28.6.21

Maria do Egito

Maria do Egito - Sergipe - século XIX

Maria do Egito nasceu no ano de 1828. Em Aracaju, em 1858, ela moveu um processo contra Evaristo José de Santana, seu senhor, no qual reclamava seu direito à alforria. Conforme mostra Luiz Mott, corajosa ela declarou nos autos que trocou sua virgindade pela liberdade. Além do mais, alegava que a relação de 14 anos que estabeleceu com seu proprietário era violenta por parte dele, que sempre adiava a sua prometida liberdade.

Na cidade o relacionamento entre a escravizada e Evaristo José era público, a despeito de ele ser casado. No entanto, para tentar disfarçar e como era costume, o proprietário tratou de arranjar um casamento entre a cativa e seu sobrinho, João Barbosa de Brito, de quem Maria acabou engravidando. Ao tomar conhecimento do fato, Evaristo rasgou a carta de alforria que tinha prometido e lavrado, e exigiu o retorno imediato da moça ao cativeiro. Não contente, bateu nela e lhe provocou o aborto. Foi nesse ambiente que Maria resolveu abrir um libelo civil pela liberdade e contra o arbítrio de seu senhor. A tese da Defesa era de que a escravizada já adquirira a liberdade por direito, independentemente da carta de alforria emitida por seu proprietário, uma vez que havia se deitado com seu senhor por muito tempo. A própria Maria do Egito, consciente de seus direitos, afirmou em juízo que, sob a promessa de libertar, deixou-se levar de sua virgindade por amor único de gozar deste maior bem que pode usufruir um ente humano - a liberdade.

O juiz de paz deu ganho de causa ao senhor. Esse episódio ilustra à perfeição uma situação que se repetia com muitas escravizadas em várias senzalas espalhadas pelo Brasil.

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