28.6.21

Timóteo

Timóteo- Bahia - Século XIX

A trajetória de vida do cativo Timóteo, nascido provavelmente na Bahia, ficou marcada pelo fato de que por ser letrado conseguiu escrever sobre o que pensava a respeito das decisões que tomou.

Timóteo aparece nos registros como "mulato". Residente em Salvador, era escravizado da viúva Clara Joanna Rosa dos Santos. Apesar de contar com a estima senhorial, acabou acusado de furto e ameaçado de ser vendido em praça pública. Se isso acontecesse além da humilhação podia parar em fazendas cafeeiras do Sudeste o que o afastaria de parentes e amigos na comunidade escravizada urbana de Salvador.

Desesperado, Timóteo arrumou uma arma e tentou suicídio em 1861, mas antes escreveu uma carta na qual detalhou sua angústia, justificando a decisão de tirar a própria vida. Pedindo “perdão” afirmava: "Há muito tempo que tenho desejo de não existir, pois a vida me é aborrecida, porém não existindo não será mais, pois quem pode viver sem ter desgostos que vá vivendo". E finalizou dizendo: "as razões são outras, pois a sepultura será sabedora, e não este infame lugar, digo: e não esta terra de vivos".

Se por um lado eram raros os cativos letrados, não foram poucos os suicídios de escravizados, principalmente nas cidades onde os casos eram anotados nos registros policiais e noticiados pela imprensa. Enforcamentos, envenenamentos, afogamentos e disparos de armas de fogo foram as maneiras escolhidas por centenas de cativos para tirarem a própria vida. Também os casos de assédio, humilhações e ameaças produziam atmosferas psicológicas terríveis no ambiente do cativeiro. Castigos em troncos, gargalheiras, agressões frequentes e continuadas, além das condições de trabalho aviltantes, formavam situações-limites para Timóteo e outros.

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