Agostinha - São Paulo - Século XIX
Vários
escravizados, sobretudo no século XIX, acionaram a justiça com ações de
liberdade em que reivindicavam alforria. Reclamavam de castigos, das condições
de trabalho e do cativeiro ilegal; porém muitos foram os cativos que ficaram
submetidos às violências de seus senhores, sobretudo em áreas rurais. Mesmo
quando faziam denúncias que podiam ir para imprensa e gerar processos
criminais, os fazendeiros acabavam sendo inocentados. Ou nem chegavam a serem
investigados pelas autoridades policiais.
Agostinha
nasceu cativa no Brasil, no segundo quartel do século 19. Em 1857, o jornal Avassoyaba publicou queixas de
Agostinha, que revelaram o cotidiano de violência numa fazenda de café
localizada em Campinas. Segundo a escravizada, havia na fazenda um cemitério clandestino,
denominado “cemitério de escravos assassinados”. Em face de tais acusações, a
sociedade local se viu diante de um debate público. Agostinha afirmou ter
fugido pois estava resolvida firmemente a suicidar-se antes do que para lá
voltar.
As
delações de Agostinha ganharam desdobramentos com novas investigações e mais
denúncias anônimas. Castigos e mortes executados pelo feitor, com a total
conivência de Barros Dias e de sua esposa, seriam - segundo algumas versões -
provocadas pelo “medo senhorial” - pois diziam temer serem envenenados e
acusavam a existência de feiticeiros entre os cativos da Fazenda.
As
repercussões aumentaram. Em 1861 foi instaurada uma queixa-crime contra Barros
Dias e sua esposa, Inácia Joaquina Duarte, e o feitor Eleutério de Andrade, que
era ele próprio um escravizado. Estava em jogo o julgamento criminal e moral de
um importante fazendeiro da região, além da possibilidade de intervenções
jurídicas no poder senhorial. Barros Dias acabaria absolvido, mas a opinião
pública provocou grandes constrangimentos aos senhores de Campinas - coração do
mundo do café paulista.
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