não estávamos para brincadeira e solicitou ajuda do Exército. Este enviou um jovem oficial para comandar as tropas, Luís Alves de Lima e Silva, que iniciou a repressão. Por conta disso, ganhou o título de Barão de Caxias. No nosso auge, chegamos a ter 12 mil soldados. A luta foi muito dura e durou quatro anos. Porém, como eram vários grupos e cada um tinha interesses diferentes, acabamos nos desunindo.

Ao final, os bem-te-vis tiveram em parte suas demandas atendidas, pois a nomeação dos prefeitos por parte do presidente da província foi revertida. Já os balaios receberam a anistia, mas precisaram combater ao final seus antigos aliados, os escravizados. Estes foram totalmente reprimidos. Assim, em 1841, se “pacificou a província”. Em 1842, o Negro Cosme foi executado, como exemplo para que ninguém mais ousasse se revoltar.

Balaiada

Eu, Raimundo Gomes, também conhecido como Cara Preta, não liderei esta revolta sozinho. Foram vários grupos que participaram do movimento, e cada um tinha o seu líder.

Eu e Manoel dos Anjos Ferreira, vulgo Balaio, fomos os líderes do grupo dos balaios. Balaio era o cesto típico existente na nossa província. Éramos sertanejos, uma população pobre que sofria com a pobreza e a expropriação de suas terras. Muitas vezes éramos recrutados de forma forçada para o exército, o que motivou o início da revolta.

Já o jornalista Lívio Castelo Branco era o líder do grupo dos bem-te-vis, que sofreu com as medidas centralizadoras do final do Período Regencial, em especial a nomeação dos prefeitos pelo presidente da província, que era cabano.

Já os escravos, é claro, buscavam sua liberdade. Eram liderados por Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme. 

Balaiada

 

A situação da província do Maranhão no final da década de 1830 era bem complicada. Passávamos por uma grave crise econômica, decorrente da queda dos preços do algodão, que sofria com a concorrência dos Estados Unidos. A pobreza era sentida pela população mais pobre. Na província havia uma luta política muito pesada, entre os conservadores (chamados de cabanos) e os liberais (chamados de bem-te-vis), que volta e meia provocava atritos e confusões armadas. Além disso, tínhamos uma presença marcante da escravidão, sobretudo nos latifúndios.

Balaiada

 

Olá. Meu nome é Raimundo Gomes. Eu era vaqueiro do padre Inácio Mendes de Morais Silva. Em 13 de dezembro de 1838, invadi a cadeia da cidade de Vila da Manga, no Maranhão, para libertar alguns recrutados para o exército. Mal sabia eu que estava iniciando mais uma revolta na conturbada década de 1830. Esta revolta ficou conhecida como Balaiada. Ocorreu nas províncias do Maranhão e do Piauí, durando pouco mais de três anos, entre 1838 e 1841. É esta história que venho aqui contar.

Sabinada

 

Eu sou Francisco Sabino. Era um médico muito renomado à época em Salvador. Eu tinha um grande amigo, que era advogado, que se chamava João Carneiro da Silva. Lideramos o movimento, que ficou conhecido como Sabinada. Em 7 de novembro de 1837, tomamos o forte de São Pedro e proclamamos a República Bahiense. Esta deveria durar até Dom Pedro II completar 18 anos. Porém, não estávamos muito unidos. Achávamos que íamos conseguir diversos apoios, como os dos senhores de engenho, mas todos falharam. Em março de 1838, as tropas imperiais retomaram Salvador. Os líderes foram presos e condenados à prisão perpétua.

Sabinada

 

Na Bahia da metade da década de 1830 a situação era bem complicada. Em 1835, já havia acontecido a Revolta dos Malês. As dificuldades econômicas da província eram muito grandes: era uma fase em que o açúcar perdia valor no mercado mundial, e o governo passara a incentivar o café como principal produto brasileiro. E os impostos cobrados sobre o açúcar iam quase todos para o governo central. Assim, acreditávamos que deveríamos ter maior autonomia política. Também estávamos revoltados contra o recrutamento de soldados para lutarem na Guerra dos Farrapos.

