Esperança Garcia - Piauí - Século XVIII
É
de Esperança Garcia o mais antigo documento supostamente escrito por um
escravizado, no caso escravizada, expressando as suas vontades, desejos e
expectativas. Trata-se de uma carta datada de 6 de setembro de 1770, depositada
no Arquivo Público do Piauí. Esperança Garcia era uma escravizada casada e que
trabalhava na Fazenda dos Algodões, que era dos jesuítas até que eles foram
expulsos do Brasil no final da década de 1760, e passou à administração da
Coroa Portuguesa, que sublocava a militares e grandes fazendeiros locais.
A
Fazenda dos Algodões era então administrada pelo Capitão Antônio Vieira do
Couto. Mas Esperança não dirigiu sua carta nem a ele nem ao vice-rei;
endereçou-a ao governador do Piauí. A cativa que àquela altura já tinha dois
filhos um de 3 anos e outro de 7 meses não queria se afastar de amigos e
parentes.
A
missiva indica várias das suas expectativas com relação ao trabalho, à família
e a formas de controle. Ela não queria mudar de fazenda e alegava que já fugira
algumas vezes, tendo sido castigada por isso. Dizia ainda que seu filho sofrera
“grandes trovoadas de pancadas” e que ela própria tinha virado um “colchão de
pancadas”. Reivindicava instrução religiosa e sacramentos.
O
principal motivo que a levara a fugir era mesmo de ordem familiar: ela queria
voltar para sua antiga fazenda, pois desejava viver com seu marido e batizar
sua filha. Mais nada ficou como registro de Esperança. O nome dela já
representava uma legenda naquele mundo de escravidão e da liberdade que ela
tentava conquistar.
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