28.6.21

Ana Clara Andrade

Ana Clara Maria Andrade, Deolinda e Isabel Maria da Conceição - Rio de Janeiro - Século XIX

Mulheres capoeiristas no século XIX?” Ironizando a cena, a edição do Jornal do Commercio de 29 de Janeiro de 1878 noticiava que algumas pretas tinham sido “presas por capoeiras” na Rua do Riachuelo, no Rio de Janeiro, sob a acusação de serem “peritas na capoeiragem” e com adjetivo de “destemidas”, foram detidas as mulheres negras livres Isabel Maria da Conceição e Ana Clara Maria Andrade, juntamente com a escravizada Deolinda. Segundo o jornal, elas estavam todas em “renhida luta”, desafiando pedestres e, depois, as próprias autoridades.

Identificada como pratica - luta, ritual e dança -  associada às grandes cidades atlânticas e à população negra, a capoeira e seus “capoeiras” -  homens e mulheres - proliferaram no final do século XVIII e ao longo do século XIX , especialmente no Rio de Janeiro, em Salvador e no Recife. Não se sabe de que modo essa prática se desenvolveu e chegou a várias regiões do país, junto aos setores livres e não negros, como imigrantes vivendo no Rio de Janeiro, por exemplo. Até a década de 1850 mencionava-se a existência de uma capoeira escrava praticada por africanos, sobretudo centro-ocidentais e pela população negra livre. No último quartel oitocentista a atividade se espalhou com rapidez por diversos centros urbanos, mobilizando pessoas livres, consideradas brancas e mesmo letradas. No Rio de Janeiro havia muitos escravizados de ganho, participantes do mercado de rua e de capoeiras.

Ainda assim é difícil imaginar cenários em que mulheres quitandeiras podiam ser também capoeiristas. Na época em que as “peritas” e “destemidas” mulheres capoeiras foram presas, o Rio já era dividido em dois grandes grupos (subdivididos em maltas) de capoeiras, exaltados em versos, suspeitos de uso político no jogo eleitoral e celebrizados em alguns romances: nagoas e guaiamuns. Infelizmente, porém, não conhecemos muito mais sobre as mulheres que viraram notícia em 1878.

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