Sabinada

 

Olá. Meu nome é Francisco Sabino. Liderei uma revolta regencial que, curiosamente, acabou passando à história com o meu sobrenome: a Sabinada. Esta revolta ocorreu na província da Bahia, que tinha a capital em Salvador, e ocorreu entre os anos de 1837 e 1838. Eu vou contar para você um pouquinho do que tentamos fazer contra o governo central.

Cabanagem

 

Em janeiro de 1835, tomamos Belém e tiramos do poder o presidente da província, Lobo de Souza. Félix Malcher foi proclamado como presidente e criamos uma república separada do Brasil. Ainda tivemos os governos de Francisco Vinagre e Eduardo Angelim. Porém, estávamos desunidos, o que facilitou a repressão das tropas imperiais. Em abril de 1836, Belém é retomada para o Brasil. Porém, seguimos lutando no interior da província por mais quatro anos. Os cabanos, habitantes das margens dos rios e que deram nome à revolta, foram muito bravos. Calcula-se que cerca de 30 a 40% da população da província faleceu. Nenhum dos nossos sonhos foi realizado. Porém, entramos para a história.

Cabanagem

 

Eram muitas pessoas insatisfeitas com o que acontecia na província. Eu estava presente, mas não era o único. Tinha grandes amigos que estavam comigo, como os irmãos Vinagre (Antônio e Francisco) e o Cônego Batista Campos, que foram muito importantes no movimento. Porém, o grosso do movimento era de indígenas, mestiços, negros e brancos pobres. Reivindicávamos o fim da hegemonia política e econômica dos portugueses, maior autonomia para a província, a melhoria da condição de vida do povo e o fim da escravidão. Porém, a forma de se alcançar isso nos dividia. Não tínhamos um projeto de como tomar o poder e se manter nele.

Cabanagem

 

A situação no Grão-Pará era insustentável por volta de 1835. A província ocupava uma condição periférica no Império. Sentíamos que precisávamos de uma maior autonomia política. Muitos tinham um sentimento anti-português, pois mesmo após a independência muitos portugueses permaneceram por aqui e eram a maioria da elite local. Boa parte deles era comerciante e abusava nos preços dos produtos, o que deixava ainda mais pobre quem já era pobre. Já os indígenas viviam sob uma escravidão disfarçada, sob o mandonismo da elite local.

Cabanagem

 

Olá. Meu nome é Eduardo Angelim. Fui o líder de uma revolta regencial que ficou conhecida como Cabanagem. Esta revolta aconteceu na província do Grão-Pará, que atualmente é praticamente toda a região Norte do Brasil, cuja capital era Belém. Pegamos em armas contra o governo central entre 1835 e 1840. E eu vou contar um pouquinho para vocês de como foi esse movimento.

7.5.22

Maria Telkes

Ao final dos meus experimentos, o resultado foi um evaporador de água portátil feito de plástico e que funcionava com o calor do sol que removia o sal da água, transformava o líquido em vapor, resfriando-o e tornando a água salgada doce e própria para consumo. Minha invenção podia fornecer até 1 litro de água por dia. Logo, foi parar nas forças armadas dos Estados Unidos, salvando centenas de vidas durante a Segunda Guerra. 

Depois, foi aplicado nas Ilhas Virgens Americanas, que sofriam com a falta de água. Hoje, pode ser uma opção para fornecer água potável em áreas com pouca água doce, mas com muita salgada. Esse foi um dos meus primeiros estudos. Posteriormente, participei da construção da primeira casa com aquecimento solar, e de um forno solar. Por tudo isso, recebi a alcunha de “Rainha do Sol”.

Maria Telkes

A partir do que eu sabia anteriormente, passei a desenvolver protótipos para uma destilador portátil movido a energia solar. A guerra acaba fazendo os cientistas acelerarem vários processos, e este foi um deles. Havia a necessidade de ser um material leve, para que não pesasse muito nos kits de sobrevivência. Então, apareceu o plástico, leve e com possibilidade de ser moldado, muito melhor que o vidro.


