28.6.21

Ângela e Geralda

Ângela e Geralda - Rio de Janeiro - Século XIX

As experiências de duas mulheres escravizadas, Ângela e Geralda, são exemplos de situações-limite vivenciadas em meio a esse mundo que a escravidão criou. Elas mataram os próprios filhos. O ato extremo das duas foi considerado “crime de infanticídio”.

Em 1842, morando na Glória, Rio de Janeiro, a cativa Ângela Maria, nascida em Minas Gerais levou seus filhos até à praia, jogou-os ao mar querendo se suicidar. A tentativa falhou e a Ângela foi julgada e absolvida. Em seu depoimento admitiu: “eu atirei-me ao mar e não queria que eles ficassem padecendo, por isso atirei-me junto com eles”. A justificativa para tal ato foi a de ter sido acusada de roubo pela sua senhora, com ameaça de castigo e envio à Casa de Correção.

No mesmo bairro da Glória, em 1856, vivia a cativa Geralda, que tinha chegado do Rio Grande, ainda grávida e fora vendida como ama-de-leite. Acusada do vício de beber aguardente com erva-doce e de outras rebeldias, tentou matar seu filho. Alegou no julgamento que sua senhora garantiu que ela seria “castigada, mandada para a Casa de Correção, e de lá vendida sem seu filho”. Geralda declarou em juízo que desejava “antes morrer com seu filho do que se separar dele''.

As investigações de Lorena Telles nos apresentam dramas de mulheres como Ângela e Geralda, que vindas de outras províncias foram levadas à força para o Rio de Janeiro. Acabaram pois separadas de pais, mães, parentes e amigos. Além desse trauma carregavam outro: o de serem castigados, e pior, vendidas ou presas e, portanto, também serem afastadas de seus filhos. Diante de tantas separações o infanticídio seguido pela tentativa desesperada de suicídio parecia a melhor e única solução.

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