Timóteo- Bahia - Século XIX
A
trajetória de vida do cativo Timóteo, nascido provavelmente na Bahia, ficou
marcada pelo fato de que por ser letrado conseguiu escrever sobre o que pensava
a respeito das decisões que tomou.
Timóteo
aparece nos registros como "mulato". Residente em Salvador, era
escravizado da viúva Clara Joanna Rosa dos Santos. Apesar de contar com a
estima senhorial, acabou acusado de furto e ameaçado de ser vendido em praça
pública. Se isso acontecesse além da humilhação podia parar em fazendas
cafeeiras do Sudeste o que o afastaria de parentes e amigos na comunidade
escravizada urbana de Salvador.
Desesperado,
Timóteo arrumou uma arma e tentou suicídio em 1861, mas antes escreveu uma
carta na qual detalhou sua angústia, justificando a decisão de tirar a própria
vida. Pedindo “perdão” afirmava: "Há muito tempo que tenho desejo de não
existir, pois a vida me é aborrecida, porém não existindo não será mais, pois
quem pode viver sem ter desgostos que vá vivendo". E finalizou dizendo:
"as razões são outras, pois a sepultura será sabedora, e não este infame
lugar, digo: e não esta terra de vivos".
Se
por um lado eram raros os cativos letrados, não foram poucos os suicídios de
escravizados, principalmente nas cidades onde os casos eram anotados nos
registros policiais e noticiados pela imprensa. Enforcamentos, envenenamentos,
afogamentos e disparos de armas de fogo foram as maneiras escolhidas por
centenas de cativos para tirarem a própria vida. Também os casos de assédio,
humilhações e ameaças produziam atmosferas psicológicas terríveis no ambiente
do cativeiro. Castigos em troncos, gargalheiras, agressões frequentes e
continuadas, além das condições de trabalho aviltantes, formavam
situações-limites para Timóteo e outros.
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