Maria Telkes

Na Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos entraram na guerra no final de 1941. A partir daí, toda a produção do país foi voltada para os esforços militares. O exército encomendava às indústrias kits de sobrevivência, especialmente para aviadores e marinheiros. No entanto, havia um problema, em especial quando estavam sobre o oceano: caso acontecesse alguma tragédia com eles e ficassem à deriva no mar, como eles conseguiriam água?


Maria Telkes

Na Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos entraram no conflito ao final de 1941. A partir daí, toda a produção do país foi voltada para os esforços militares. O exército encomendava às indústrias kits de sobrevivência, especialmente para aviadores e marinheiros. No entanto, havia um problema, em especial quando estavam sobre o oceano: caso acontecesse alguma tragédia com eles e ficassem à deriva no mar, como eles conseguiriam água?

Maria Telkes

Sou Maria Telkes. Nasci em Budapeste, na Hungria, em 1900. Desde pequena tive muita curiosidade com a ciência. Assim, ingressei na Universidade de Budapeste, na qual fiz a formação em físico-química, me formando em 1920 e conquistando o título de doutora em 1924. Logo em seguida, me mudei para Cleveland, nos Estados Unidos, para trabalhar na Cleveland Clinic Foundation. No ano de 1937, conquistei a cidadania estadunidense e passei a trabalhar na empresa de eletricidade Westinghouse Eletric. Lá, fizemos uma parceria com o Massachussets Institute of Tecnology (MIT) entre 1939 e 1953, na qual fizemos muitas pesquisas sobre energia solar.


Marie Curie

Assim, percebi que havia diversos elementos que tinham a mesma característica e descobri uma nova lei da natureza: a lei da radioatividade. Nos anos seguintes, meu marido e eu fizemos novas pesquisas sobre a radioatividade, assim como outros cientistas que exploraram outros temas na área. Pierre descobriu que células formadoras de tumores eram destruídas quando expostas à radiação emitida pelo rádio. Nascia a radioterapia, utilizada para curar o câncer. Nos anos seguintes, nossas descobertas sobre o rádio e o polônio contribuíram para o aprimoramento dos raios-x. Fui a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel, em 1903. Posteriormente, eu mesma acabei descobrindo os efeitos da exposição prolongada aos elementos radioativos, desenvolvendo uma leucemia, que me deixou muito doente. 

Marie Curie

Eu passei a testar minha hipótese analisando dois minerais que continham o elemento urânio: a pechblenda e a torbenita. Desenvolvi uma técnica de laboratório que denominei de cristalização fracionada, ou seja, elevava o mineral a uma alta temperatura e depois o resfriava gradativamente. Usando o eletrômetro, percebi que a pechblenda era quatro vezes mais ativa que o urânio, e a torbenita, duas. Se a minha pesquisa anterior estivesse correta, deveria ter outro elemento com radiação ainda maior, pois não era possível que o elemento químico puro tivesse menos radiação que um mineral com o urânio. Entre 1898 e 1902, descobrimos dois novos elementos químicos. Um deles foi o polônio. Dei esse nome em homenagem à minha terra natal. O outro foi o rádio. Esses elementos emitiam bem mais radiação que o urânio. Com as minhas pesquisas e de outros cientistas, descobri que isso vinha da energia liberada pelo núcleo do átomo desses elementos em sua desintegração. Confirmei minha hipótese inicial.

Marie Curie

Então, eu desenvolvi uma hipótese, baseada nas minhas pesquisas anteriores e nas contribuições de outros cientistas. Eu pensei que a radiação não era resultado da interação das moléculas, mas vinha do próprio átomo. Assim, abri o caminho para pensar que o átomo era divisível.

