Maria do Egito - Sergipe - século XIX
Maria
do Egito nasceu no ano de 1828. Em Aracaju, em 1858, ela moveu um processo
contra Evaristo José de Santana, seu senhor, no qual reclamava seu direito à
alforria. Conforme mostra Luiz Mott, corajosa ela declarou nos autos que trocou
sua virgindade pela liberdade. Além do mais, alegava que a relação de 14 anos
que estabeleceu com seu proprietário era violenta por parte dele, que sempre
adiava a sua prometida liberdade.
Na
cidade o relacionamento entre a escravizada e Evaristo José era público, a
despeito de ele ser casado. No entanto, para tentar disfarçar e como era
costume, o proprietário tratou de arranjar um casamento entre a cativa e seu
sobrinho, João Barbosa de Brito, de quem Maria acabou engravidando. Ao tomar
conhecimento do fato, Evaristo rasgou a carta de alforria que tinha prometido e
lavrado, e exigiu o retorno imediato da moça ao cativeiro. Não contente, bateu
nela e lhe provocou o aborto. Foi nesse ambiente que Maria resolveu abrir um
libelo civil pela liberdade e contra o arbítrio de seu senhor. A tese da Defesa
era de que a escravizada já adquirira a liberdade por direito,
independentemente da carta de alforria emitida por seu proprietário, uma vez
que havia se deitado com seu senhor por muito tempo. A própria Maria do Egito,
consciente de seus direitos, afirmou em juízo que, sob a promessa de libertar,
deixou-se levar de sua virgindade por amor único de gozar deste maior bem que
pode usufruir um ente humano - a liberdade.
O
juiz de paz deu ganho de causa ao senhor. Esse episódio ilustra à perfeição uma
situação que se repetia com muitas escravizadas em várias senzalas espalhadas
pelo Brasil.
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