Ana Clara Maria Andrade, Deolinda e Isabel Maria da Conceição - Rio de Janeiro - Século XIX
“Mulheres capoeiristas no século XIX?”
Ironizando a cena, a edição do Jornal do Commercio de 29 de Janeiro de 1878
noticiava que algumas pretas tinham sido “presas por capoeiras” na Rua do
Riachuelo, no Rio de Janeiro, sob a acusação de serem “peritas na capoeiragem”
e com adjetivo de “destemidas”, foram detidas as mulheres negras livres Isabel
Maria da Conceição e Ana Clara Maria Andrade, juntamente com a escravizada
Deolinda. Segundo o jornal, elas estavam todas em “renhida luta”, desafiando
pedestres e, depois, as próprias autoridades.
Identificada
como pratica - luta, ritual e dança -
associada às grandes cidades atlânticas e à população negra, a capoeira
e seus “capoeiras” - homens e mulheres -
proliferaram no final do século XVIII e ao longo do século XIX , especialmente
no Rio de Janeiro, em Salvador e no Recife. Não se sabe de que modo essa
prática se desenvolveu e chegou a várias regiões do país, junto aos setores
livres e não negros, como imigrantes vivendo no Rio de Janeiro, por exemplo.
Até a década de 1850 mencionava-se a existência de uma capoeira escrava
praticada por africanos, sobretudo centro-ocidentais e pela população negra
livre. No último quartel oitocentista a atividade se espalhou com rapidez por
diversos centros urbanos, mobilizando pessoas livres, consideradas brancas e
mesmo letradas. No Rio de Janeiro havia muitos escravizados de ganho,
participantes do mercado de rua e de capoeiras.
Ainda
assim é difícil imaginar cenários em que mulheres quitandeiras podiam ser
também capoeiristas. Na época em que as “peritas” e “destemidas” mulheres
capoeiras foram presas, o Rio já era dividido em dois grandes grupos
(subdivididos em maltas) de capoeiras, exaltados em versos, suspeitos de uso
político no jogo eleitoral e celebrizados em alguns romances: nagoas e
guaiamuns. Infelizmente, porém, não conhecemos muito mais sobre as mulheres que
viraram notícia em 1878.
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