28.6.21

Agostinha

Agostinha - São Paulo - Século XIX

Vários escravizados, sobretudo no século XIX, acionaram a justiça com ações de liberdade em que reivindicavam alforria. Reclamavam de castigos, das condições de trabalho e do cativeiro ilegal; porém muitos foram os cativos que ficaram submetidos às violências de seus senhores, sobretudo em áreas rurais. Mesmo quando faziam denúncias que podiam ir para imprensa e gerar processos criminais, os fazendeiros acabavam sendo inocentados. Ou nem chegavam a serem investigados pelas autoridades policiais.

Agostinha nasceu cativa no Brasil, no segundo quartel do século 19. Em 1857, o jornal Avassoyaba publicou queixas de Agostinha, que revelaram o cotidiano de violência numa fazenda de café localizada em Campinas. Segundo a escravizada, havia na fazenda um cemitério clandestino, denominado “cemitério de escravos assassinados”. Em face de tais acusações, a sociedade local se viu diante de um debate público. Agostinha afirmou ter fugido pois estava resolvida firmemente a suicidar-se antes do que para lá voltar.

As delações de Agostinha ganharam desdobramentos com novas investigações e mais denúncias anônimas. Castigos e mortes executados pelo feitor, com a total conivência de Barros Dias e de sua esposa, seriam - segundo algumas versões - provocadas pelo “medo senhorial” - pois diziam temer serem envenenados e acusavam a existência de feiticeiros entre os cativos da Fazenda.

As repercussões aumentaram. Em 1861 foi instaurada uma queixa-crime contra Barros Dias e sua esposa, Inácia Joaquina Duarte, e o feitor Eleutério de Andrade, que era ele próprio um escravizado. Estava em jogo o julgamento criminal e moral de um importante fazendeiro da região, além da possibilidade de intervenções jurídicas no poder senhorial. Barros Dias acabaria absolvido, mas a opinião pública provocou grandes constrangimentos aos senhores de Campinas - coração do mundo do café paulista.

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