Marie Curie

Em 1895, o alemão Wilhlem Roentgen descobriu os raios-x, porém não sabia qual era o processo que gerava esses raios. No ano seguinte, o francês Henri Becquerel descobriu que sais de urânio emitiam uma radiação que se assemelhavam aos raios-x, com alto poder penetrante, saindo do próprio elemento. Então, eu decidi investigar isso mais a fundo. Resolvi fazer testes com um eletrômetro, equipamento para medir a carga elétrica. Descobri que que os raios de urânio faziam com que o ar no entorno conduzisse eletricidade e que a atividade desses compostos dependia apenas da quantidade de urânio presente. Então, a questão era a seguinte: por que isso acontecia?


Marie Curie

Sou Marie Sklodowska. Nasci em Varsóvia, no que hoje é a Polônia, mas na época Império Russo, em 1867. Minha infância foi bastante difícil. Meus pais eram envolvidos com o movimento de independência da Polônia e foram perseguidos pelos russos. Assim, perderam boa parte da riqueza que haviam adquirido. Precisei do apoio de minha irmã para poder estudar. Trabalhei como governanta (empregada doméstica) em várias casas. Meu pai era professor de matemática e física. E rapidamente acabei me interessando por essas disciplinas. Como as universidades oficiais não aceitavam mulheres, me inscrevi na chamada Universidade Volante, uma instituição da resistência polonesa que aceitava mulheres, ao mesmo tempo que continuava como governanta. Em 1891, com o apoio de minha irmã, me mudei para Paris, onde estudei física, química e matemática na Universidade de Paris. Em 1894, conheci Pierre Curie. Começamos a trabalhar juntos, nos apaixonamos e um ano depois, nos casamos. Fiquei Marie Curie.

Guglielmo Marconi

Dessa forma, inventei o sistema de telégrafo sem fio, transmitindo mensagens em código Morse. Porém, eu tive que sair da Itália para poder levar minha descoberta adiante.  No ano de 1899, fiz uma transmissão entre a França e a Inglaterra, cruzando o Canal da Mancha (50 quilômetros). Em 1901, fiz a primeira transmissão interoceânica, entre a Inglaterra e o Canadá (3,5 mil quilômetros). Assim, permiti uma comunicação global sem fios, porém ainda sem voz. No ano de 1906, um outro cientista, Lee de Forest, aplicou minhas descobertas e inseriu uma válvula de três elementos, permitindo a transmissão de voz. Nascia o rádio. O que permitiu o desenvolvimento posterior, por exemplo, dos telefones celulares. Hoje, sou considerado o inventor do rádio.

No ano de 1909, graças ao sistema que desenvolvi, 1.700 pessoas foram salvas do naufrágio do navio Republic e, em 1912, 700 no Titanic. Como reconhecimento, recebi o Prêmio Nobel de Física e a satisfação de que minhas pesquisas foram importantíssimas para a humanidade.

Guglielmo Marconi

Em 1894, criei um laboratório na minha casa para testar algumas ideias que tinha. Planejei e apliquei conhecimentos desenvolvidos em pesquisas puras por outros cientistas, como Edouard Branly e Lee de Forest. Desenvolvi um equipamento com os seguintes elementos: uma bateria para fornecer eletricidade, uma bobina de indução para aumentar a força, uma faísca elétrica emitida entre duas bolas de metal gerando uma oscilação semelhante as ondas eletromagnéticas estudadas por Heinrich Hertz, e um tubo de material isolante com uma limalha metálica. Meu experimento, após vários testes, deu certo. Em 1897, consegui fazer uma transmissão de quatro quilômetros. Depois, fui adaptando o experimento, especialmente na potência dos transmissores e na altura da antena que emite os sinais, conseguindo aumentar as distâncias percorridas pelas ondas.



Guglielmo Marconi

Quando comecei a estudar o assunto, já havia uma série de descobertas sendo realizadas no campo da engenharia elétrica. Em 1888, o alemão Heinrich Hertz descobriu as ondas eletromagnéticas, que é o principal motivo para conseguirmos transmitir voz sem fios. Ao mesmo tempo que eu, Nikola Tesla tinha as mesmas preocupações. Então, passei a elaborar um experimento que permitisse a comunicação sem fios, convertendo as ondas eletromagnéticas em energia elétrica. 

