Ângela e Geralda - Rio de Janeiro - Século XIX
As
experiências de duas mulheres escravizadas, Ângela e Geralda, são exemplos de
situações-limite vivenciadas em meio a esse mundo que a escravidão criou. Elas
mataram os próprios filhos. O ato extremo das duas foi considerado “crime de
infanticídio”.
Em
1842, morando na Glória, Rio de Janeiro, a cativa Ângela Maria, nascida em
Minas Gerais levou seus filhos até à praia, jogou-os ao mar querendo se
suicidar. A tentativa falhou e a Ângela foi julgada e absolvida. Em seu
depoimento admitiu: “eu atirei-me ao mar e não queria que eles ficassem
padecendo, por isso atirei-me junto com eles”. A justificativa para tal ato foi
a de ter sido acusada de roubo pela sua senhora, com ameaça de castigo e envio
à Casa de Correção.
No
mesmo bairro da Glória, em 1856, vivia a cativa Geralda, que tinha chegado do
Rio Grande, ainda grávida e fora vendida como ama-de-leite. Acusada do vício de
beber aguardente com erva-doce e de outras rebeldias, tentou matar seu filho.
Alegou no julgamento que sua senhora garantiu que ela seria “castigada, mandada
para a Casa de Correção, e de lá vendida sem seu filho”. Geralda declarou em
juízo que desejava “antes morrer com seu filho do que se separar dele''.
As
investigações de Lorena Telles nos apresentam dramas de mulheres como Ângela e
Geralda, que vindas de outras províncias foram levadas à força para o Rio de
Janeiro. Acabaram pois separadas de pais, mães, parentes e amigos. Além desse
trauma carregavam outro: o de serem castigados, e pior, vendidas ou presas e,
portanto, também serem afastadas de seus filhos. Diante de tantas separações o
infanticídio seguido pela tentativa desesperada de suicídio parecia a melhor e
única solução.
Nenhum comentário:
Postar um comentário