Guglielmo Marconi

Na época em que iniciei minhas pesquisas o principal meio de comunicação utilizado para levar mensagens de um lugar para outro era o telégrafo. O telégrafo comunicava dois pontos por meio de cabos que transmitiam códigos, o chamado Código Morse. Porém, este meio de comunicação não funcionava com barcos, já que não havia como conectar fios a eles para manter uma comunicação. Então, comecei a pensar: como era possível realizar a comunicação dos barcos com a terra.

Guglielmo Marconi

Sou Guglielmo Marconi. Nasci em Bolonha, na Itália, em 1874. Eu gostava muito da minha família e tinha uma paixão muito grande pelo mar. Frequentemente ia para Livorno, um porto no Mar Tirreno, junto com minha mãe, Anna, para visitar minha irmã, que morava naquela cidade. Em Livorno havia uma academia da Marinha italiana. Meu pai queria que eu entrasse lá, mas nunca consegui. Eu gostava mesmo era de física e química, e por isso estudei na Escola Técnica de Livorno. Depois, ainda jovem, me formei na Universidade de Bolonha em engenharia elétrica.


Charles Darwin

Durante vários anos refleti sobre o que vi e li, e a partir daí desenvolvi a teoria da seleção natural das espécies. Durante todo o tempo, os seres vivos estariam lutando para sobreviver no meio ambiente. As espécies vão se adaptando ao ambiente na qual vivem, a partir de uma espécie original, e os que melhor se adaptam ao meio ambiente local sobrevivem e passam suas características a seus descendentes. No caso dos tentilhões, originalmente havia uma única espécie, a qual foi se adaptando em cada uma das ilhas por milhares de anos até chegar a sua forma atual. As que não se adaptaram, desapareceram. Assim, o Megatherium desapareceu na Patagônia por que não conseguiu se adaptar ao ambiente local.

Porém, só publiquei as minhas conclusões em 1859, no livro A Origem das Espécies. Minha teoria não foi bem aceita pelos religiosos, mas desde então pautou a ciência. No ano de 1871, apliquei a mesma teoria para a origem do ser humano no livro A Origem do Homem, na qual defendi que seres humanos e primatas tinham um ancestral comum. Mas nunca disse que o homem descende do macaco!

Charles Darwin

Minha pesquisa se dividiu em dois momentos: quando estive nas Ilhas Galápagos, fiz uma pesquisa de campo, observando atentamente os pássaros da ilha, suas características e como se relacionavam com o meio ambiente a seu redor. Ao mesmo tempo, eu coletava amostras de animais, plantas e rochas e as enviava para a Inglaterra no primeiro navio que encontrasse, para que meus amigos as analisassem. Quando voltei para casa, em 1836, passei a refletir sobre o que vi na viagem e os resultados das análises realizadas por meus amigos para tentar responder a pergunta que me veio à mente lá nas Galápagos.

Charles Darwin

Quando cheguei nas Ilhas Galápagos, notei que cada uma das ilhas tinha um relevo e vegetação diferentes uma das outras. Ou seja, possibilidades diferenciadas de alimentação. Como estudei geologia nos meus tempos de estudante, pensei comigo mesmo em uma hipótese: o bico dos tentilhões de cada uma das ilhas só pode ser diferente por conta do ambiente ecológico distinto de cada uma delas. Assim, os animais eram parecidos, mas tinham características diferentes pois se adaptavam ao meio.

Charles Darwin

Quando estava passando pela Patagônia argentina, encontrei fosseis de mamíferos extintos, como o Megatherium (um tipo de preguiça gigante) perto de conchas recentes. O que indicava que houvera extinções de animais nem tão recentes sem qualquer indício de catástrofes naturais. Também na Patagônia encontrei duas espécies de emas completamente diferentes, uma com pescoço comprido, e outra, com pescoço curto. Quando passei pelas Ilhas Galápagos, no Equador, encontrei diversas espécies de pássaros, chamadas de tentilhões. Porém, notei que em cada uma das ilhas o bico deles era diferente. Então pensei: por que existem espécies de animais que são parecidas, mas que tem características diferentes, e por que existem animais que não existem mais?

Charles Darwin

Sou Charles Darwin. Nasci em Shrewsbury, Inglaterra, em 1809. Desde cedo, gostei de História Natural. Com 17 anos, fui para a Universidade de Edimburgo, na Escócia, o melhor curso de medicina do Reino Unido. Mas não gostei de como se fazia cirurgia à época: os médicos eram muito grossos. Daí não quis fazer as aulas práticas e larguei o curso. Porém, lá aprendi muito sobre taxidermia, ou seja, a conservação de animais para expô-los em museus. Meu pai não gostou muito disso e me mandou para uma outra universidade, pensando que eu seguiria a carreira religiosa. Em Cambridge, aprendi geologia e tive contato com outras pessoas, que me propuseram uma viagem ao redor do mundo. Em 1831, entrei a bordo do HMS Beagle.

Louis Pasteur

Assim, pude concluir que aquecendo elementos possivelmente contaminados, sejam sólidos ou líquidos, e os resfriando rapidamente, eram eliminados os micro-organismos que causavam doenças. Posteriormente, este método levou o nome de pasteurização, em minha homenagem. Entre outras utilizações, é empregado em hospitais, para esterilizar instrumentos cirúrgicos, e na tecnologia de alimentos, para eliminar bactérias e dar maior validade aos alimentos (ex: leite). A teoria que se acreditava antes de eu fazer os experimentos estava errada.

Mais adiante, em 1873, defendi na Academia de Ciências da França que a maioria das doenças contagiosas e infecções são causadas por micro-organismos. Assim, era necessário descobrir o micróbio responsável por cada uma delas para se determinar uma forma de combate-lo. Nascia a microbiologia. 

Louis Pasteur

Analisei frascos de vinho e de cerveja em diversas fases do processo de fermentação. Por meio da análise em laboratório, consegui perceber que as leveduras eram responsáveis pelo processo de fermentação das bebidas e que diferentes micro-organismos contaminavam o vinho e a cerveja, produzindo sabores nada agradáveis. No caso do vinho, era especificamente a levedura Mycoderma aceti.

Então, como impedir isso? Fiz um outro experimento, me aproveitando de estudos que já havia feito antes, aquecendo esses frascos. Notei que esses micro-organismos desapareciam quando eu aquecia esses líquidos a uma temperatura de 60 graus, que é menor que o ponto de ebulição da bebida e mantinha as suas propriedades. Depois, resfriava os frascos rapidamente.


Louis Pasteur

Então, pensei com minha cabeça. Como já estudava a questão dos micro-organismos e das bactérias, pensei em testar uma teoria que existia na época de que a fermentação da cerveja e do vinho ocorria por meio de decomposição dos elementos presentes nestas bebidas.

Louis Pasteur

No ano de 1862, alguns industriais da região de Lille chegaram para mim e relataram um problema grave. Os vitivinicultores e cervejeiros comentavam que o vinho e a cerveja azedavam com muita frequência, sendo que o vinho se transformava em vinagre. E eles não sabiam o porquê isso acontecia, já que aplicavam todos os melhores métodos possíveis. Então, passei à investigação.

Louis Pasteur

Sou Louis Pasteur. Nasci em Dole, França, em 1822. Eu não gostava lá muito de estudar. Nunca fui um aluno muito aplicado, nem na escola, nem na universidade. Gostava muito de pintar, mas aos 19 anos me despertei para minha grande paixão: a carreira científica. Com 25 anos, me formei na Escola Normal Superior de Paris. Após, estudei o ácido tartárico, muito importante no vinho. Trabalhei nas Universidades de Estrasburgo e de Lille, na França. 

Carlos Chagas

Dessa forma, identifiquei uma nova doença, a qual levou o meu sobrenome: Doença de Chagas. Consegui identificar quem a causava (protozoário Trypanosoma cruzi), quem a transmitia (barbeiro) e seus sintomas e complicações. A partir daí, pode-se pensar em formas de prevenção da doença, como a aplicação de inseticidas e o desenvolvimento de medicamentos, além de pesquisas para descobrir outros sintomas, como arritmia cardíaca e complicações no sistema digestivo.

Carlos Chagas

Assim, passei a examinar o sangue de animais no laboratório que montei junto ao canteiro de obras da ferrovia. Ali, achei uma espécie de protozoário, a qual denominei de Trypanosoma cruzi, dentro do intestino do barbeiro. Como meu laboratório era precário, enviei alguns barbeiros para o Rio de Janeiro, para que Osvaldo Cruz os analisasse. Lá, ele colocou os barbeiros para picar macacos de laboratório. Um mês depois, já eu estando na capital, os macacos estavam com o protozoário. Voltei a Lassance e como sabia que o barbeiro estava nas casas das pessoas, pela maioria das casas serem de barro, comecei a analisar o sangue das pessoas. No dia 23 de abril de 1909, identifiquei o protozoário em uma menina de dois anos, chamada Berenice, que tinha febre, anemia e inchaço no miocárdio. 

Carlos Chagas

Eu tinha o costume de conversar com os meus pacientes. Um deles me relatou que havia um inseto muito comum na região, que não era o inseto que transmitia a malária, e que costumava se alimentar de sangue humano. Esse inseto era chamado de barbeiro, pois costumava picar o rosto das pessoas à noite. Fiquei intrigado e comecei a formular a hipótese de que era esse inseto que transmitia essa doença desconhecida.

Carlos Chagas

Em 1907, me enviaram para uma cidade chamada Lassance, no interior de Minas Gerais, para combater uma epidemia de malária em trabalhadores que construíam uma ferrovia. Porém, os pacientes que chegavam até mim reclamavam de outros sintomas que não os que eram comuns para a malária: reclamavam de um baticum no peito, febre, falta de apetite, mal-estar e inchaço no corpo. Então, não podia ser malária. O que poderia ser, então?

Carlos Chagas

Sou Carlos Chagas. Nasci no interior de Minas Gerais, na cidade de Oliveira, em 1879. Meu tio, Carlos, era formado em Medicina e me incentivou a seguir a carreira médica. Estudei na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, depois de muito convencer minha mãe, que queria que eu estudasse engenharia em Ouro Preto. Na capital do país, tive contato com importantes nomes da medicina, como Miguel Couto e Osvaldo Cruz, que me incentivaram a estudar uma doença chamada malária. Em 1904 me formei e no ano de 1905 liderei minha primeira campanha contra essa doença, numa cidade chamada Itatinga, em São Paulo. Meu trabalho foi reconhecido no mundo inteiro.

3.5.22

Hino Nacional do Uruguai

Orientais, a pátria ou a tumba,
Liberdade ou com glória, morrer!

É o voto que a alma pronuncia,
E que, heroicamente, cumpriremos!
É o voto que a alma pronuncia,
E que, heroicamente, cumpriremos!

Liberdade, liberdade, orientais!
Este grito salvou a pátria.
Que sua bravura em batalhas ferozes
De sublime entusiasmo inflamado.

Este dom sagrado, de glória
nós merecemos: tiranos tremei!
Tiranos tremei!
Tiranos tremei!

Liberdade na batalha vamos chorar,
E ao morrer, liberdade vamos gritar!
Liberdade na batalha vamos chorar,
E ao morrer, liberdade vamos gritar!

Orientais, a pátria ou a tumba,
Liberdade ou com glória, morrer!

É o voto que a alma pronuncia,
E que, heroicamente, cumpriremos!

É o voto que a alma pronuncia,
E que, heroicamente, cumpriremos!


13.4.22

Iorubás

 

Nas terras da África Ocidental, na região do baixo rio Níger, próximo ao Oceano Atlântico e ao sul dos reinos do Sahel, viveram os iorubás. Eles constituíram uma civilização marcadamente urbana. A força econômica das cidades vinha sobretudo do comércio. Seus comerciantes (homens e mulheres) circulavam por terra e pelos rios da região em canoas carregadas de produtos da floresta (peles de leopardo, pimenta, marfim, noz de cola), além de objetos de couro, metal e marfim confeccionados por seus artesãos.

Entre as principais cidades estavam Ifé, Keto e Oyó. Ifé era considerada a cidade sagrada, a capital religiosa, vista por eles como o umbigo do universo, onde tudo começou. Cada cidade tinha um chefe local, o Oni, responsável por administrar a cidade, distribuir a justiça e promover os cultos religiosos. O Oni de Ifé era denominado Obá, chefe principal dos iorubás, que tinha ascendência sobre os governantes das demais cidades, mas não interferia na sua administração. As cidades eram organizadas em torno do culto a divindades relacionadas às forças da natureza e ao passado mítico das dinastias reais, como Ogum e Xangô.

Por volta do século XII, ao sudoeste de Ifé, se formou o Reino do Benin, que seguiu o modelo de governo de Ifé. Seu governante tinha que ir a Ifé para ter reconhecido seu poder pelo Obá. O comércio era a principal fonte de riqueza do reino. Quando os europeus iniciaram as Grandes Navegações, no século XV, foi este reino o que encontraram e fizeram importante aliança, para obtenção de seres humanos escravizados. Com o tempo, a sua capital, Benin, se tornou a cidade mais importante da região.

Os iorubás produziam esculturas atraentes e realistas, como cabeças humanas feitas em bronze e em tamanho natural, utilizando materiais como argila, cobre, bronze, madeira e marfim. A arte de matriz iorubá atingiu um grande nível de excelência, levando influência para a América (especialmente Cuba e Brasil) e com o colonialismo do século XX sendo levada para museus europeus.




10.3.22

Conceitos sobre cultura

“A cultura possui tanto aspectos tangíveis – objetos ou símbolos que fazem parte de seu contexto – quanto intangíveis – ideias, normas que regulam o comportamento, formas de religiosidade”.

“A cultura não é estática, está em constante mudança de acordo com os acontecimentos vividos por seus integrantes e pelas transformações sociais”.

“um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação a vida” (Clifford Gertz)

“cultura é o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou comportamento natural”

“Cultura é criação”.

Para ajudar a pensar no conceito: a ideia de cultura está somente restrita ao que pensamos normalmente ser cultura?

Conceitos sobre sociedade

“Associação amistosa com outros” (conceito romano)

“A sociedade é uma condição universal da vida humana” (Eduardo Viveiros de Castro)

“A sociedade é uma associação de indivíduos” (Durkheim)

“A história das sociedades é a história da luta de classes” (Marx)

Para ajudar a pensar no conceito: o que faz a sociedade brasileira ser diferente, por exemplo, da sociedade argentina ou uruguaia? O que vocês já aprenderam em sociologia?

Conceitos sobre economia

“Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações” (Adam Smith)

“É um estudo da humanidade nos negócios da vida; examina a parte da ação individual e social que está mais intimamente ligada à conquista e ao uso dos requisitos materiais do bem-estar” (Alfred Marshall)

“Ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos” (Lionel Robbens)

“A ciência econômica está sempre analisando os principais problemas econômicos: o que produzir, quando produzir, em que quantidade produzir e para quem produzir”.

Para ajudar a pensar no conceito: relacionem com o que vocês já aprenderam em Introdução à Economia.

Conceitos sobre política

“A política é um mecanismo que tem por fim último a felicidade dos homens” (Aristóteles)

“Capacidade do ser humano de criar diretrizes com o objetivo de organizar seu modo de vida”

“Forma de fazer todos os indivíduos expressem suas particularidades e conflitos sem que este cenário seja transformado em desordem social”

“Resolução de conflitos [...] que expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos” (Schmitter)

“Ação organizada para atingir demandas sociais”

Para ajudar a pensar no conceito: qual é a finalidade da política?